Para dar continuidade à série de matérias sobre os egressos do TCAv, cujo objetivo é criar uma memória dos membros e respectivas pesquisas que fazem parte da trajetória do nosso grupo, o convidado dessa semana é Vlademir Canella. Mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, na linha Mídias e Processos Audiovisuais entre 2014 e 2016, Vlademir tem um perfil eclético. Jornalista que já atuou como repórter, docente, fotógrafo e que hoje está empreendendo em Porto Alegre.
Em constante atualização
Jornalista formado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), com especialização em Marketing e comunicação pela ESPM-Sul (2013), Vlademir possui relação com as imagens técnicas anterior à faculdade de comunicação social. Já ensaiando suas habilidades de manuseio e cuidado com a câmera, através de uma experiência extremamente manual, foi laboratorista, profissional que revela fotos, de um jornal impresso ainda nos anos de 1990, onde processava os filmes e fotografias que seriam veiculados na mídia. “E, foi por aí que começou minha relação afetuosa pelo jornalismo e, principalmente, pelas imagens jornalísticas”.
A partir do curso de graduação, desempenhou a função de repórter fotográfico no Jornal Pioneiro (Grupo RBS), repórter cinematográfico na RBS TV e na Rede Record de televisão, foi fotojornalista, e professor de fotojornalismo na ESPM-Sul, exatamente num período que considera de profundas mudanças.
“No aspecto técnico, quando consideramos a mutação da linguagem analógica à digital e, no aspecto social, quando consideramos como essas mudanças influenciaram a sociedade, na prática. Com a internet, tudo passou a efêmero e volátil e os veículos de jornalismo já não se dão de grandes empresas em direção aos consumidores, mas, estão horizontalizados. Qualquer pessoa, em qualquer lugar, dotada de um aparelho conectado à internet, pode dispor do conteúdo on-line, em via de mão dupla – tanto consumindo quanto gerando – o que modifica as linguagens, a produção e as mídias pelas quais a comunicação se dá”, comenta Vlademir.
O despertar pela pesquisa acadêmica
Como fotojornalista, Vlademir habitou-se a observar as imagens técnicas como “recortes da realidade”, “como espelho do real” sem me dar conta de que, de fato, são conceitos da realidade e não a realidade em si.” Foi a partir desse sentimento que surgiu o interesse mais forte pela pesquisa acadêmica, para tratar o fotojornalismo como ponto de referência. “No entanto, naquele momento, minha perspectiva metodológica limitava-se à semiótica, por causa do contato durante a graduação. Por ser metodologicamente mais popular, num primeiro momento, meu olhar direcionou-se ao objeto a partir desse escopo, no qual as imagens são observadas como espelho do mundo e outros aspectos que foram abandonados por nós posteriormente”.
Na dissertação de mestrado, sob o título “Atualizações audiovisuais do fotojornalismo na web“, trata de um modo de olhar para como a fotografia se apresenta na web, uma forma audiovisual. A expressão da sociedade em busca da exploração do potencial tecnológico, mas, também, um apelo cultural de uma necessidade de complementar a comunicação por meio de elementos convergentes das mídias tradicionais. A fotografia jornalística, nesse ambiente, é articulada de forma diferente das mídias anteriores e encontra outras possibilidades na construção de códigos por meio de imagens.
“O que fiz em minha pesquisa foi, cartograficamente, olhar para esse objeto da internet e, progressivamente, emoldurar o que advém da virtualidade do fotojornalismo e como se atualiza nessa mídia”. A pesquisa lançou olhar sobre manifestações audiovisuais nas mídias tradicionais e nas mídias contemporâneas em busca da identificação de articulações culturais. “Compreendo o fotojornalismo como atualização que carrega em si certa virtualidade. E, por isso, se aproxima da linha de pesquisa: Mídias e Processos Audiovisuais, onde se insere o TCAv.”
