BOTTEGA DIGITAL: etnografias ubíquas, polifônicas sincréticas nos olhares do designer

Lançado em 2016, o livro “A Revolução do Design: Conexões para o Século XXI“, organizado por Victor Falasca Megido, traz o capítulo intitulado “Bottega Digital: etnografias ubíquas polifônicas sincréticas nos olhares do designer“, onde pesquisador Massimo Canevacci traz a ideia de “bottega digital”. Para o autor, “a antropologia aplicada entre artes e ciências é uma transfusão sincrética, ubíqua, polifônica entre as experiências da renascença clássica e da tecno-cultura digital contemporânea. As artes expandidas são um “re-enacting” da bottega na metropole comunicacional. Na bottega, o maestro era uma mistura de artesão e artista: ele era capaz de trabalhar corporalmente com as mãos e os olhos; de inventar mentalmente obras nunca imaginadas antes. Na “bottega”, o maestro morava, ensinava, criava. O maestro era o artífice de um processo de transfusão entre imaginação exata, sabedoria visual, pratica manual. Cruzava corpo/mente, artes/tecnologias, útil/belo”. (CANEVACCI, 2019, p. 40).

Canevacci propõe aplicar o design etnográfico aos contextos criativos contemporâneos como metodologia pragmática reinventada. As artes digitais são expandidas na medida em que passam a envolver uma multiplicidade de aplicações, sejam elas na música (sound-scape), nas relações étnicas (ethno-scape), nas mass-media (media-scape), na moda (fashion designer), no cinema (sound-designer), na própria Internet (webdesigner), na comunicação urbana etc. (CANEVACCI, 2016). Ao passo em que se antropologiza as informações e se desenvolve uma atenção descentrada para cada fragmento expressivo que é elaborado de modo mais ou menos espontâneo no processo da pesquisa; bem como desenvolver um olhar atento aos detalhes micrológicos da cultura local; ou ainda aplicar os resultados de tal observação atenta no cenários abertos ou glocal (local e gloval): temos um indicativo de que o perfil do artista necessita ser baseado acerca do método etnográfico e aplicado na pesquisa de campo, para além do campo empírico tradicional, mas “simultânea e ubiquamente os espaços/tempos da tecno-cultura digital”. (CANEVACCI, 2016).

Desse modo, o projeto “bottega digital” possui como desafio cruzar e misturar antropologia e artes em uma perspectiva expandida. Para Canevacci, “as relações entre etnografia e arte afirmaram diversas dimensões sobre o vago. Se vaga é a beleza fugidia, vagar é viajar sem uma meta precisa, um deambular incerto, baseado num conceito clássico para a antropologia: a desorientação. Tal combinação oscilante entre abandonar-se à beleza vaga e o vagar sem meta dialoga com as dimensões oscilantes entre artes sincréticas, culturas ubíquas e o digital expandido”. (CANEVACCI, 2019, p. 41).

Além do livro, é possível realizar uma leitura da ideia apresentada por Canevacci em seu artigo publicado em 2019 na Revista PROART, intitulado “Antropologia das artes digitais“, disponível neste link.


Referências:

CANEVACCI, M. BOTTEGA DIGITAL: etnografias ubíquas, polifônicas sincréticas nos olhares do designer. In: victor megido massimo canevacci. (Org.). A revolução do design. 1ed. Sao Paulo: Gente, 2016, v. 1, p. 144-158.

CANEVACCI, M. Antropologia das artes digitais. PROART – Revista de Artes, Arquitetura, Comunicação e Design UNESP, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. Vol. 1, n. 1, ago./dez. (2019) – Bauru, SP: UNESP – FAAC, 2019. p. 39-54.

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