Roberta Krause*
Olá, hoje vamos inaugurar uma nova série de conteúdo, nomeada como “Minha pesquisa no TCAv”, onde serão apresentadas diversas perspectivas sobre as pesquisas dos estudantes da linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais, e a relação que cada um possui em sua jornada no PPGCC UNISINOS com sua pesquisa e o envolvimento com o TCAv.
Confesso que fiquei feliz em ser a indicada a “abrir” a série de textos que busca refletir sobre a minha pesquisa e relação com o grupo TCAv, justamente porque acredito ser indissociável a minha dissertação de mestrado e a construção da tese de doutorado em andamento, com as atividades (e inúmeras descobertas e reflexões) feitas no TCAv. Os motivos que me levam a essa afirmação é justamente o caráter laboratorial que sempre se afirmou nas atividades da linha especialmente tendo no espaço do Tcav uma possibilidade e estímulo ao movimento de exploração dos objetos empíricos sempre sob a “lente” da tecnocultura e das audiovisualidades. Isso significa identificar o caráter durante do audiovisual como uma virtualidade, e o compartilhamento das pesquisas dos integrantes do grupo, ilustrando passos de descobertas e descontinuidades, movimentos de aproximação dos objetos, utilizando recursos como softwares de desconstrução de imagens, construção de mapas visuais, cartografias, formas de dissecar imagens, etc, são exemplos de como o TCAv se apresenta para a minha pesquisa como um espaço extremamente relevante para reflexão metodológica. Além disso, acredito ser um ambiente de incitação à provocação do empírico, de testar e explorar a técnica como justamente um construto tecnocultural, dar a ver as audiovisualidades de nossos objetos a partir de ensaios e percepções desenvolvidas com os colegas.
Alguns anos já se passaram desse primeiro contato com o Grupo TCAv, e desde então não consigo separar tanto as minhas produções acadêmicas quanto a minha formação como professora e pesquisadora das atividades promovidas e exigidas dos integrantes de um grupo de pesquisa. Temos como característica uma alta frequência de encontros do GP que variam desde reflexões mais teóricas, como por exemplo, provocações sobre conceitos que levam o próprio nome do TCAv – audiovisualidades, tecnocultura, comunicação memória e design, até pontos mais táticos como realização de eventos – a tradicional Semana da Imagem, bancas de defesa, qualificação e seminários de dissertação e tese, até iniciativas que buscam parcerias com outros pesquisadores de fora do território brasileiro, que produzem pesquisa acerca dos temas que orbitam nossas audiovisualidades e tecnocultura.
Um dos exemplos desse modo laboratorial provocado em encontro do TCAv, foi quando nos debruçamos sobre o conceito de memória (nas/das imagens), e a proposta de ler a história a “contrapelo”, proposta pelo livro “Ante el tempo” de Georges Didi-Huberman (2006) (e depois revista a partir de diversos autores que trabalhamos com perspectivas paralelas como Bergson, Deleuze, Guatarri, Foucault, Flusser, e Benjamin, e vertentes como a arqueologia da mídia) que minha pesquisa de mestrado realmente tomou a direção para pensar as atualizações dos construtos de memória da publicidade audiovisual na web. Esse encontro resultou na construção de testes, mapas, painéis que posteriormente deram sentido a cartografia e ao exercício de escavação do meu empírico na dissertação de mestrado.
De forma complementar, ao ingressar no doutorado, também como condição de bolsista, fiz a coordenação discente, uma iniciativa dos próprios alunos de produzir uma espécie de “aquecimento” para as reuniões oficiais do TCAV que contam com a participação dos professores, onde temos um espaço compartilhado exclusivamente entre os alunos para testar e provocar encaminhamentos sobre modos de explorar as audiovisualidades presentes em nossos objetos, pois auxilia a estruturar nossas propostas e inquietações. É justamente nesse sentido que vejo que a construção da minha tese (que está em desenvolvimento), é inseparável das atividades que circundam a participação como membro do TCAv. A reflexão que estou produzindo hoje tendo em vista a qualificação da tese, é uma espécie de mosaico, onde cada peça carrega uma memória contendo uma espécie de sondagem para autenticar e analisar devires audiovisuais em meu objeto provocados por essa característica de “atelier” que o grupo de pesquisa estimula.
A provocação sobre o tema central da tese, atualizações de segurança, foi uma inquietação que surgiu a partir de diversos movimentos de exploração encorajados pelos encontros do grupo de pesquisa, concomitantemente às aulas ministradas pelo Prof. Peter Krapp, da Universidade da Califórnia em Irvine, que esteve como professor visitante em 2018 na UNISINOS, e depois em 2020 ao ministrar o Seminário Intensivo PRINT – Transformações Digitais e Humanidades, em conjunto com o professor Gustavo Fischer, quando foi também palestrante da Semana da Imagem, evento promovido pelo TCAv.
Quando vejo potencialidades de discussão a partir do uso de imagens técnicas como um recurso visual para a construção segurança nas interfaces, entendo haver espaço para refletir sobre a ambiquidade entre privacidade e segurança através de recursos próprios construídos na web, sendo a partir de um audiovisual de interface (conforme a proposta da Prof. Sonia Montaño (2015), envolvendo o usuário, o ambiente e a própria interface como um conjunto a partir de uma visão tecnocultural), que está inserido numa “infoestética” pela proposta de Lev Manovich, que reside em detectar formas estéticas e culturais características da sociedade da informação, entendo haver um grande elo entre todo o trabalho realizado no TCAv, complementado pelas disciplinas e autores apresentados no PPGCC UNISINOS. Compartilho abaixo alguns exercícios preliminares que foram feitos sobre a empiria e que ilustram ensaios para a problematização do objeto.
Portanto, encerro esse breve relato com uma citação do autor Didi-Huberman, primeiro autor que o Grupo TCAv me apresentou, sobre a relação da temporalidade das imagens a partir do questionamento do historicismo proposto por Benjamin, caracterizando as imagens como dialéticas: “seu aparecimento no presente mostra a forma fundamental da relação possível entre o agora (instante relâmpago) e o tempo passado (latência, suavidade), relação cujos rastros serão guardados pelo futuro (tensão, desejo)”. (Didi-Huberman, 2006, p. 170).
Se quiser saber mais sobre minha dissertação de mestrado, sob orientação do Prof. Dr. Gustavo Daudt Fischer, é possível acessar aqui:
http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/5184?locale-attribute=es
A tese sob orientação da Prof. Dra. Sonia Montaño está em desenvolvimento, mas uma construção anterior ao conceito de problematização atual pode ser encontrada aqui: https://tecnoculturaaudiovisual.com.br/seminario-de-tese-2020-1/
*Roberta Krause. Doutoranda. Bolsista CAPES.
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