Arquivismo e experimentação na tecnocultura: a XVIII Semana da Imagem chegou!

Ela está entre nós! Inicialmente programada para acontecer em Março deste ano, a XVIII Semana da Imagem precisou ser emergencialmente adiada por conta da pandemia da Covid 19. Agora, reprogramado para acontecer online durante o mês de Novembro, o evento reúne importantes pesquisadores pela primeira vez no ambiente digital para discutir sobre o conceito de arquivo, suas implicâncias e potencialidades na atual tecnocultura.

“Entre arquivar e experimentar na tecnocultura” é o tema central da XVIII Semana da Imagem, o tradicional evento promovido pelo grupo de pesquisa Audiovisualidades e Tecnocultura: Comunicação, Memória e Design, vinculado à linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais do PPGC da Unisinos, que agora chega, finalmente, a sua décima oitava edição nesse ano de 2020.

O evento, que será gratuito, sem a necessidade de realizar inscrições, acontece nos dias 16, 17, 18 e 19 de novembro no formato online. As palestras começam sempre às 17h e a transmissão será realizada pela página do Facebook do @audiovisualidadestcav !

Na segunda-feira, 16/11, a palestra de abertura fica por conta do pesquisador Dr. Xavier Aldana Reyes, da Universidade Metropolitana de Manchester. Com o tema “The what and why of found footage horror”, Xavier Reyes, que é Phd em Literatura Inglesa (Lancaster University, 2013) e mestre em Literatura Moderna e Contemporânea (Birkbeck College, University of London, 2009), discute os conceitos de em “found footage” e “fake found footage”. Frequentemente associados ao cinema experimental e de horror, ambas expressões estão relacionadas a filmes produzidos e/ou inspirados em imagens e materiais de arquivos. Em meio a um turbilhão de imagens e de acontecimentos da tecnocultura, somos instigados pelo pesquisador a conhecermos a complexa iconografia do cinema de horror a partir do found footage.

Especialista em filmes, ficções góticas e de terror, Xavier Reyes tem entre os seus interesses de pesquisa as teorias do Cinema, Teoria Crítica e Contemporânea do pós-guerra. Xavier é também fundador do Centro de Estudos Góticos de Manchester, cujo objetivo é promover e divulgar o conhecimento do gótico por meio de pesquisas, aulas e eventos para a comunidade acadêmica nacional e internacional.

Terca-feira, dia 17/11 é a vez do Dr. João Martins Ladeira (UFPR) apresentar a palestra intitulada “Blockchains e criptomoedas: ruído onipresente e arquivo infindável”, onde o pesquisador parte da compreensão benjaminiana de que a natureza da própria técnica é questão de pesquisa. Como bem explica Ladeira, a Blockchain opera em rede através de protocolos que permitem transações virtuais nas quais o conteúdo da comunicação torna-se não mensagens supostamente dotadas de sentido, mas o trânsito de um significante vazio: o dinheiro. Dessa maneira, esse tipo de operação consiste em registros digitais contábeis, arquivos infinitos que mobilizam bancos de dados e retomam a expectativa de registrar fluxos de qualquer tipo, compreendendo a Blockchain como parte de uma tendência cara à rede de discurso típica ao contemporâneo, onde seus traços são interpretados como parte do decréscimo da crença no sentido transcendente da palavra e da consciência humana, onde os fluxos de comunicação se transformam num circuito ininterrupto de dados, propenso menos à hermenêutica e mais à necessidade de administrar os erros e ruídos, que ameaçam com a perda de informação enquanto acenam com a recordação interminável de qualquer ato.

Assim, Ladeira traz à Semana da Imagem uma discussão arqueológica, que apresenta a conexão entre essa ferramenta e os processos identificados por Kittler em obras como Drácula e Brain Damage (Pink Floyd), na tentativa de compreender as artimanhas do discurso.

Atuando como professor adjunto no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e no Departamento de Comunicação da UFPR, João Ladeira Possui doutorado em sociologia pelo Iuperj (2009). Fez tanto o mestrado quanto a graduação em Comunicação pela UFF (2003, 2001) e entre 2012 e 2019, foi professor do PPGCC/Unisinos, instituição na qual ocupou a função de bolsista Capes/PNPD durante um estágio pós-doutoral em 2011. Pesquisador associado aos grupos Unisinos Tcav, Iesp Netsal e UFPR Nefics, seus principais interesses de pesquisa são tecnologias da comunicação e informação, estudos de audiovisual, arqueologia da mídia, cultura visual.

