Minha Pesquisa no TCAv — Gabriel Palma 

Bem-vindos à mais uma edição do “Minha Pesquisa no TCAv”, a série que apresenta as pesquisas em andamento dos mestrandos e doutorandos da linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais e expõe reflexões relativas à presença das audiovisualidades e da tecnocultura nos objetos empíricos da pesquisa. 

Hoje vamos ver um pouquinho do meu trabalho, até então, intitulado de “TikTok como devir da Cultura do Remix: As remixabilidades audiovisuais nos Challenges da plataforma.” Sob a orientação do Professor Dr. Gustavo Fischer. 


Mas antes de qualquer coisa, olá! 

Me chamo Gabriel, sou de Porto Alegre (RS), graduado em Publicidade e Propaganda pela Unisinos e atualmente mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos, onde integro a linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais e o Grupo de Pesquisa TCAv. Ao grupo gostaria de agradecer a oportunidade de explicar o que trata a minha pesquisa. Não sou um TikToker e confesso que sou um péssimo dançarino apesar de ter feito parte de um grupo de dança gauchesca na infância. ^_^

Meu interesse de pesquisa surge da perspectiva do remix, não só, mas principalmente a partir da música. Um dos elementos que considero motivadores para minha curiosidade a respeito do tema se dá no documentário “Everything is A Remix”, lançado na plataforma digital Vimeo por volta de 2013. Vi a produção pela primeira vez ainda na graduação, em 2015, e desde então venho pesquisando direta e indiretamente o assunto. Esse inclusive foi o motivador para escrever o meu TCC, que na época (2018-2019) abordava do retorno dos GIFs à cultura popular digital através da aplicação em memes e recortes de produções audiovisuais. 

E esse tema por sua vez acabou motivando minha intenção em pesquisar sobre o TikTok no mestrado. A ascensão em números de usuários do aplicativo entre 2019 e 2020 despertou minha atenção e o colocou no radar de possibilidades de pesquisa. Ao ingressar e ter os primeiros contatos com a plataforma Chinesa, percebi que ali existiam potências audiovisuais que ainda não tinham sido exploradas por outras redes sociais digitais. 

Destaco aqui a combinação que o aplicativo apresenta entre as conhecidas funcionalidades de interação, postagem e compartilhamento, presentes em redes sociais digitais aliadas com ferramentas de edição de vídeo, antes destinadas apenas aos computadores pessoais, somadas à um potente banco de dados composto por músicas, áudios e remixes que cresce diariamente proporcionando os insumos necessários para que os seus usuários construam peças audiovisuais complexas no ponto de vista técnico, mesmo que não possuam conhecimentos avançados de software.  

Para mim, esse é o grande diferencial da plataforma. Claro que antes do TikTok já era possível criar vídeos de memes. No entanto, isso exigia um bom conhecimento dos softwares de edição e acesso à um computador. O TikTok quebra essa barreira e a meu ver traz como consequência a popularização da produção audiovisual.  

Meu intuito de pesquisa então era de compreender como a estética das produções do TikTok contagiavam outras mídias para produzir uma cultura de remix. A partir da aplicação do método intuitivo de Bergson, foi possível perceber que essa problemática era falsa, pois confundia diferenças de natureza com diferenças de grau. Então fiz diversos ajustes para enriquecer e simplificar o problema de pesquisa como proposto por Bergson através de Deleuze (2004) “[…] a simplicidade não exclui uma multiplicidade qualitativa e virtual, direções diversas nas quais ela se atualiza.”. Cheguei então em meu problema de pesquisa atual, que busca investigar quais remixabilidades audiovisuais surgem dos challenges do TikTok? 

Os Challenges para quem nunca ouviu falar podem ser caracterizados como uma reencenação de algum viral que é repetida pelos participantes utilizando sua própria imagem. Um exemplo que gosto de utilizar é o do “Yeehaw Challenge”, que se manifestou em dezembro de 2018, com a música “Old Town Road”, do Rapper Lil Nas X. Com a temática do cowboy e uma batida característica, a música virou o desafio em que os usuários precisavam vestir o chapéu e as botas de cowboy enquanto dublavam o refrão. 

Assim, o meu objeto empírico deixa de ser a plataforma em uma perspectiva generalista e passa a ser representado pelos usos e remixabilidades que acontecem dentro do app. E aí eu consigo retomar a perspectiva do remix na minha pesquisa. Seja o remix musical, remix visual, ou remix de técnica.  

