Em mais uma matéria da série de egressos do TCAv, o convidado da vez foi Fabricio Tarouco, o qual concluiu seu doutorado em Ciências da Comunicação no Programa de Pós-Graduação da UNISINOS entre os anos 2011 a 2014, sob orientação do professor Gustavo Daudt Fischer. Atualmente é Coordenador do Bacharelado em Design e pesquisador nos Programas de Pós-Graduação em Design e em Arquitetura e Urbanismo, também da UNISINOS.
A pesquisa
Com sua tese intitulada A Metrópole Comunicacional que emerge dos Aplicativos para Dispositivos Móveis #umestudoemcomunicaçãoedesign, Fabricio teve seu interesse na pesquisa instigado com base nas transformações realizadas nas práticas do indivíduo que até então vivia em um mundo predominantemente analógico, para as inovações do século XXI, passando a depender de uma série de equipamentos tecnológicos para interagir com o meio em que vive.
Sendo assim, seu estudo partiu inicialmente da constituição de uma tríade entre um conceito – a metrópole comunicacional -, um atributo – a cidade softwarizada -, e um suporte – os aplicativos móveis, cuja intenção foi tensionar os conceitos de metrópole comunicacional e cidade softwarizada a partir de um estudo das prováveis práticas e interações que os aplicativos para dispositivos móveis proporcionam, levando à constituição de uma ‘nova’ metrópole comunicacional, agora mais digital.
O conceito de ‘nova’ deve ser interpretado menos pelo seu caráter de algo nascente e mais pelo aspecto de mudança que carrega consigo, ou seja, não necessariamente busca representar uma nova metrópole em formação, mas sim uma nova configuração desta metrópole.
Ao optar pelo conceito de metrópole comunicacional, dos estudos de Massimo Canevacci, Fabricio buscou uma articulação na perspectiva dos processos midiáticos que configuram a cidade contemporânea, bem como suas práticas e interações. Por sua vez, o tema cidade softwarizada resgata estudos sobre tecnocultura propostos por Lev Manovich e discutidos na linha Mídias e Processos Audiovisuais, em especial no grupo Audiovisualidades e Tecnocultura (TCAV). Por fim, a escolha por aplicativos para smartphones, deu-se à medida que o autor foi conhecendo mais sobre os produtos midiáticos destas sociedades softwarizadas, tanto pelas leituras feitas como pelas experiências vividas, entendendo os aplicativos como uma oportunidade de pensar o território, seu contexto de observação preferido, junto com a comunicação e o audiovisual.
A visão do pesquisador
“Minha aproximação com o PPG em Comunicação da Unisinos e, consequentemente, com o grupo TCAV, aconteceu por intermédio do Prof. Gustavo Fischer, que acabou sendo meu orientador no doutorado. Na verdade, eu que fui atrás dele após o seu ingresso no programa, pois eu queria continuar meus estudos, após o mestrado, e a afinidade, respeito e admiração que já existia por ele influenciaram nas minhas escolhas. Embora eu fosse de outra área, do Design, fui bem acolhido pelo grupo, que entendeu o ‘meu tempo’ de adaptação e conduziu-me de forma estimulante durante os quatro anos que estive com eles. Registro que, além do Gustavo, a Suzana Kilpp, a Cybeli Moraes, o Tiago Lopes, a Sonia Montaño e o Daniel Petry, foram pessoas que convivi, aprendi e tenho como referência, além da amizade que ficou. Muitas escolhas que faço nas minhas atividades acadêmicas de hoje são, com certeza, influenciadas pelo tempo que convivi com essa turma (do bem).“
O impacto da pesquisa
Segundo Fabrício, desde sua conclusão do doutorado no PPG em Ciências da Comunicação, o mesmo acredita ter realizado alguns passos significativos, tendo assumido em 2015 uma vaga como pesquisador na ‘Linha Cidades’ do Mestrado Profissional em Arquitetura e Urbanismo e em 2019, integrando o PPG em Design, ambos da UNISINOS.
“Neste período, já orientei 7 dissertações defendidas e algumas mais estão em andamento, além de alguns projetos focados em estratégias territoriais que venho coordenando junto ao mercado do turismo gaúcho. Sigo na Unisinos, onde estou desde 2007, e meu recorte como pesquisador está centrado nos temas Cidades Criativas, Smart Cities e Experiências Urbanas.“
Nestas pesquisas recentes, resgato os fundamentos e reflexões que consolidam e aprofundam o conceito de design estratégico, buscando desdobrá-lo analisando-o em estudos e observações de experiências territoriais em ecossistemas urbanos criativos. Acredito que os movimentos que acontecem na economia criativa, na cultura, na comunicação e no design vêm modificando a característica dessas experiências, nas quais a cidade passa a ser vista pela classe criativa como um laboratório a céu aberto para experimentação de novas práticas, serviços e tecnologias. Sendo assim, as experiências territoriais observadas por mim são dinâmicas cotidianas realizadas por frequentadores de espaços públicos, com foco na ampla variedade de interações multissensoriais ao ar livre, em parques e praças, paradas de ônibus, calçadas, bem como em pontos turísticos e culturais, entre outros similares. A partir das práticas, análises e processos criativos do design estratégico no contexto urbano, desafio-me a compreender como estimular, qualificar, inovar e ampliar os usos criativos do espaço urbano por parte de seus frequentadores.
Por fim, Fabricio menciona que, para não esquecer de seus tempos de TCAv, inspira-se constantemente na contribuição fundamental sobre a interpretação do cenário urbano, e as experiências ecossistêmicas e criativas que nele acontecem, proposta por Walter Benjamin e pode ser encontrada em muitas de suas publicações, como “Passagens”, “Paris, Capital do século XIX”, “Rua de Mão Única”, entre outras obras.
“Nestes estudos, três elementos destacam-se por oferecer subsídios importantes para o que se está propondo investigar: a introdução da figura do observador (flâneur), bem como de um narrador, além de lançar premissas para uma leitura das cidades.”
Texto: Fabrício Tarouco e Julia Souza.
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