No dia 3 de novembro, ocorreu o quinto encontro da série de lives “Arqueologia das Mídias 101”, onde os pesquisadores Gustavo Fischer (TCAv-LabMem/UNISINOS) e Marcio Telles (Escola de Comunicação) receberam o professor e pesquisador Peter Krapp, da Universidade da Califórnia – Irvine. Com o tema “Beyond the Cool Obscure: do PicturePhone ao boom do Zoom”, a live marcou o encerramento da primeira temporada da série promovida pelos pesquisadores.
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Conforme nos diz o release de divulgação da live, por mais que a Arqueologia das Mídias contemple um longo período da história, ela ainda é uma abordagem jovem. “A Arqueologia das Mídias anuncia a si mesma como uma crítica do modelo evolucionário dos estudos de mídias, distanciando-se das contribuições dúbias das linhas de tempo e das tradições. Os mídia-arqueólogos argumentam em favor de reconhecer o ‘passado presente’ das mídias.” (TELLES; FISCHER, 2020, online). É neste diálogo, e pensando nos atravessamentos deste cenário pandêmico, que Peter Krapp em sua fala irá testar esse “passado presente” dos vídeos para conferências em sua atualização mais recente, o Zoom.
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Peter Krapp é professor de Film & Media Studies da Universidade da Califórnia – Irvine e autor de vários livros, como Deja Vu: Aberrations of Cultural Memory (2004), Noise Channels: Glitch and Error in Digital Culture (2011) e o futuro Feedback. Reading Game Industry Circuits. Peter é também músico, jornalista e webdesigner, com alguns sites premiados nos anos 1990.
“Beyond the Cool Obscure”
Hoje todos nós estamos trabalhando com e por meio de soluções de videoconferência. Krapp abre seu diálogo apontando que isto o chamou a atenção não apenas para o que elas tornam possíveis e como nos permitem continuar trabalhando, mas também para pensar qual é a sua formação discursiva na mídia. Peter chama a sua apresentação de “Beyond the cool obscure” por conta de às vezes falarmos da arqueologia das mídias enquanto um desafio à história da mídia. Para o pesquisador, parece que a própria arqueologia das mídias é apenas uma forma de fetichizar de outra maneira artefatos ignorados, obscuros ou esquecidos.
Não sendo esta a sua intenção de fala, Krapp acredita que, se vamos olhar para a videoconferência através de uma lente mídia-arqueológica, não é necessariamente para comprar uma briga com historiadores da mídia ou da comunicação – embora haja alguns conflitos interessantes. Portanto, seria apenas para apontar que o boom do Zoom atual não ocorre do nada, não surge do nada: para Peter, é profundamente enganoso pensarmos que a tecnologia nos levaria a esse ponto. Em outras palavras, de que a ideia de que a tecnologia tem uma direção natural, levaria naturalmente a um certo tipo de extremidade.
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Muitas foram as previsões equivocadas ao longo dos anos, como por exemplo Ken Oslen prever que não haveria razão para as pessoas terem computadores em suas casas, em 1977; Bill Gates, em 1981, argumentando que 650k de memória deveria ser memória suficiente para qualquer pessoa; ou ainda Bob Metcalfe, um pioneiro das redes, argumentando que a internet entraria em colapso catastrófico em 1996. Krapp fala de um artigo sobre esses tipos de previsões erradas (no MIT Technology Review), em que foi apontado que a história das previsões acerca da tecnologia também deve ser encarada enquanto um recurso a ser explorado para bolsas de estudos – ou em suas palavras “não apenas um monte de futurologia fracassada para zombar ou satirizar”. (tradução livre).
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Para Krapp, se a nossa abordagem é a arqueologia da mídia, estamos meio que escavando o passado para lançar luz sobre o presente. Portanto, queremos estabelecer o presente-passado de certas constelações de mídia, e a videoconferência é esse tipo de constelação: o telefone é a implementação técnica real da invenção pela Bell Labs, conforme foi demonstrado em 1927. Peter resgata em sua fala o Picture Phone, o qual é uma espécie de prova de conceito realmente construída: isto não é apenas uma ideia de ficção científica – algo que pode ser interpretado como uma combinação de televisão e telefone, onde temos um modelo experimental do Bell Labs. Krapp mostra a capa da revista Talk, de janeiro de 1957, a qual promete que você conseguirá tirar uma foto, onde a imagem traz a representação de um homem realizando uma chamada através do aparelho o qual contém uma “foto” da pessoa para quem ele está ligando sem ser necessário discar o número.
O cruzamento de um telefone com um aparelho televisivo, conforme foi desenvolvido nos anos 50, leva às promessas de que Krapp acredita ressoar ainda hoje em nossa situação multitelas: “você conhece o slogan publicitário ‘one day you’ll be a star’ – ele promove dispositivos de comunicação futurista de alta tecnologia que podem capacitar as pessoas a serem uma estrela”. (tradução livre). Para o pesquisador, é neste ponto que historiadores sejam eles da arte, da mídia ou arqueólogos da mídia devem se perguntar: esta é uma confusão de diferentes tipos de telas, afinal, qual é a tela da qual estamos realmente falando?
Quer ver na íntegra o bate-papo com o Peter Krapp? É possível conferir no perfil da Escola de Comunicação no Facebook, através do link: https://fb.watch/2oPGU3wrtS/. As próximas edições da série Arqueologia das Mídias 101 retornam no próximo semestre, basta acompanhar nas redes!
Texto: Camila de Ávila
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