A 15° Live Cátedra Intercom, ocorrida dia 07 de junho, teve a participação do GP Estudos de Televisão e Televisualidades da Intercom, coordenado pelo professor Dr. Gustavo Fischer (Unisinos), e abordou o tema “O futuro das telecomunicações na área de televisão e televisualidades: estratégias e políticas públicas”. A live contou com a participação dos professores Dr. Octavio Penna Pieranti (UNESP) e Dr. João Martins Ladeira (UFPR), com mediação do professor Francisco Machado Filho (UNESP)
Abrindo a live, Pieranti fez uma abordagem geral sobre o futuro da televisão, segundo estratégias e poderes públicos, apontando que a televisão ainda é muito presente na realidade brasileira. Para ele, falar sobre a televisão se torna fundamental aos estudos da comunicação, visto as novas possibilidades de acesso e distribuição do audiovisual.
Embasado em dados da European Broadcast Union (EBU), que acompanha o tempo dedicado à televisão em países da Europa, explicou que o tempo dedicado à televisão aumentou entre 2015 a 2020 em alguns países europeus. Os dados também demonstraram que o alcance semanal – uso de pelo menos 15 minutos contínuos em uma determinada semana – teve uma pequena diminuição percentual entre 2015 a 2020, mas que para ele, ainda é um percentual expressivo entre o público mais jovem.
Voltando-se às emissoras públicas europeias, o pesquisador destacou que entre 2015 a 2020 o percentual se manteve em relação ao público geral e teve aumento entre o público jovem.
Já na América Latina, Pieranti apresentou dados sobre a média diária – tempo médio que o cidadão dedica ao meio televisivo – a partir de dados apresentados pelo Kantar Ibope. Na Argentina, por exemplo, o tempo médio é maior do que no Brasil, e mesmo assim, a realidade brasileira indica um número considerável de uso do meio, superior ao padrão europeu.
Segundo o pesquisador, foram estes dados que nortearam a sua discussão sobre o futuro da televisão, pois em 92% das casas brasileiras a TV ainda é vista como a principal tela, dois terços da população assiste vídeo em sua casa diariamente e quase 80% da população dedica seu tempo à TV.
Outro importante aspecto trazido por Pieranti na sua apresentação foi o orçamento gasto pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação) com a comunicação pública no Brasil (TV, rádio e outros meios). Os dados apresentados a partir do gráfico preocupam, pois este investimento tem caído desde 2014.
No fechamento de sua fala, o pesquisador explicou que a EBC é responsável em parte pela articulação de um sistema que avançou pouco. Para ele, esse sistema deve estruturar as emissoras como um todo integrado para que estabeleça pontes entre si, sendo este é um dos desafios da comunicação pública no Brasil.
Já a fala do professor João Ladeira foi direcionada ao streaming dentro de um cenário global, no qual “tem se estabelecido como forma para o audiovisual”. Ele propôs ver o streaming dessa forma a partir de dois tipos de empresas: “aquelas que possuem conexão com operações de telecomunicação e aquelas carentes dessa conexão”. Como o streaming depende cada vez mais das redes e da alta velocidade, a ideia da conexão com as telecomunicações não pode ser ignorada, visto que essa alta velocidade é fornecida pelas empresas de telecomunicação.
Para deixar mais claro, Ladeira apresentou exemplos que ilustram como essas empresas podem ser – ou não ser – bem sucedidas, segundo suas conexões:
Um exemplo de empresa bem sucedida é da Comcast, proprietária da rede de televisão NBC, que conseguiu se diversificar nesse ambiente.
A partir desses exemplos, Ladeira explica que a questão chave para o streaming é a retomada da televisão, ou a expectativa de que o streaming possa remediar a televisão. Nesse modelo, se manteria a diversidade temática estabelecida pela TV e a experiência das imagens a partir do streaming, que oferece características próprias de experiência: é na conexão entre as telecomunicações e o streaming que se dá a retomada da televisão, onde o streaming traz alguns traços da TV, mas vai além, sendo o streaming uma outra experiência de ver.
A partir dessa proposta, Ladeira apontou aspectos a serem observados: a experiência da televisão era a de que o maior número de pessoas pudesse ver o maior número de imagens, já a TV a cabo passou a limitar estas imagens à um número de assinantes. Hoje, o streaming se torna uma segmentação intensa de conteúdo, visto sua necessidade de conexões das redes oferecida pelas corporações de telecomunicações, tornando as imagens exclusivas para aqueles que desejam o acesso, seus assinantes. Assim, estas imagens que são produzidas em excesso, são vistas por apenas parte da população, se tornando invisíveis para o restante – uma forma de lógica de exclusividade, de segredo.
Ladeira encerrou sua apresentação explicando que “o estabelecimento de uma atividade que tende à radicalidade da inovação e o ambiente pouco propenso à intervenção política torna pouco provável a regulação em um futuro próximo”.
Texto: Flóra Simon da Silva
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