O Laboratório Audiovisual em Rede (LAR) é parte do projeto de pesquisa da Profa. Dra. Sonia Montaño (UINISINOS – TCAV). A proposta do projeto de pesquisa retoma sua tese, em que identificou uma tendência cultural de produção audiovisual nos mais diversos meios, desde artísticos até científicos, jurídicos, comerciais e outros. Identifica, ainda, uma audiovisualização até mesmo do cotidiano, em que as pessoas viram as câmeras para si ou para seu entorno, produzindo cada vez mais imagens (para além das selfies, Montaño destaca a produção de imagens de acidentes e assaltos, por exemplo). Percebe a presença audiovisual nas imagens médicas e nos esportes, com o VAR, que acaba por interferir diretamente na cultura e experiência do futebol.
A lista pode estender-se tanto que, como parte do processo de pesquisa, Montaño e suas bolsistas de iniciação científica realizam no momento uma grande flâneur pela cultura, buscando recolher o audiovisual de espaços pouco reconhecidos como tal.
Para orientar a pesquisa em uma ambiência de multiplicação, talvez exponencial, de produtos audiovisuais, Montaño busca basilar sua pesquisa em questões centrais e um repertório teórico que auxilie no pensamento e discussão produtivos de tais questões. Extraímos também de seu projeto de pesquisa que:
“Todas essas formas de atualização (BERGSON, 1999) passam por plataformas de vídeo como a do YouTube, e ali são recicladas, se tornando midiáticas e adquirindo outros sentidos. Essa dinâmica instaura um novo ambiente e deixa um conjunto de restos, trecos e troços, parafraseando Miller (2013), considerados materialidades nas que se inscrevem culturas midiáticas e de outros campos. Para onde vão tantas imagens produzidas? Quais as implicações técnicas, ethicas (KILPP, 2010) e estéticas dos dispositivos que as desenvolvem – e do próprio vídeo como multiplicidade de múltiplos (BERGSON, 1999)? O que fazemos com elas e o que elas fazem conosco (CERTEAU, 1997)? Como e o que estas imagens conectam? Como elas dão a ver o software (FLUSSER, 2002; MANOVICH, 2008) e o dispositivo contemporâneo (FOUCAULT, 1985)? Qual é a dinâmica de hospitalidade ou hostilidade (DERRIDA, 2003) entre as imagens e entre imagens e sons (CHION, 2011) nos diversos contextos onde elas se tornam midiáticas? Como estas imagens sobrevivem ao se tornarem audiovisuais em rede (WARBURG, 2010)? O que esta sobrevivência diz sobre a metamorfose do vídeo e sobre os processos de audiovisualização da cultura? O que este processo dá a ver sobre a tecnocultura em rede? São estas algumas das questões que pretendemos investigar.” (p. 3)
A primeira meta do projeto já foi alcançada: a criação do LAR. A pesquisadora descreve, na proposição do projeto de pesquisa, a caracterização do LAR como “um espaço para pensar laboratorialmente as imagens, os sons e os ambiente em que eles são apropriados e dos quais se apropriam. É um espaço experimental para construir um olhar e um ouvido que se abra às imagens e os sons com os restos (AGAMBEN, 2002) que elas carregam” (p. 2). Assim, o LAR se propõe a testar as diversas metodologias de pesquisa sobre o audiovisual.
O laboratório pretende ser um espaço para compreender as dinâmicas da audiovisualização da cultura, as modificações daquilo que se entende por vídeo, as apropriações feitas por múltiplos usuários “nos confins da cultura”, como afirma a pesquisadora, além de aprofundar o conhecimento sobre o som no âmbito do audiovisual, que muitas vezes acaba por ter menor protagonismo.
No âmbito sonoro da pesquisa, Sonia Montaño ingressou em março de 2020, no estágio de pós-doutorado com a Profa. Dra. Carmen Pardo Salgado, da Universidade de Girona (UdG), Catalunha, Espanha, especialista em estudos do som e da escuta e em filosofias das tecnologias da informação e comunicação (TICs). No estágio de pós-doutorado, Montaño desenvolve um laboratório de aprendizado de escuta tecnocultural vinculado à sua pesquisa e ao LAR. A partir do estágio e da pesquisa, são abertos caminhos para o estreitamento de parcerias de pesquisa de alcance nacional e internacional.
Considerando como centrais as questões metodológicas do projeto de pesquisa, Sonia Montaño parte de Agamben (2008) para propor o gesto metodológico no lugar de metodologias. Essa opção visa possibilitar a abordagem de um conjunto de procedimentos que ampliam criticamente os modos de ver e ouvir os objetos audiovisuais. O gesto, para Agamben, é uma forma de desencantar as imagens, afastando seu efeito paralisante. A seguir, Montaño evoca os gestos benjaminianos do trapeiro e (BENJAMIN, 1989) e do colecionador (BENJAMIN, 2006), que apropriados por ela e pelos membros do laboratório, poderão reunir imagens e sons a se trabalhar. Para trabalhá-las, passarão a inventariá-las – no sentido proposto por Pimentel (2014), que está ligado à invenção: o inventário é uma ordem proposta, inventada. Aqui, o inventário é um modo de dar a ver montagens distintas daquelas percebidas na cultura audiovisualizada.
Além da pesquisadora, o projeto de pesquisa conta com equipe composta por colegas do mesmo PPG da Unisinos, como Suzana Kilpp e Gustavo Fischer, ambos tcavianos, e Ana Paula da Rosa, atual coordenadora do PPG de Comunicação da Unisinos e integrante da linha de pesquisa de Midiatização e Processos Sociais; os pesquisadores externos à universidade são a Profa. Dra. Gabriela Reynaldo (UFCE) e o Prof. Dr. Alex Ferreira Damasceno (FAV/UFPA). Já o LAR, conta com a contribuição das bolsistas de iniciação científica Lisandra Steffen e Letícia Kur, a mestranda Juliana Koetz, e os doutorandos Simone Machado Barreto, Roberta Fleck Saibro Krause e Amaury Silva, todos orientandos de Montaño.
Com esta equipe, a pesquisa e o LAR estão vinculados ao TCAV (UNISINOS), aos grupos de pesquisa Vilém Flusser – Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará (UFCE) e ao grupo TEMA, Tempo, Espaço e Memória no Audiovisual da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará (FAV/UFPA).
A pesquisa se desenvolve atualmente pelos encontros já realizados da equipe do LAR, debruçando-se sobre o estudo e debate a partir da tese de Pimentel (2014) sobre inventários, e pretende produzir artigo em co-autoria de alguns dos participantes e Montaño, além de oficinas e mini-cursos que possam ser ofertados para públicos leigos (não pesquisadores) para compreender, ler e dar a ver sentidos do audiovisual nesta tecnocultura.
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Texto: Juliana Koetz
Revisão: Roberta Fleck Saibro Krause
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