Para encerrar a 14ª edição da Semana da Imagem na Comunicação UNISINOS, realizada com apoio da Capes, o professor Roberto Tietzmann, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), compartilhou um de seus estudos com os acadêmicos de graduação e pós-graduação em Comunicação. O encontro aconteceu na noite de quinta-feira, 18 de agosto, no Auditório Pe. Bruno Hammes.
Com o título Imaginário e memória da televisão brasileira: a construção do meio através da imprensa antes de Chateaubriand e as marcas de seu legado nos tutoriais online contemporâneos, Tietzmann afirma que, na verdade, nem tudo sobre a televisão começou em 1950, quando a TV Tupi foi inaugurada por Assis Chateaubriand. De acordo com o levantamento feito pelo professor, em pesquisa no acervo do Grupo Folha, 25 anos antes desta data já havia menções à televisão na imprensa.
Conforme o pesquisador, anos antes, então, começou a ser construído um imaginário sobre a televisão. Essa construção de imaginário em expectativa ao lançamento de algo é visto até os dias atuais, “existe uma espera para o lançamento de algo”, afirma. Como exemplo, Tietzmann cita o fenômeno ocorrido há duas semanas: o lançamento do jogo Pokemón Go.
Na linha do tempo em retrospectiva, o professor destacou uma imagem de 1882, feita por Albert Robida, quando, de acordo com sua análise, iniciou o imaginário da televisão. O que se imaginava era a tela como experiência social e compartilhada. Em 1958, surge uma imagem, feita por Baumgardner, que é clássica dessa característica: uma família sentada em frente à televisão. Esse tipo de imagem ainda é recorrente, segundo Tietzmann. Ele comenta que uma das capas da Netflix traz também uma família em frente à tela.
O primeiro registro da palavra televisão na imprensa é de 1926, e o conteúdo era de cunho científico, abordava questões de tecnologia e sobre “o que a televisão faria”, pois as televisões ainda estavam em laboratório. Outra menção ao termo que é interessante para o pesquisador foi uma propaganda de rádio, que dizia “televisão ainda não”. O paralelo feito pelo palestrante é que, na contemporaneidade, enquanto as pessoas aguardam lançamentos de novas mídias e tecnologias, também existe a criação do mesmo imaginário daquela época.
Assim, aos poucos foram surgindo as primeiras transmissões e experimentações, como a exibição de uma peça de teatro, que foi capa de jornal em 1930 e refeita em 1967; as Olimpíadas de Berlim, que foram gravadas através de uma espécie de híbrido entre televisão e cinema; algumas transmissões de futebol, realizadas somente com uma câmera – sem cortes e edições; e, em 1936, houve a primeira transmissão experimental da RCA.
Para o pesquisador, se olharmos com atenção, existe uma referência dessas construções televisivas nos vídeos online populares, como os do YouTube. Para exemplificar, Tietzmann trouxe: o canal Ana Maria Brogui, de culinária e com uma estética muito semelhante aos programas do gênero na televisão; os jogos online, que são gravados e narrados por jogadores e se assemelham às transmissões de futebol; e, por fim, a blogger Camila Coelho, que faz tutoriais de maquiagem e fala “de igual para igual” com seus espectadores. Esta lógica, segundo o palestrante, “quebra o encanto dos mágicos estúdios de Hollywood”, pois o formato aproxima a realidade distante, o receptor de seu público.
Fotos: Lidiane Mallmann e Marcelo Gomes
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