No dia 29 de junho ocorreu o primeiro Seminário de Tese de 2020. O seminário tem por objetivo subsidiar teórica e metodologicamente os projetos da Linha de Pesquisa, promovendo a reflexão crítica sobre a pesquisa em Mídias e Processos Audiovisuais a partir dos problemas e objetos de investigação dos discentes.
A ocasião é uma preparação para as doutorandas e doutorandos, anterior a banca de qualificação, onde cada proposta é submetida à avaliação da estrutura da pesquisa, assim como das perspectivas teóricas e metodológicas
Nos textos submetidos ao Seminário 2020/1, as discentes Simone Barreto de Almeida e Roberta Fleck Saibro Krause discutem aspectos significativos da tecnocultura e nas formas como as audiovisualidades se atualizam em ambientes digitais.
Arquivamentos ruidosos de restos fílmicos silenciosos: No Paiz das Amazonas nos buscadores web – (Simone Barreto de Almeida)
Simone discute, a partir do filme No Paiz das Amazonas (Silvino Santos, 1922), questões relativas a memória e arquivo. A discussão parte da própria relação da autora com suas memórias, onde afirma que “montar o próprio arquivo é reunir parte do que foi e do que jamais se confirmará.” A partir de uma perspectiva relativa à montagem, ela entende que as mídias são arquivos e arquivamentos ao mesmo tempo. Ainda conforme a autora, “o tema do arquivamento, da memória fílmica, das diversas formas de arquivar e da mania de arquivar na tecnocultura contemporânea foi se tornando mais importante que o que o YouTube fazia com o filme em questão”.
Partindo de intersecções entre os estudos de mídia, fílmicos e tecnoculturais, com interfaces com a filosofia, história e psicologia, o trabalho possui uma visada arqueológica, problematizando questões relativas ao arquivamento, memória, apropriação e acesso a partir da apresentação dos rastros desse filme nos sistemas de busca na rede. As inquietações da autora são expostas em suas questões, como: o filme tem atravessado o tempo pelas sucessivas técnicas como memória, mas de qual memória falamos? Da Amazônia? Do cinema? Do filme de Silvino Santos? Da materialidade fílmica? Da memória dos arquivamentos? Da técnica que arquiva a memória fílmica? Da memória produzida pelo atual estágio da técnica?
A sua proposição de pergunta neste momento da tese é: como os buscadores na web se atualizam como arquivadores de memórias fílmicas no caso de No Paiz das Amazonas? Com isso, busca apontar a existência de diferenciais entre os buscadores e com isso possíveis diferenças no que se estabelece para o arquivo No Paiz das Amazonas. Para responder essa pergunta, a autora irá utilizar dos métodos de flânerie, cartografia, anarquivamento e coleções. Em seus movimentos iniciais de análise, observou a tela inicial do buscador Google e a estruturação que o mecanismo responde ao serem solicitadas informações sobre o filme.
Dentre as diversas discussões decorrentes do olhar de professores e colegas, foram apontadas questões e proposições como: pensar em um levantamento de como o cinema vem sendo arquivado pela web, em movimentos não institucionais de arquivamento do filme ou de frações do filme; como esse filme nos cria uma fricção com o presente que nos faz pensar sobre ele; como as mídias constroem a própria identidade da brasilidade; se a atualização nos buscadores está na perspectiva dos próprios buscadores ou dos usuários; o cinema não morre, se atualiza (e o trabalho da Simone enfatiza isso); a necessidade de pensar no processo histórico de forma arqueológica, em como a pesquisadora busca seus arquivos; e qual a diferença de buscar na web e buscar por métodos tradicionais?
O estado-vídeo na contemporaneidade: tecnocultura e apropriações audiovisuais nas redes sociais – (Roberta Fleck Saibro Krause)
Roberta discute as atualizações do conceito estado-vídeo nos sites de redes sociais, articulando estudos sobre audiovisualidades, tecnocultura, vídeo, imagens, memória e interfaces. O texto traz autores fundantes da linha de pesquisa, como Philippe Dubois, Arlindo Machado, Priscila Arantes, Sergei Eisenstein, Sonia Montaño, Gustavo Fischer, Suzana Kilpp, Vilém Flusser e Lev Manovich.
A autora encara o vídeo e suas atualizações a partir dos modos de agir em sites de redes sociais, como Facebook, Orkut, Reddit e Youtube, observando as relações entre hardware, software, interfaces, estéticas e apropriações, trabalhando com a relação entre imagem e fundo, trazendo o seguinte questionamento: como se atualiza o estado-vídeo nas redes sociais contemporâneas?
Para responder essa pergunta, se propõe a fazer uma série de procedimentos metodológicos, como: a flânerie pelas redes buscando perceber a presença do vídeo; a cartografia para identificar diferenças nas formas em que se atualiza; as explorações McLuhaninas de construção de uma ecologia – que contribuirão para uma desnaturalização do olhar, apontando uma série de elementos que compõem esse fundo em transformação; e a metodologia das molduras, que ajudará a estabelecer quais molduras produzem quais sentidos aos vídeos nas redes sociais.
Em sua análise preliminar, apontou algumas relações imagem fundo na interface do Facebook para a transmissão de vídeos ao vivo. Durante as discussões transcorridas após a apreciação do texto, podemos destacar: como o conceito de estado-vídeo vem sendo apropriado após Dubois; o que é essa live “selfieficada”? É uma televisualidade que está pronta? Ou é um movimento específico da própria web?; as vantagens de pensar em autores de fora da linha que possam tensionar e agregar ao pensamento da própria linha; o que mudou nesse fundo (cultural) que possibilita uma mudança nos regimes de audiovisualidades. Como o streaming, que já era um grande potencial, se atualiza a partir da mudança cultural e emerge como atualização?; a possibilidade de olhar para as novas metáforas visuais nas interfaces, a partir do design e das mutações a partir da experiência dos usuários; as dimensões da produção, armazenamento e compartilhamento (instâncias que os usuários interage com esse vídeo).
O Seminário de Tese ocorreu no formato online com as considerações dos professores Dr. Gustavo Daudt Fisher, Dra. Suzana Kilpp e Dr. Tiago Ricciardi Correa Lopes e comentários dos discentes integrantes do TCAv (Audiovisualidades e Tecnocultura: comunicação, memória e design).
Texto: Leonardo Andrada de Mello e Aline Corso
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