* A doutoranda Aline Corso, orientada pelo Dr. Gustavo Fischer, está em período de coleta de dados na Coreia do Sul, onde desenvolve tese sobre Nam June Paik, com uma visada tecnocultural, imagética e temporal.
Paik’s Video Study, lançado em janeiro de 2022, coincidindo com o aniversário da morte de Nam June Paik, é o único sistema online de arquivos de vídeo do artista. Paik esperava que o Nam June Paik Art Center se tornasse o líder mundial entre os museus na pesquisa de seus arquivos de vídeo.
O site, uma realização da esperança do artista, permite que os usuários desfrutem e pesquisem os vídeos de Paik, bem como criem seus próprios estudos de vídeo usando o recurso de fazer sua própria lista. Além disso, os usuários podem conferir resultados de pesquisas relevantes criadas e coletadas pelo Nam June Paik Art Center durante os últimos 10 anos.
O centro de arte terminou a conversão do arquivo de vídeos para o formato digital em 2016 e os 700 vídeos incluídos na plataforma incluem “Good Morning Mr. Orwell Paris Live”, “Bye Bye Kipling Post”, “Zen for Walking: Dragging the Violin” e “KBS Year – end Special 1984 Good Bye Mr. Orwell”.
Sobre o conteúdo:
VÍDEOS
Um ponto crucial, VIDEOS apresenta os vídeos do Nam June Paik Art Center Video Archives. WORKS compreende várias edições e clipes de vídeos de canal único de Paik e obras de origem para esculturas de vídeo e instalações. DOCUMENTAÇÕES inclui entrevistas de Paik e colegas, vídeos de documentação de exposições, bem como performances, vídeos caseiros e filmagens para obras de arte e transmissões. BROADCASTS consiste em documentários, entrevistas e clipes de notícias transmitidas através de emissoras.
ARQUIVOS
ARCHIVES apresenta imagens e textos relevantes das coleções de arquivos do Nam June Paik Art Center. NAM JUNE PAIK consiste em itens de arquivo como fotografias, folhetos, cartazes, convites, recortes relacionados aos vídeos de Paik. NAM JUNE PAIK ART CENTER compreende imagens de exposições realizadas no NJP Art Center, que melhoram a compreensão dos vídeos de Paik. RESEARCH carrega textos publicados sobre a prática artística de Paik.
COLEÇÃO
COLLECTION apresenta imagens de trabalhos seletivos de Paik da coleção de arte do NJP Art Center. As obras de Paik incluem escultura e instalação, fotografia, robô, pintura e maquinário.
Para Paik, o vídeo tem a função diluir a densidade de um fato e fenômeno e o espalhar por toda parte. Gostaria de citar uma entrevista (2022, online, tradução nossa) um pouco longa, de Paik com Toshio Matsumoto (1932-2017), diretor de cinema e teórico da imagem que também foi membro da Universidade de Tóquio. A conversa é uma pista importante para entender a estética visual de Paik que valoriza as relações abertas.
Matsumoto – Global Groove dá a impressão de que o fundamentos de Nam June Paik foram estabelecidos. Para os vídeos de Paik, o significado de um signo é insignificante e tudo se desenrola como um jogo de significantes. Isso é como música visual composta de formas, cores, e movimentos, por assim dizer, com excessivas imagens disparadas continuamente como de uma máquina arma de fogo. Você pode desfrutar de tal orquestração em si, mas as pessoas que querem ler o significado do material ou desenvolvimento parecem sentir que é tão imprevisível quanto o doce Kintaro que tem o mesmo padrão, não importa onde você corte.
Paik – Porque estica e encolhe de forma flexível. Você pode pensar nisso como o bibimbap da culinária coreana e outras cozinhas (…) As críticas que recebo o tempo todo é sobre usar os mesmos materiais. Eu não considero meu trabalho como um único objeto, porque estou interessado na relação entre objetos e objetos, não importa o material (…) Eles dirão que Paik não gravar vídeos sem dinheiro, então ele reutiliza a mesma fita repetidas vezes (risos).
Matsumoto – De certa forma, acho que essa reutilização é o mundo de Nam June Paik. Uma maneira consistente de reutilizar materiais com um determinado valor para produzir valores distintos.
Essa iniciativa de construção da memória paikiana possui características tecnoculturais (tecnoimagens, montagens, design) que desloca o devir preservacionista mais habituado para um olhar que problematiza o misto (em termos bergsonianos) de matéria e memória. O Dr. Gustavo Fischer, coordenador do TCAv e do Laboratório de Resgate e Experimentação da Memória das/nas Mídias Online (LabMem) desenvolve, há anos, pesquisas sobre a memória da/na web. Ele discute “as características de diversas iniciativas presentes no ambiente online que temos chamado de ‘construtos de memória’ de materiais midiáticos (da própria web ou de outros meios)” (2017, p. 1). Ainda, no artigo “Destruído, descartado, rejeitado, apagado, efêmero, obsoleto: escavações em sítios on-line que preservam a arte nascida digital” (2019), os integrantes do TCAv Aline Corso, Camila de Ávila e Gustavo Fischer refletiram acerca da presença de sítios on-line que concentram algumas obras de artemídia e exploraram o potencial da internet para armazenar e compartilhar essas expressões criativas que, por questões de obsolescência tecnológica e instabilidade da mídia, podem desaparecer.
Fonte:
FISCHER, G. D. Vida, morte e pós-morte do Geocities: memória em degeneração/regeneração e nostalgia como crítica no projeto One Terabyte of Kikobyte Age. In: James Guterres de Mello; Marcelo Conter. (Org.). A(na)arqueologias das mídias. 1ed.Curitiba: Appris Editora, 2017, v. 1, p. 141-156.
https://njp.ggcf.kr/wp-content/uploads/2022/05/4_2_MaJungYeonEng.pdf
Autora: Aline Corso
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