Dia 26 de agosto aconteceu o terceiro encontro da série Arqueologia das Mídias 101, sob o título “Efeito Nostalgia: arqueologia das mídias na música popâ€, iniciativa da Escola de Comunicação, representada pelo pesquisador Márcio Telles, e do Professor do curso de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS, Gustavo Daudt Fischer, que é também um dos coordenadores do TCAv. Pela primeira vez eles receberam um convidado externo, Marcelo Conter, doutor em comunicação e Professor do IFRS, para falar sobre nostalgia na música pop e arqueologia das mídias.
Marcelo começou na área da pesquisa, especificamente na iniciação cientifica junto às pesquisas sobre televisão com a professora Dra. Suzana Kilpp em 2005 na UNISINOS, e foi introduzido à arqueologia da mídia no doutorado, em 2013, a partir do livro Arqueologia da Mídia de Ziegfried Zielinski. Viu como possibilidade de trabalhar a proposta arqueológica quando pesquisava o low-fi, a partir de propostas de Jussi Parikka ao definir as mídias “zumbis”, ou conforme o autor, que deveriam ter sido extintas ou descontinuadas, mas que ressurgem a partir de iniciativas de usuários. Conter viu na proposta da arqueologia um caminho para se pensar as diversas materialidades das mídias, principalmente a partir da produção musical por instrumentos descartados e não reconhecidamente musicais, mas coletados aleatoriamente para uma produção sonora, utilizados como suporte principal, como peças de aparelhos de televisão, por exemplo.
Na parte inicial do debate, Márcio provoca Conter a pensar a partir das “gambiarras” para se trabalhar com a ideia de “mídias zumbis”, de Jussi Parikka, ou seja, fazer uma relação entre as materialidades de mídias descontinuadas para promover a intencionalidade de construção de instrumentos musicais. Nesse contexto, Fischer complementa o debate propondo pensar sobre as limitações técnicas desses materiais, e que em um segundo momento ressurgem como outro gesto estético e contexto, sendo esse justamente um dos pontos que giram em torno da arqueologia da mídia.
Complementando, Fischer provoca a conversa trazendo o tema da nostalgia, assunto constantemente associado à arqueologia da mídia, e criticado, como se fosse uma reposta teórica ao apego ao passado, ou representações midiáticas que já se foram. Conter realiza uma reflexão a partir do cinema e do cenário da música pop com diversas iniciativas que buscam retomar estéticas e texturas que remetem a períodos anteriores à sua existência, e que não necessariamente foram épocas que os artistas de fato experienciaram, por exemplo, mas que são presentes em produções saudosistas como a banda The Strokes e Amy Winehouse nos anos 2000.
Já entrando nos aspectos das materialidades, o que interessava Marcelo Conter em sua pesquisa foi compreender o que os aparelhos midiáticos comunicavam sobre o som. Sua curiosidade sobre a música e sua materialidade o fez mapear materiais sonoros que músicos usavam a fim de compreender as interferências do aparelho (suas singularidades) no som produzido por ou a partir deles. Portanto, retomando esse aspecto que foi o responsável por aproximar a arqueologia da mídia, já que foi na busca sobre as materialidades da música que ele encontrou caminhos para entender os efeitos nostálgicos dentro da música Pop hoje.
Compreendendo tais perspectivas, Márcio encontra no autor Wolfgang Harnisch aproximações sobre a arqueologia das mídias, quando ele busca pela funcionalidade de materiais da mesma forma que eles funcionavam na época da sua produção. Comparando essa abordagem com as mídias zumbis proposta em pesquisas anteriores de Marcelo Conter, vê nessa retomada de tecnologias do passado para produção de novos materiais hoje, a nostalgia entendida na busca de um passado não vivido, segundo estas materialidades. Essa oferta acontece na internet, onde há possibilidade de “caçar” referências estéticas e materiais produzidos em outras épocas, a partir de banco de dados, onde se misturam músicas de diferentes épocas.
Para Marcelo essa sensação nostálgica nas materialidades também pode ser associada ao que ele chama da obsolescência programada, onde nenhuma mídia morre, mas vai se acumulando. Podemos pensar na fita cassete como exemplo, quando a partir do momento em que ela foi substituída por outras mídias, elas (objeto) não foram jogadas fora, mas guardadas. Hoje artistas buscam nesta mesma mídia, como forma experimental (ou nostálgica), a estética ou textura musical provocada pela gravação em fita cassete. Da mesma forma percebe que essa textura musical (ruídos sonoros) é incorporada na música pop atual. A indústria da música Pop também está incorporando os estilos Hip Hop Low-fi, e, ao mesmo tempo, buscando estes efeitos nostálgicos.
Nestas músicas Hip Hop Low-fi, onde há o sampler de Jazz com outros efeitos sonoros junto aos ruídos de fita cassete, por exemplo, são apresentadas texturas musicais de determinadas épocas simuladas por computadores. Estes “erros” provocados pelas mídias passadas acabam se tornando valores hoje. Para Márcio a questão do nostálgico pode ser visto nestes elementos estéticos das materialidades que transmitem a sensação de nostalgia, mas não de um tempo específico. O uso da estética de ruídos e outros efeitos naturais de mídias antigas na música pop hoje causa sensação nostálgica segundo memórias não vividas, mas que podem ser encontradas a partir da arqueologia da mídia nestas materialidades.
Texto: Roberta Fleck Saibro Krause e Flóra Simon da Silva
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