Em meio à realidade atual e às incertezas que a pandemia do coronavírus causou, formam-se também questões referentes ao cinema, ou ao fim do cinema. Este assunto permeou a live O fim do Cinema?, ocorrido no dia 25 de junho e organizado pelo GT Cinema, fazendo parte da programação do projeto Lives Cátedra Intercom. A edição contou com os palestrantes convidados Talitha Ferraz (ESPM-RJ/UFF) e Pedro Butcher (ESPM-RJ) com mediação de Luiza Alvim (UFRJ) e Luiza Lusvarghi (Unicamp).
A palestrante convidada Thalita Gomes Ferraz fez uma abordagem arqueológica do assunto para encaminhar suas questões referentes ao fim do cinema, não se baseando somente no momento atual, e sim em questões que já vinham sendo abordadas por outros teóricos principalmente no que concerne a determinação real do fim do cinema. As provocações iniciais que Talitha apresentou para refletir sobre o assunto foram “Mas ele já existiu? Mas ele algum dia já deixou de existir?”
Para ela, essas questões também permeiam as discussões sobre o que é cinema, sendo que a partir delas se constituem perspectivas sobre seu desenvolvimento e que consequentemente acabam por revelar as suas crises identitárias. Ela observa que o cinema sempre passou por transformações, podendo ser narrativas, estética e tecnológicas, e que engendram cenários sobre a questão de seu fim a partir de sua própria história e desenvolvimento. Propõem, a partir dessa abordagem arqueológica, que não se pode afirmar que o cinema tem ou terá seu fim quando ele, uma tecnologia de época, de natureza híbrida e mutante, sempre esteve à beira de transformações. Nesse caso ele tem possibilidades de se transformar, mas não para terminar de fato e sim para se organizar em outras possibilidades sócio-técnicas.
Complementando a fala de Talitha, o palestrante Pedro Butcher também propôs uma perspectiva histórica sobre as principais crises do cinema. Dentre elas destaca a crise identitária relacionada ao som, aos cinejornais e a consolidação das emissoras de tv aberta, que resultaram na diminuição do público nas salas de cinema, na década de 70.
Pensando também em um viés mercadológico, econômico e mesmo estético, Pedro destaca que sua fala permeia a experiência da sala de cinema que para ele, a partir do isolamento social, rompe com as experiências coletivas presenciais e únicas que a sala de cinema proporcionavam. E nesse sentido, acaba por promover outro tipo de desfrute do audiovisual proporcionado pelo streaming, que já provocava o deslocamento da centralidade das narrativas de ficção dos longa metragens do cinema para as séries, e hoje, pelas restrições e distanciamento social e o consequente o fechamento de salas de cinema, acaba sendo cada vez mais valorizado. Pedro provoca a partir dessas situações se a experiência da sala de cinema sobreviverá. Será que a partir dessas novas crises, a experiência da sala de cinema vai ter dificuldade para ser retomada?
Para ele vai ser retomada, mas de uma forma diferente.
Outras formas de se pensar sobre o tema O fim do Cinema? também foram provocadas pelos participantes da live, que propuseram reflexões em relação às experiencias com outros formatos de grandes telas, mercado cinematográfico e como essas crises podem afetar o cinema nacional.
Em meio à essas e outras questões sobre o que é cinema, identidades, crises e experiências, além da pandemia, também podemos refletir para além da história da instituição cinematográfica, ou em uma mesma linha, o que suscitará às pesquisas das audiovisualidades durante e depois da pandemia?
Texto: Flóra Simon da Silva
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