Imagens ruidosas: apontamentos sobre a arte digital e a estética do glitch

A estética do ruído será abordada em conferência realizada na terça-feira, 16 de agosto, às 20h, no Auditório Pe. Bruno Hammes, da Unisinos, campus São Leopoldo. O evento faz parte da Semana da Imagem na Comunicação 2016, que terá como tema Memória das Imagens, Imagens da Memória. A convidada da noite será a midiartista, professora e pesquisadora, da Universidade de São Paulo (USP), Giselle Beiguelman. Doutora em História Social, dedica-se atualmente a pesquisas na área de preservação da arte digital, do patrimônio imaterial e do design de interface.


O tema da palestra Imagens Ruidosas gira em torno de um de seus projetos atuais. O Glitched Landscapes é um hibrido, entre fotografia, vídeo e jogo, que se materializa na tela do computador diante da participação do usuário. Nele conflitam paisagens urbanas e o novo estatuto do audiovisual em rede. A artista descreve o Glitched Landscapes como “um convite para enfrentar paisagens, todas elas muito urbanas e experimentar sua desordem como paradigma essencial para a sua fruição”. Seguindo essa linha, sua exposição irá apresentar uma reflexão sobre estéticas do ruído, em particular o glitch, e os modos pelos quais dialogam com espaços fragmentados e as experiências que se tem das fraturas urbanas. Giselle acredita que estamos entrando em uma era em que “se vê com as mãos e pensa com os olhos”, e através do projeto busca compreender como isso altera nossas formas de percepção e regimes de olhar. Em seu site, Giselle disponibiliza suas experiências artísticas e lugares onde elas circulam.

Embora toda a sua formação seja na área da história, Giselle trabalha com criação e desenvolvimento de aplicações digitais desde 1996 e boa parte de seus livros e artigos publicados são nesta área. Essa ligação se fortaleceu quando integrou a equipe responsável pela implantação do Universo Online (UOL). É autora de seis obras, organizou outras nove e tem 37 contribuições com capítulos de livro. Destacam-se O Livro depois do Livro (Peirópolis, 2003), contemplado pela Bolsa Vitae de Artes da Fundação Vitae, Link-se: arte/mídia/política/cibercultura (Peirópolis, 2005) e o mais recente, Futuros Possíveis: Arte, Museus e Arquivos Digitais (Peirópolis, 2014).

Em mais de 30 anos de carreira, acumula 14 prêmios e distinções por suas produções artísticas e acadêmicas. Em 2014, foi convidada pelo The Webby Awards, Tim Berners-Lee, The World Wide Web Consortium e World Wide Web Foundation a integrar um grupo de 10 artistas internacionais para desenvolver os projetos artísticos nas celebrações dos 25 anos da Internet.

Seu trabalho também está ligado a intervenções em espaços públicos, projetos em rede e aplicações para dispositivos móveis, exibidos internacionalmente nos principais museus de arte e mídia, centros de pesquisa e espaços de arte contemporânea. Dentre os quais o ZKM (Karlsruhe, Alemanha), o Centro Pompidou, a Gallery@Calit2 (UCSD, EUA) e a Bienal de São Paulo.  A artista também trabalhou como curadora de importantes eventos ligados a arte e tecnologia, como o “Arquinterface: a cidade expandida pelas redes”, ocorrido em São Paulo no ano passado.

Pesquisas e conceitos

Dentro das linhas de pesquisa a que está vinculada, Giselle vem trabalhando com conceitos fundamentais para pensar o estágio tecnocultural atual. Os principais projetos em que esteve envolvida como coordenadora nos últimos 14 anos são “its/Bricks – Intervenções Urbanas em Redes de Telecomunicação”, Grupo de Pesquisa Net Art: Perspectivas Criativas e Críticas, “Imagem/Interface; “Paisagens midiáticas: As Redes Sociais de Imagens e as linguagens audiovisuais emergentes no campo da comunicação on-line”. Está em andamento atualmente o projeto “Emergência Tecnofágica – A arte digital brasileira dos anos 2000”, que tem como objetivo desenvolver metodologias específicas para dar conta de estudos das mídias eletrônicas digitais para contribuir com o avanço de pesquisas na área da arte digital no Brasil.

A relação do homem com a tecnologia também é tema frequente de suas pesquisas. Um dos conceitos pensados por ela é o de Cibridismo, que se refere ao fim da separação entre mundo online e off-line. Para ela já não é possível distinguir real e virtual. Na esteira de McLuhan, Beiguelman vai além da noção de meio como extensão do homem e afirma que o aparelho celular é responsável por uma ciborguização do humano e já faz parte da nossa percepção do mundo. Como Tecnofagia, a pesquisadora entende os usos críticos criativos da tecnologia como estética contrapondo aquilo que chama de “capitalismo fofinho” caracterizando as experiências digitais como infantilizadas, com cores e palavras que inspiram conforto.