Como objeto empírico, Vlademir dedicou sua pesquisa ao jornal El País, de Cali, Colômbia, porque promove, além do fotojornalismo tradicional, também a experiência do fotojornalismo na web. “Reportaje 360ª é uma seção discriminada por multimídia, produzida pela empresa jornalística da Colômbia e que, por meio de suas peças jornalísticas, representa o fotojornalismo em potência na web e por isso foi eleita para ser dissecada e analisada a partir dos conceitos trabalhados ao longo da dissertação.”
O TCAv na pesquisa
Para Vlademir, as metodologias propostas pela linha de pesquisa e pelo grupo Audiovisualidades e Tecnocultura: Comunicação, Memória e Design, em especial a metodologia das Molduras, reuniram movimentos que foram fundamentais desde a identificação do problema, a cartografia dos objetos, estendendo-se até a dissecação e a decodificação dos modos do fotojornalismo na web. Alguns dos autores que compõem o eixo teórico da pesquisa são muito debatidos nos encontros e pesquisas do TCav, como Vilém Flusser, Walter Benjamin, Henri Bergson, Gilles Deleuze e outros, reforçando doa presença de conceitos como Memória e Duração, Tecnocultura, Intuição, Ethicidades, que deram suporte na condução da dissertação.
“Aprendi que audiovisualidades são superfícies codificadas que carregam consigo memórias, constroem sentidos, proporcionam experiências e se atualizam a partir das mídias.” A partir disso, surge como necessidade olhar para o objeto da pesquisa como um misto, um processo que tem dois modos: de ser e de agir. “E, que há também, a necessidade de identificar onde e como esses processos se manifestam, de que formas e com que intensidade se apresenta. Olhar para as atualizações e delas recortar elementos que evocam memórias e significam sentidos a partir de seu uso.”
Nas palavras de Vlademir, a pesquisa acadêmica “desconstrói mais do que um objeto. O empírico é apenas um dos pilares dessa construção, da qual também faz parte o método de pesquisa e o próprio pesquisador. Essa dissertação, portanto, não é apenas o resultado do olhar atento para o objeto empírico e para suas relações com as teorias, mas, principalmente, o resultado de minha transformação enquanto sujeito-pesquisador.”
É possível verificar que a fotografia sempre teve um importante papel na vida de Vlademir, tanto por motivos profissionais e por afinidade pessoal, sempre foi a fotografia e, em especial, as imagens técnicas voltadas à prática das atividades jornalísticas. “No entanto, há na pesquisa algo que atravessa toda a teoria, o empírico e o pesquisador. Há um processo que acontece com o objeto, com o método e com o sujeito-pesquisador, em um movimento recíproco de contágio. E é nessa expectativa que apresentei a dissertação, na iminência de que, de alguma forma, possa colaborar com a construção de alguma “coisa” que vai além do meu próprio conhecimento,” diz Vlademir.
Para além do TCAv
A dissertação foi defendida em março de 2016 e, segundo ele, até hoje quando retorna à leitura de sua pesquisa, “me deparo com algum aspecto novo, algo que está ali colocado e que no momento de sua construção nem mesmo eu me dava por conta. Dessa forma, acredito que, o principal de minha pesquisa não foi o objeto empírico estudado ou o impacto que ela possa ter tido num leitor/pesquisador, mas, considero sim, que o principal aspecto é a moldagem do sujeito-pesquisador como ser pensante que está inserido num contexto social, cultural e histórico.“
Durante o mestrado, Vlademir atuou como docente, e hoje, seu perfil profissional está voltado para outros interesses além da academia. Verificou oportunidade na área comercial, onde atua no momento, e garante que “a aplicação prática do que foi aprendido no mestrado está em cada momento de reflexão, em cada tomada de decisão, em cada embate de opinião ou na empatia com os outros. Parafraseando um gênio popular digo: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original” (Albert Einstein).
Texto: Vlademir Canella e Roberta Krause
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