Em recente artigo publicado na revista Comunicação e Informação, da Universidade Federal de Goiás, v. 23, 2020, dois pesquisadores do Grupo TCAV, os Professores Dr. Gustavo Daudt Fischer e Dr. Tiago Lopes, partem do conceito das audiovisualidades, com suporte metodológico na proposta da arqueologia da mídia, para debater (e escavar) dois objetos empíricos site-specific: os projetos artísticos 34N118W (2003) e A machine to see with (2010). Ficou interessado em saber mais sobre o artigo? Então acompanhe a matéria a seguir que preparamos com alguns pontos do texto, onde vamos detalhar com maior profundidade a metodologia utilizada pelos autores.
Primeiramente se faz necessário esclarecer que seriam projetos site-specific e o interesse para Fischer e Lopes (2020) ao tensionar as audiovisualidades e devires tecnoculturais nesses objetos que foi “[…] abordar as narratividades emergentes em práticas artísticas que intencionam produzir, por meio do uso de recursos tecnológicos diversos, experiências projetadas para ocorrerem em lugares específicos (site-specific)” (FISCHER; LOPES, 2020, p. 2) aliada a qualidade sonora tida por eles como “principal meio de vinculação entre a experiência narrativa e o ambiente em que as obras/performances acontecem” (FISCHER; LOPES, 2020, p. 3), são iniciativas em que a dimensão sonora exerce importante mediação entre o corpo e o espaço.
A escolha por esses objetos que também promovem diferentes modalidades de atualização tempo- espacial, vai ao encontro da proposta metodológica utilizada, pois o que está sendo trabalhado no debate e trazido à tona são justamente aspectos que estavam sendo tratados à margem, e que têm a oportunidade de possibilitar investigação além daquele caráter tido como tradicional ou vencedor do mercado, como métricas de download, por exemplo.
Nesse sentido, a arqueologia da mídia conduz a exploração do material em uma “[…] potência investigativa que “escava” – enquanto acionamento básico do agir arqueológico – tanto dimensões materiais (a descrição e dissecação de artefatos, imagens, aparelhos, documentos, etc.) quanto memoriais (linguagens, mecânicas, contextos de uso, sentidos tecnoculturais) dos objetos” (FISCHER; LOPES, 2020, p. 4). Ainda sobre a investigação da proposta metodológica, os autores sugerem a identificação de camadas, que podem ser estratificáveis e arqueologizáveis, indicando o que dura de outros tempos ao realizar a dissecação dos objetos enquanto devires de uma tecnocultural audiovisual.
Após percorrer os objetos num movimento de escavação, os autores propõem a presença de camadas de audiovisualidades, seriam elas; caminhantes que “possibilitam que a produção de acontecimentos evoque a sensação de que a experiência vivida, durante o trajeto, esteja sincronizada com os estímulos auditivos produzidos pelo aparelho” (FISHER; LOPES, p. 9).
Audiovisualidades urbanas seriam “as formas de contato entre o corpo e a cidade expressam relações que a todo momento remetem a imagens e movimentos próprios de uma cultura visual forjada pelas técnicas, estéticas e imaginários cinematográficos” (FISHER; LOPES, p. 12).
Audiovisualidades locativas onde “interessa compreender como um efeito de narrativa audiovisual pode ser produzido a partir do deslocamento do usuário de mídias móveis locativas” (FISHER; LOPES, p. 13), fornecendo uma “conexão entre elementos de naturezas materiais muito diferentes entre si: aqueles que correspondem à imaterialidade dos bits digitais e os outros que correspondem à concretude dos objetos que integram o espaço e o mobiliário urbanos” (FISHER; LOPES, p. 13).
E a camada de audiovisualidaes narrativas (áudio)guiadas, que segundo os autores essas peças possuem um potencial nas interações entre os sentidos da visão e da audição, “isto é, dos fluxos de contaminações sinestésicas resultantes da oscilação entre aquilo que usuário está enxergando e os conteúdos sonoros comunicados através dos fones de ouvido as quais atualizam narratividades sonoras em lugares específicos (site-specific)” (FISHER; LOPES, p. 15).
Após apresentar detalhadamente cada uma das camadas identificadas nos objetos, os autores trazem nas considerações finais apontamentos sobre o surgimento de estéticas de conectividades híbridas que combinam elementos digitais e analógicos – que podem ser vistos nos objetos empíricos explorados ao longo do artigo, inferindo que “são experiências de deslocamento do corpo no espaço que se mostram capazes de evocar, através de rastros, fragmentos e vestígios, todo um imaginário audiovisual que se hibridiza às ações do corpo em deslocamento pela cidade – algo que nos remete, diretamente, aos depoimentos dos voluntários” (FISHER; LOPES, p. 19) nas pesquisas citadas anteriormente no texto. “Consideramos que, ironicamente, projetos baseados fundamentalmente na audição parecem alcançar maior êxito no que se refere aos processos de atualização de virtualidades audiovisuais em experiências de deslocamento do corpo pelo território urbano”. (FISHER; LOPES, p. 19).
Sendo assim, a partir dos objetos empíricos explorados, e das referências utilizadas ao longo do artigo que são suporte ao estudo do deslocamento do corpo no espaço e as experiências dos usuários com iniciativas sonoras, os autores afirmam que “o audiovisual se estabelece, hoje mais do que nunca, como um fundo sobre o qual a visualidade contemporânea toma forma” (FISHER; LOPES, p. 19).
Quer saber mais sobre a pesquisa realizada pelos Professores Dr. Gustavo Daudt Fischer e Dr. Tiago Lopes? Acompanhe o artigo publicado na Revista Comunicação e Informação no link aqui!
Texto: Roberta Krause.
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