Na sexta-feira, dia 04 de outubro, às 9h, ocorreu a banca de defesa de tese da discente Flóra Simon da Silva, intitulada “Monstruosidades contemporâneas na série Castle Rock” e orientada pelo professor Dr. Tiago Ricciardi Correa Lopes. A banca ocorreu em formato online e contou com a avaliação dos professores Dr. Michael Abrantes Kerr (UFPel), Dra. Nikelen Witter (UFSM), Dra. Ana Paula da Rosa (UFRGS) e Dr. João Ricardo Bittencourt (UNISINOS).
A discente iniciou sua apresentação destacando objetivo geral da pesquisa em compreender a atualização da qualidade de monstro na série “Castle Rock” a partir da memória da mídia, dos usuários e das plataformas de comunicação. A tese aborda diversos conceitos importantes para a linha de pesquisa, como audiovisualidades, tecnocultura, corpo e dialética, partindo do entendimento que a experiência audiovisual é produzida pelo corpo do usuário que complementa a tecnologia, dado seu potencial para colaborar com as informações apresentadas e para criar outras imagens. A abordagem a respeito de monstros e monstruosidades não se restringe apenas a características físicas, mas principalmente enquanto uma qualidade que se atualiza nas narrativas audiovisuais, conforme seu contexto histórico, expandindo para plataformas e interfaces.
Das monstruosidades audiovisuais às audiovisualidades monstruosas
A tese articula cinco movimentos metodológicos. Utiliza, inicialmente, a flânerie para explorar as narrativas na série e as manifestações das monstruosidades ao longo dos episódios, assim como nas materialidades da interface, e a cartografia com o intuito de oferecer uma estrutura sistemática para organizar e interpretar as informações coletadas. A realização de um inventário permitiu catalogar as relações entre as diferentes representações de monstros e, por fim, o método das molduras possibilitou a criação de um “quadro” ou “moldura” que delimita os aspectos monstruosos dentro de uma imagem ou representação a fim de observar os sentidos que emergem dessa delimitação.
A análise das monstruosidades da série começa logo na vinheta de abertura que remete a outras obras de Stephen King, revelando tratar-se de um universo mais amplo capaz de evocar memórias. A partir da coalescência dessas imagens em “Castle Rock”, estabeleceu-se quatro coleções: Espaços monstruosos de Stephen King (importância do autor como figura central na construção da identidade cultural da cidade de Castle Rock); Olhos de Kid (apresentados como uma representação virtual do corpo monstruoso, cuja virtualidade sugere que a percepção do monstro é mediada por elementos visuais que transcendem a materialidade do seu corpo); Janelas monstruosas (formadas a partir das imagens já coletadas, dialogam com representação vistas em outros filmes, representam continuidade na história do cinema e podem se evocar memórias de outros filmes) e Memória do monstro clichê (como a série transforma a imagem tradicional do monstro, atualizando com personagens que não necessariamente possuem imagens monstruosas).
A partir desses sentidos em “Castle Rock”, Flora olha para outras materialidades a partir da flânerie e molduras, propondo ethicidades monstruosas nas plataformas e mídias sociais. São elas: Virtualidade dos corpos monstruosos (nos ambientes digitais, os corpos são frequentemente “virtualizados” em representações que transcendem suas limitações físicas); Latência e memória (a percepção do monstro é mediada por elementos visuais; nas plataformas digitais, essa ideia se expande para incluir a virtualização; a latência pode ser percebida a partir de uma ausência que cria a sensação de medo e desconfiança) e Narrativas disruptivas e fake news (como as tecnologias digitais e as plataformas de compartilhamento influenciam a forma como o medo é experimentado e disseminado na sociedade, a partir das fake news refletindo as preocupações centrais nas obras de King sobre a natureza humana).
Considerações finais
A tese percebe a relação entre os olhos, as janelas, a memória do monstro clichê e a cidade como aspectos identitários das monstruosidades da série e dialéticas nos meios de comunicação, vistos como um aspecto monstruoso hegemônico comum a outras materialidades. Para Flóra, são nas audiovisualidades monstruosas encontradas nos meios que se identificam movimentos tecnoculturais do nosso tempo, revelando formas de se comunicar hoje, voltando-se à sociedade, cultura e política brasileira. As monstruosidades em “Castle Rock” não são apenas figuras fictícias, mas reflexões críticas sobre a condição humana e as complexidades da comunicação digital.
Avaliação
A banca destacou o olhar provocativo da tese sobre a série e também sobre suas imbricações técnico-estéticas na tecnocultura contemporânea. Para os professores, as quatro coleções propostas revelam uma abordagem profunda e reflexiva sobre a monstruosidade em “Castle Rock”, indo além do audiovisual quando identifica ethicidades para imergir em camadas mais complexas que envolvem a memória, espaço e tecnocultura em plataformas e interfaces. A discussão da pesquisa, muito bem estruturada em seus capítulos, abre caminhos para ser explorada por outros prismas e materialidades em investigações futuras.
Texto: Max Cirne
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