A pandemia do covid 19 afetou várias áreas da sociedade e no cenário audiovisual não foi diferente, o impacto causado por ela é incalculável e ainda veremos os resultados destas mudanças pelas próximas décadas. O isolamento e as práticas de distanciamento social, fez com que a população encontrasse alternativas para se comunicar ou entreter. Com isso surgiu a necessidade de uma alfabetização tecnológica em tempo recorde. Todas classes sociais foram atingidas, claro umas mais, outras menos. Essas novas rotinas sociais despertaram a “mania de digitalização”. Vista antes na década de 90 com a chegada do computador, essa mania tinha como finalidade armazenar, escanear, copiar tudo para dentro de seus computadores pessoais, como fotos, filmes, livros, músicas, essa prática abriu um debate para a criação de bancos de dados pessoais. O que Manovich (2000) chamava de “máquina de mídia universal” , em que a sociedade sentiu a necessidade de transformar seus acervos em bibliotecas digitais pessoais. Com esse processo de digitalização muitos filmes, documentários acabaram em acervos pessoais isolados do mundo, fazendo com que muitas obras audiovisuais de uma época desaparecessem dos catálogos de filmes antigos.
A Film Foundation, uma organização sem fins lucrativos que conta com Martin Scorsese como presidente e fundador, tem como objetivo proteger e preservar a história do cinema. A ONG aponta que metade dos filmes norte americano feitos antes de 1950, estão perdidos e esse cenário ainda fica pior nas produções realizadas antes de 1929, segundo a ONG mais de 90% destas obras estão desaparecidas. A Film Foundation tem uma parceria com acervos e estúdios para ajudar a resgatar e restaurar esses filmes desaparecidos. Já são mais de 925 filmes recuperados, que estão sendo disponibilizados ao público por meio de programação em festivais, museus e instituições de ensino em todo o mundo.
O World Cinema Project é um setor dentro da Film Foundation, que tem por finalidade preservar e restaurar filmes negligenciados de todo o mundo. O projeto também apoia programas educacionais, incluindo Escolas de Cinema, Restauração e workshops, permitindo que estudantes e profissionais de todo o mundo aprendam a arte e a ciência da restauração e preservação de filmes. Desde o início, o Projeto World Cinema já restaurou cerca de 47 filmes de 27 países diferentes, o que representa um rico resgate da diversidade do cinema mundial. Todos os títulos restaurados estão disponíveis para aluguel de exibição no site https://www.film-foundation.org.
A missing movies, criada para capacitar cineastas, distribuidores e arquivistas, evidencia que existe um problema na disponibilização de filmes antigos. As grandes plataformas de streaming dizem disponibilizar toda a história do cinema através de taxas de assinaturas, mas segundo a empresa, isso não é verdade. O fato é que os filmes simplesmente não estão mais disponíveis como no auge do VHS, quando algumas locadoras de vídeo tradicionais carregavam dezenas de milhares de títulos. Ou seja, com os serviços de streaming muitos filmes mais antigos estão sendo deixados para trás. Com a intenção de localizar esses materiais perdidos, a missing movies trabalha para ajudar a decifrar os obstáculos econômicos, legais e práticos que os cineastas enfrentam quando querem disponibilizar seus trabalhos mais antigos. Isso inclui desafios para deixar a história do cinema disponível para todos.
É necessário a preocupação com os estudos voltados à memória do cinema, para que leve ao conhecimento público toda essa gama de filmes armazenados em acervos pessoais ou em depósitos de grandes produtoras. Filmes independentes que contam histórias culturais locais, documentários, filmes experimentais, tudo que representa a história do cinema. Que não haja lacunas cruciais para nosso conhecimento e legado cultural.
Texto: Carlos Eduardo Vargas
Fontes consultadas:
MANOVICH, Lev. Database as a genre of new media. Ai & Society, v. 14, n. 2, p. 176-183, 2000.
sites:
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.