Já na quarta-feira, dia 18/11, a Semana da Imagem recebe o Dr. Lucas Bambozzi, artista e pesquisador que se ocupa em explorar os modos de produção de novas mídias, tendo produzido vídeos, instalações, performances audiovisuais e projetos interativos em mais de 40 países. Com a palestra “Do invisível ao redor: arte e espaço informacional”, Bambozzi propõe problematizar o encontro entre dispositivos e linguagens, onde a obra é o acontecimento na relação do receptor com a imagem, com a mercadoria, com a mídia eletrônica, com o sexo, com a arte cuja realização é impossível prever. Conforme destaca o pesquisador, “uma coisa é certa: quando a obra acontece uma pequena, mas poderosa viravolta invisível terá ocorrido entre quatro paredes.”

Ao analisar as transformações recentes da noção de “lugar” diante da emergência dos espaços informacionais, em sociedades permeadas por conectividade, fluxos distintos de comunicação e redes tecnológicas, a pesquisa parte da observação das novas especificidades de um espaço arquitetônico que inclui cada vez mais aspectos imateriais em sua constituição, como campos de radiofrequência (RF) e ondas eletromagnéticas (EMF) gerados por celulares, redes wi-fi, transmissões de TV, satélites e telefones sem fio, colocando a arte em constante atrito com elementos da comunicação. Assim, procura-se apontar formas e recursos que permitam fazer ver os componentes intrínsecos de espaços que passam a ser considerados pelo que não é visível em sua constituição, a partir de novas camadas e especificidades, fazendo emergir também os aspectos discursivos e políticos envolvidos.

Doutor pela FAUUSP na área de Arquitetura e Urbanismo (2019) e mestre em Filosofia pela School of Computing, University of Plymouth, Reino Unido, (2006), Lucas Bambozzi trabalha com vídeo, instalação, performances audiovisuais e projetos interativos que exploram questões do universo dos dispositivos de registro e manipulação de imagem. Foi um dos criadores do arte.mov, Festival de Arte em Mídias Móveis e do projeto Labmovel (menção honrosa no Ars Electronica 2013). Em suas obras são retratados os paradoxos e antagonismos do cotidiano da vida particular no contexto urbano, muitas vezes propiciando um tipo de poesia audiovisual do ordinário, sempre explorado por meio de contínua experimentação com diversas linguagens e meios.

No encerramento da XVIII Semana da Imagem, quinta-feira, dia 19/11, a Ma. Ines Aisengart Menezes apresenta a palestra “Cultura digital, a cadeia produtiva e o patrimônio audiovisual”, onde faz uma breve introdução aos desafios e aos recentes desenvolvimentos da área de preservação do patrimônio audiovisual brasileiro, com referência às políticas para a produção do audiovisual, à gestão do patrimônio cultural e à profissionalização. A ideia é construir uma reflexão em torno do desenvolvimento tecnológico, das práticas culturais e sociais em torno do digital, da profusão de tipos de registros de audiovisual com o advento do digital e do impacto nas práticas de arquivo. Além disso, a pesquisadora faz uma análise de aspectos da tecnologia atual de dispositivos pessoais, da privacidade e do “Capitalismo de vigilância”.

Ines Aisengart é preservacionista audiovisual com 19 anos de experiência profissional em gestão de patrimônio cultural e no mercado do audiovisual. Co-curadora da temática Preservação na CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto desde 2017. Trabalhou na Cinemateca Brasileira de 2016 até 2020. Graduada em Cinema (UFF) e mestre em Preservation and Presentation of the Moving Image (Universiteit van Amsterdam).

Com quatro dias seguidos de atividades e palestras instigantes, a XVIII Semana da Imagem se reinventa online para dar conta de um 2020 que se faz desafiador também off-line. Perceber esse trânsito entre o mundo real e o digital e os processos audiovisuais e sócio-culturais que se proliferam nessa tecnocultura é também uma das questões que mais instigam não apenas a Semana da Imagem em si, como todos os trabalhos realizados pelo Grupo de Pesquisa TCAv, de maneira que este evento parece ser a oportunidade ideal para levantar as problematizações que surgem no entorno dessas discussões.

Para mais informações sobre a XVIII Semana da Imagem, acompanhe as redes do TCAv. Para acompanhar as palestras, basta acessar o link do evento no Facebook: https://fb.me/e/dajQLq6Wa

Que venha a XVIII Semana da Imagem!

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