Por onde andam os Egressos do TCAv? Lorena Risse

Integrando a série de matérias sobre os egressos do TCAv, com objetivo de criar uma memória dos membros e das respectivas pesquisas que fizeram parte da trajetória do grupo, a convidada desta semana é Lorena Risse.

Lorena Risse é paraense e mora no RS há 12 anos, onde fez toda a sua formação acadêmica. Jornalista, Mestra em Comunicação e Informação pela UFRGS e Doutora em Ciências da Comunicação pela Unisinos, pela linha mídias e processos audiovisuais. Atualmente ela atua em três frentes: como professora do curso de MBA em Marketing da Unilasalle, como CEO do Estúdio de Criação Casulo PD e como Supervisora de Planejamento da VMLY&R.

“Estas experiências unem o meu principal interesse profissional: produção de conteúdo e estratégia digital. Gosto de pensar nas lógicas dos ambientes digitais, nas possibilidades de conexão que o conteúdo pode criar, e o estúdio de foi uma forma de levar os meus conhecimentos aos outros de uma maneira mais prática”, explica.

Conversamos com Lorena Risse, que relatou um pouco a respeito do seu processo de pesquisa, relação com o TCAv e o impacto social da formação acadêmica após a conclusão do doutorado.

Pode comentar um pouco sobre as descobertas que fizeste na pesquisa no âmbito do TCAv?

L.R.: A pesquisa de doutorado teve como foco o que chamei de Imagicidade Efêmera Digital, uma qualidade presente no ambiente digital e que possui lógicas e estéticas muito próprias que já estão atravessando este espaço e transbordando para outros meios. Tive um encontro muito produtivo com o Instagram, em especial, apesar de ter trabalhado em paralelo com o Facebook e o Snapchat.

Tive descobertas de diversas ordens, destaco as de cunho metodológico, a pesquisa teve um grande ganho com as práticas empíricas realizadas no Labtics e com o uso do pensamento arqueológico. Considero a tese como um grande exercício de escavação que buscou elementos de tempos e espaços diversos para evidenciar a potência qualitativa do objeto.

Além disso, destaco a relevância do tema de pesquisa, já que dialoga e constrói um amplo terreno teórico sobre as práticas comunicacionais contemporâneas naturais das redes sociais, essencialmente das redes imagéticas. 

Como ela influenciou tua percepção e atuação no mercado de trabalho que atua hoje, incluindo acadêmico?

L.R.: A tese foi a base de toda a minha visão de mercado atual. Foi a partir dela que pude aprofundar os conhecimentos de ordem técnica e sofisticar as minhas propriedades analíticas. Acredito que o mercado da Comunicação Digital, da produção de conteúdo audiovisual voltada para a internet, necessite dessa junção.

O que vemos hoje é uma avalanche de profissionais que não se dedicam mais a fazer essa reviravolta e acabam se perdendo em estratégias e posicionamentos montados única e exclusivamente a partir de métricas. A trajetória dentro da academia me deu uma compreensão mais ampla dos processos e me permitiu construir uma interessante base de referências que são essenciais para quem trabalha com criatividade e conteúdo.

Compreendo que o futuro próximo dessa área esteja muito ligado à percepção desses modos de ser e agir digital, das modulações estéticas que nascem neste espaço e de um olhar cuidadoso e ético com relação às conexões interpessoais que se constroem ali. 

Houve algum desdobramento da pesquisa?

L.R.: Sim, um deles é o Pensar a Imagem, um projeto que busca dar visibilidade às práticas de pesquisa ligadas à imagem. Eu divido esse espaço com a colega Madylene Barata e a nossa intenção é a de criar cursos e serviços de consultoria acadêmica, mas ainda não encontramos tempo para isso.

A Casulo, por outro lado, oferta todo o serviço de gestão de projetos digitais, além de mentorias e consultorias para empresas e pequenos negócios. É nesse espaço, que também é de ensino e aprendizagem, que acabo reverberando muitos dos aprendizados de sala de aula que tive com os professores e com o grupo de pesquisa. Tenho a oportunidade de formular soluções, criar cenários e dar uma visão mais profunda sobre os usos das redes sociais e a edificação de marcas, assuntos que permeavam a minha atuação enquanto doutoranda. 

E como percebe a influência da experiência no TCAv na tua formação acadêmica, profissional e/ou pessoal?

Vejo a minha trajetória muito entrelaçada à Unisinos e ao TCAv, foram nesses espaços que eu conheci as minhas principais referências e que eu construí uma pesquisa da qual tenho muito orgulho. Passar pelo grupo me oportunizou o contato com pessoas de diversos lugares do Brasil e do mundo, pessoas com as quais eu construo projetos e ideias até hoje, além de todo o impacto subjetivo que um ambiente como este promove. Cresci muito dentro do programa, amadureci minha visão enquanto pesquisadora e vi que a docência é a prática que mais me preenche e que eu buscarei a partir daqui. 

Como você percebe o impacto social da realização do doutorado?

Gosto muito dessa pergunta porque ela abre um espaço de visibilidade para pesquisas como a minha, que se debruçaram sobre objetos incomuns, objetos que demandavam um mergulho mais abstrato para abarcar a complexidade dos empíricos e que encontram ainda resistência por parte dos pares mais conservadores. De modo geral, vejo que o impacto da pesquisa se tornou mais potente justamente por ter sido feita no lugar certo e no tempo certo, fato que teve como resposta a construção de uma tese que focou em assuntos contemporâneos, que debateu o tema da efemeridade de modo relacional com ambientes como o Instagram, o Facebook, Snapchat, espaços de sociabilidade altamente utilizados, vistos e experimentados, mas nem sempre com este olhar crítico. 

Acredito que o maior impacto da pesquisa foi trazer esse tema para a superfície e construí-lo a partir de objetos que estão tão em voga hoje. Muitas vezes vi surpresa nos olhos e nas falas das pessoas ao escutarem o título da tese e ao perceberem que na academia também se faz pesquisa sobre assuntos da cultura pop, ou com um olhar filosófico sob objetos que geralmente não inspiram essa angulação teórica. Abrir essa cortina foi e é muito importante porque faz parte da democratização da pesquisa que tanto se fala, mas pouco se pratica. 

No meu cotidiano e no desenvolvimento dos projetos digitais que tenho encabeçado, a tese e a pesquisa como um todo me fez entrar em contato e exercitar uma ampla construção conceitual sobre essas plataformas, me deu um repertório de práticas e estéticas muito particular, que são essenciais nos processos criativos que me envolvo, além de ter me proporcionado um mergulho único neste universo digital.

Para ler a pesquisa de Lorena Risse, “A efemeridade na tecnocultura: escavações em aplicativos de imagens feitas para sumir”, acesse a Tese publicada aqui.

Entrevista: Juliana Koetz

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