No dia 9 de novembro de 2022 às 17h, ocorreu o terceiro dia da 20ª edição da Semana da Imagem na Comunicação, com a palestra de Bruno Moreschi, intitulada “Ver e Praticar a Visão Computacional”, com mediação do Prof. Dr. João Bittencourt (UNISINOS). Moreschi é pesquisador e artista visual, com pós-doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), doutor em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com passagem na University of Arts of Helsinki (Kuva Art Academy). É pesquisador sênior do Center for Arts, Design, and Social Research (CAD+SR) e integrante do projeto Decay without mourning: future thinking heritage practices.
Em sua fala, Bruno apresentou discussões buscando refletir sobre a visão computacional não apenas com relação a ver propriamente essas imagens, mas pensar isso mais a partir da prática dessa visão, usando como exemplo seus trabalhos acadêmicos e artísticos. O material exposto foi adaptado de um capítulo de livro que ele está escrevendo com o pesquisador Gabriel Pereira (LSE University).
Moreschi organizou sua fala através de três eixos: as definições acerca do tema, a ideia (e a problematização) da palavra “visão” nesse contexto e, enfim, o pensamento dessa visão da imagem como uma ideia de prática e de trabalho. Mas antes de seguir esse percurso, o pesquisador falou um pouco sobre máquinas com trabalho humano especializado, mais especificamente sobre os turkers, ou seja, trabalhadores remotos que treinam computadores, realizando tarefas nas plataformas que são chamadas de HITs (Human Intelligent Tasks), como por exemplo descrever e identificar imagens. Esses serviços ajudam a construir o que é chamado de visão das máquinas e, para Bruno, evidenciar essa prática, que muitas vezes não é aparente, é poderoso porque ajuda a redefinir e transformar a definição de visão computacional, além de treinar as máquinas de maneira mais complexa.
Na sequência, o pesquisador falou das aplicações da visão computacional, como moderação de conteúdo de redes sociais, carros autônomos, drones, organização e transcrição de notas e documentos, medicina, reconhecimento facial e outros processos de vigilância. Após, apresentou alguns conceitos de Inteligência Artificial e de aprendizado de máquinas. Enquanto o primeiro, segundo N. J. Nilsson, é uma “qualidade que permite que uma entidade funcione apropriadamente e com previsão em seu ambiente”, o segundo consiste na prática de utilizar algoritmos para melhorar desempenhos da IA a partir de experiências que otimizam respostas possíveis. Moreschi ainda falou respeito das definições de nuvem e de algoritmo, problematizando-as e argumentando que entender esses conceitos e reconhecer suas limitações nos fazem pensar que estamos em um “campo abstrato que muitas vezes se utiliza da sua opacidade para mascarar práticas e sujeitos.”
A seguir, Bruno falou sobre machine learning training datasets, que são dados organizados para direcionar fluxos das infraestruturas digitais, e citou alguns exemplos, como o ImageNet e o Open Images. Logo após, entrou no tópico do processo de visão e suas complexidades e especificidades, que envolve estruturas biológicas, sistemas cognitivos e convenções. Para exemplificar esse último, o pesquisador citou os modos de ver à distância, presente em invasão de territórios e projetos coloniais, relacionando com os processos de tagueamento das imagens, que são feitos, muitas vezes, de forma descontextualizada.
Dito isso, o pesquisador acredita que “a visão computacional é muito menos um processo complexo de ver. Ela é mais um processo de extrair, segmentar e descontextualizar.”
Outro tópico que Moreschi abordou foi a questão dos padrões de construção, visão e interpretação de imagens pelo viés do trabalho especializado. Bruno falou dos especialistas de imagens visibilizados, usando como exemplos o dermatologista – que realiza o exame de dermatoscopia -, e o historiador da arte e o crítico de arte. Com relação aos especialistas invisibilizados, Bruno argumentou citando alguns de seus projetos, como o Contrate um Profissional, em que convida fotógrafos profissionais de registro de obras de arte para capturar uma mesma pedra, gerando diferentes imagens, mas com elementos em comum:
O pesquisador ainda cita como trabalhadores invisibilizados as pessoas que constroem e mantêm o espaço expositivo.
Por fim, Moreschi falou do eixo “Prática, humanos e trabalho”, defendendo que temos que pensar nessas três questões para pensar nos processos de ver, de imagem e de visão computacional. Assim, temos que buscar por novas redefinições – já que parte desses processos com imagens específicas se dá a partir do mascaramento de humanos que as produzem e as viabilizam – e após, agir de uma maneira que a própria redefinição surja a partir da prática, dos humanos e do trabalho. O pesquisador ainda cita Álvaro Vieira Pinto, que pontua que é fundamental “entender as geopolíticas e os contextos específicos de onde a tecnologia é feita e onde ela age; entender que a tecnologia não existe como função por si mesma, mas essa função é para o homem (e ele que determina essa função); e entender também que essa dinâmica se dá a partir do trabalho.”
Ao final da palestra, Bruno respondeu perguntas do público. Para conferir na íntegra a palestra do terceiro dia da Semana da Imagem, basta acessar o link aqui.
Texto: Ananda Zambi
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