As transformações no cenário audiovisual e nas indústrias do entretenimento foram assuntos abordados na Live Plataformização da cultura – Os rumos do cinema online, promovida pelo Curso de Especialização em Produção de Conteúdo Audiovisual para Multiplataforma, ocorrida no dia 04 de julho. Os convidados André Piero Gatti (FAAP), Ântonio Celso Santos (FAM) e João de Lima (UFPB) e o moderador João Massarolo (UFSCAR) debateram sobre o futuro do cinema nacional e os possíveis caminhos que as plataformas de streaming estão trilhando para as produções audiovisuais. Consideraram o assunto a partir de reflexões sobre as políticas de incentivo governamentais, a migração das diversas mídias para as plataformas digitais e como isso pode influenciar o cinema nacional independente.
Para André Gatti, o capitalismo e sua convergência nos meios digitais apontam para uma monetização das mídias e das informações, perspectiva que não é somente tecnológica, mas passa por um viés político, econômico e social. Isso se dá a partir da algoritmização das nossas informações que são subsidiadas pelos meios digitais – incluindo as tecnologias 5G que para ele definem esse controle social, político e econômico. Para André essa nova realidade constitui transformações entre a produção, espectador, distribuição, consumo e recepção, assuntos que estão sendo abordados no meio acadêmico. Porém, analisando a situação das universidades brasileiras e os recursos da área cultural em relação às pesquisas de outras universidades, norte americanas por exemplo, poderão ser suprimidos e absorvidos por pesquisas e realidades exteriores à nossa, e consequentemente, as produções intelectuais, audiovisuais, artística e poéticas também serão – sendo este o ponto central na questão. Nesse caso, em que medida isso vai inibir a criação, a possibilidade de termos acesso a novos conteúdos e a novas realidades?
A fim de refletir sobre estas e outras questões, Celso Santos argumenta sobre os padrões promovidos pelos streamings como a Netflix – ou como as novas formas de assistir filmes – estão “sufocando” o cinema brasileiro e o quanto isso, inevitavelmente, leva a uma nova estética. Outra questão pontuada por Celso é o distanciamento da obra, tanto em relação ao cinema presencial quanto aos festivais de cinema, que proclama um novo leitor moderno, o qual assiste o seu filme no momento que quer, no conforto da sua casa. Essa dinâmica do online ainda não oferta conhecimentos completos sobre ela mesma e pode, voltando ao debate promovido por André Gatti, ficar subsidiada às produções criativas de outras academias, quando o Brasil carece de incentivos econômicos em suas produções.
João Gomes, em diálogo com Celso, também aborda os incentivos econômicos, mas volta-se principalmente aos festivais de cinema pois estes são mais acolhedores às produções experimentais brasileiras, visto a grande ocupação que as produções norte americanas têm nas salas de cinema. Assim, se a realidade do cinema nacional em salas de cinema já não era boa antes da pandemia, por que pensar que depois da volta do cinema presencial essa realidade vai mudar, no sentido físico, onde os grandes “players” dominam? Para João, esse fato leva à outra questão – qual o real espaço do cinema brasileiro e suas produções nas grandes telas? E por fim, como pensar na estética homogeneizante dadas pelas grandes plataformas streaming para o cinema presencial e as produções brasileiras?
Além das questões levantadas nesta live, outras reflexões foram pontuadas a partir dos formatos streaming: quando estes oferecem novas formas de leitura e quando seu consumo molda um novo espectador a partir dessa produção incessante, infinita de materiais audiovisuais, a ferramenta digital parece que vem para sustentar essa nova produção. Isso não quer dizer que o cinema presencial vai deixar de existir, pois é um crescimento em conjunto – a produção audiovisual está crescendo de todas as formas. Nesse caso, o que devemos pensar é o que essa nova estética, essa nova linguagem e esse novo consumo ofertará para o cinema e para o cinema independente brasileiro.
Texto: Flóra Simon da Silva
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