Com isso em mente, avançamos para as metodologias de análise, que estão centradas na cartografia, conforme composto por Kilpp (2010. P.27) “A cartografia, cuja origem seja, talvez, a geografia e a topografia, é método (ou procedimento, em alguns casos) proposto também em outras áreas de conhecimento para desenhar mapas conceituais.”. Estes mapas, serão compostos por outros procedimentos que vamos ver a seguir com o objetivo de compor um rigor metodológico que seja ao mesmo tempo flexível, “para que não enclausurem a potência da imagem em uma fórmula qualquer.” (KILLP, 2013. P.23). 

Aqui entra o personagem do vadio, do errante, presente na poesia de Charles Baudelaire e outros escritores franceses do século XIX, o “Flâneur”, é uma alegoria que se transforma em método na leitura de Massimo Canevacci (1997) sobre a filosofia de observação de Walter Benjamin. Canevacci nos propõe a busca de uma desorientação, uma mudança de ares que nos ajude a ver o objeto com outros olhos. Assim, me coloco como um estrangeiro no TikTok ao excluir os dados do aplicativo armazenados em meu smartphone e iniciar uma sessão sem fazer login ou qualquer tipo de cadastro. (ponto que se mostra como um diferencial frente às outras plataformas de redes sociais, como Instagram e Facebook, por exemplo). Dessa forma consegui ter acesso e analisar os vídeos que estavam sendo tendência naquele momento com o mínimo de influência pessoal na apresentação do conteúdo.  

Claro que ser completamente anônimo não é possível em um mundo digital, uma vez que os dados de localização, idioma e tipo de dispositivo são transmitidos sem a minha autorização para os servidores da plataforma, onde quer que eles estejam. 

Estes materiais foram baixados (função disponível no próprio aplicativo) e colocados em uma pasta pessoal no Google Drive. Na primeira rodada que aconteceu em três de novembro de 2021, foram selecionados cerca de 40 vídeos, destes, começou então o processo de colecionar, foram separados os vídeos de acordo com as suas temáticas, neste contexto três agrupamentos surgiram: 2000s, A queda e Coração Cachorro. Estas três coleções da imagem abaixo, representam os materiais mais populares do dia. 

Fonte: Elaborado pelo autor

Após colecionar, parti para a dissecação das imagens, que como no estudo da anatomia, busca desagregar um corpo, um todo, para estudá-lo e compreender seus processos de funcionamento em detalhe. (Kilpp, 2010. P.28). Esse é um procedimento de ordem técnica que discretiza digitalmente a imagem técnica audiovisual, que é sempre discreta, em qualquer suporte. Ao intervir nos materiais empíricos, ela dá a ver as montagens, os enquadramentos e os efeitos de imagens discretas que não têm sentido no vídeo, mas que são praticados para produzir sentidos.  

Para executar esta dissecação, escolhi a coleção intitulada “Coração Cachorro”, baseada na canção de mesmo título. Dos inúmeros vídeos relacionados à esta música que haviam sido produzidos pelos usuários da plataforma do TikTok, foram selecionados os quatro primeiros vídeos sugeridos pelo algoritmo no flanar. Estes vídeos podem ser vistos na imagem abaixo. 

Fonte: Elaborado pelo autor

Este aglutinado de imagens busca de alguma forma relacionar as materialidades observadas com outros objetos audiovisuais. Pela frente, ainda preciso desenvolver as constelações de imagens, a fim de construir mapas cartográficos que auxiliem na análise. Também já recolhi mais uma rodada de material através de Flânerie e estou no processo de organização. No momento, minha pesquisa está se encaminhando para o seminário de dissertação e banca de qualificação. Penso que me encontro no meio da jornada e que ainda tenho um bom percurso para ser percorrido. Dessa forma, acredito que minha pesquisa possa contribuir expandindo os conhecimentos a respeito do TikTok ao abordar o âmbito das materialidades, compreendendo as audiovisualidades que ocorrem dentro do app através dos Challenges.  


Texto: Gabriel Palma * 

Revisão: Max Cirne

 

REFERÊNCIAS: 

BERGSON, Henri. Matéria e memória: Ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. 

CANEVACCI, Massimo. A cidade polifônica. São Paulo: Studio Nobel, 1997. 

DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. São Paulo: Ed. 34, 2004. 

KILPP, Suzana. A traição das imagens. Porto Alegre: Entremeios, 2010. (p. 13-29) 

KILLP, Suzana; FISCHER, Gustavo (org.). Para entender as imagens: Como ver o que nos olha? Porto Alegre: Entremeios, 2013. 


* Mestrando. Bolsista CAPES (modalidade taxa). 

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