O segundo dia da 20ª Semana da Imagem na Comunicação recebeu a professora canadense, radicada na Universidade do Colorado, Dra. Lori Emerson para a palestra “Situated practices in the media archaelogy”, apresentada no último dia 08 de novembro, às 17h.
A atividade foi totalmente online, com acesso via Zoom e transmissão ao vivo no Canal do YouTube do TCAv. Desde já fica o convite para acessar o conteúdo do canal, que conta com essa palestra e muito mais!
A fala de abertura foi realizada pelo Professor Dr. Gustavo Fischer, coordenador do TCAv, saudando os presentes e apresentando a palestrante. O tema da palestra de Lori foi “laboratório”, partindo de uma reflexão mais ampla sobre a utilização do termo até culminar na análise crítica de alguns espaços que ostentam esse título.
Desde o início a professora canadense provocou o público a evitar perguntas categóricas acerca do conceito, o que é e o que não é um laboratório, mas sim o que se ganha e o que perde ao invocar essa alcunha.
Ela apresentou uma breve genealogia do laboratório, mostrando exemplos de práticas que podem ser consideradas seus predecessores, perpassando pela ideia de laboratório como algo que invoca o “científico” (ciências exatas). Entre lugares, experiências, pessoas, ferramentas e uma série de exemplos múltiplos e variados de lugares, marcas, propostas, projetos e empresas que utilizam o termo “laboratório”, percebe que de metáfora, a expressão passou a significar (quase) tudo e qualquer coisa.
Lori aponta que, de uma ideia de espaço dedicado a produção de conhecimento legítimo, “laboratório” passou a designar uma espécie de sentimento de invenção, algo com certo ar de mistério.
Depois disso, Lori comentou alguns espaços laboratoriais vinculados a Universidades estadunidenses, destacando-se o Media Lab do MIT, o Act Lab (Universidade do Texas) e o Media Archaeology Lab (MAL – Universidade do Colorado), que coordena.
Em relação ao Media Lab do MIT, Lori faz uma importante análise, sem deixar de destacar sua relevância, apontando que parte dos movimentos do laboratório visava gerar uma aparência de espaço transparente, inovador, experimental, inclusive e acolhedor, com intuito de mascarar as fontes de financiamento de origem não moralmente aceitáveis, ou mesmo fracassos advindos de projetos que exploram países subdesenvolvidos. Ela ressalva que nem todos os pesquisadores e projetos do MIT Media Lab são antitéticos.
Lori então destacou a importância de projetos laboratoriais mais autênticos e radicais, como o Act Lab, fundado pela pesquisadora estadunidense Sandy Stone, da Universidade do Texas em Austin. Nesse momento da fala, onde era visível a empolgação da palestrante, ela destacou a importância desse espaço que era dedicado a experimentação selvagem, com reflexões profundas de sua fundadora sobre as relações de produção e o capitalismo tardio.
O foco do ACT LAB, como o nome sugere era fazer, numa perspectiva de produção profunda e radical de ideias que se traduzem em coisas e não em uma perspectiva fundada e focada na objetificação do resultado.
Das grande contribuições de Sandy Stone que Lori apresenta e acolhe para sua prática laboratorial está o conceito de “Guarda-Chuva de Troca de Códigos” (Umbrella codeswitch), onde um sistema de proteção opaco, mas poroso a conceitos, garante que atividades experimentais sejam acolhidas com compreensão e aparente compensação ordenada por aqueles que não participam de suas atividades, mas a acolhem institucionalmente.
O outro espaço que ela destaca é o MAL – Media Archaeology Lab, que coordena. Numa fala apaixonada (e apaixonante) destaca que o trabalho desenvolvido é multiforme, envolvendo arte, literatura, tecnologia, experimentação. O espaço é aberto a comunidade e participações em geral, propondo-se a oferecer a estudantes, professores e pesquisadores de diferentes áreas pesquisas e descobertas baseadas na prática.
O espaço conta com aparatos computacionais desde o fim do século XIX, todos funcionais e com possibilidade de manipulação, utilização e subversão. As “coisas” que lá estão são objetos e ferramentas. Dispostas, e não expostas, com intuito de repensar a história e reinventar o futuro.
Parte de sua fala destaca a importância da equipe da Universidade do Colorado em acreditar na proposta e destinar (encontrar) um espaço físico que propicie a presença das pessoas e as possibilidades de uso e troca. Lori mostrou alguns dos espaços e aparatos disponíveis, bem como as ações dali decorrentes. Há manuais computacionais que remontam a década de 1950, computadores apple, não apple, máquinas de escrever, videogames, discos de Edson…
A fala da professora Dra. Lori Emerson é envolvente e abre diversas possibilidade de reflexão, principalmente pela citação expressa de ideias como justaposição de temporalidades em que parte normalmente apagadas de inventos do passado (como as instruções dos discos de Edson) coalescem em práticas usuais dos dias atuais (como software proprietário).
No final da palestra, Lori respondeu a perguntas e provocações do público. Reforçamos o convite para assistir a essa palestra instigante!
TEXTO – Lucas Mello Ness
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