Dando sequência a série “Por onde andam os egressos do TCAv”, hoje trazemos Raquel Saliba, jornalista (PUCRS) e mestra em Ciências da Comunicação no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS, na linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais, entre os anos de 2014 e 2016, sob a orientação da Dra. Sonia Estela Montaño La Cruz.
Em sua trajetória fora da academia, Raquel desligou-se do Grupo RBS em 2019, onde atuava como produtora de vídeos e começou a trabalhar com marketing digital em uma corretora de investimentos. A egressa comenta que “além de se jogar em um mundo completamente novo que é o mercado financeiro, me vi inundada por inovação. Sou sócia e líder de Social Media da Warren Brasil, que é uma fintech criada em cima da premissa de oferecer a melhor experiência digital em investimentos no paísâ€.
Sobre a dissertação
Sua dissertação, intitulada A construção do jornalismo audiovisual na web: um olhar sobre o New York Times e o BuzzFeed, teve como propósito compreender a tecnocultura dos novos meios abordando, especificamente, o jornalismo audiovisual na web, através da análise dos portais New York Times e BuzzFeed feita com a metodologia das molduras. Desconstruindo as imagens, Raquel percebeu caminhos diferentes nas tentativas de apropriação do meio em um estágio transitório da técnica que, ao mesmo tempo em que experimenta as lógicas das rede, recicla os imaginários mais tradicionais de construção do jornalismo tendo o audiovisual no centro desses processos.
A construção da pesquisa e questionamentos
Na construção da pesquisa e, inicialmente, na busca de estruturação do meu trabalho de pesquisa, Raquel se propôs a estudar a metodologia das molduras, “pois tinha proposto como um dos principais objetivos dela a dissecação das principais molduras e moldurações que participam da produção de sentidos do jornalismo audiovisual nos dois objetos empíricos abordados na pesquisa”. A pesquisadora afirma que o embasamento teórico da pesquisa precisa ser construído a partir de uma premissa e, na ocasião, “optei por analisar os objetivos pela perspectiva de Bergson (meu amor, meu ódio), como uma virtualidade. Que se atualiza nas mídias e acaba por transcendê-las. Isso fez com que eu pensasse no jornalismo audiovisual como uma constante, com diversas molduras que se atualizam e referenciam outras plataformas”. Esta perspectiva levou Raquel a pensar “nos objetos empíricos como imagens técnicas, como conceitos de jornalismo audiovisual, conceitos da web e conceitos do mundo contemporâneo encadeado técnica e esteticamente por cada uma das empresas e em cada uma das interfaces em questão”.
“Isso fez com que eu, ao longo da pesquisa e, posteriormente, nos meses que se seguiram, me questionar sobre comunicação e jornalismo. Pois entendi a web como um metameio para a construção do jornalismo audiovisual e, nas considerações finais do meu trabalho, citei que essa construção do jornalismo audiovisual deixou latente uma ‘tensão do antigo com o novo’. E, também, uma tentativa de experimentar mas sem se desvencilhar totalmente de imaginários anteriores. O maior impacto disso tudo foi entender o ambiente jornalístico como limitante para o espectro inovador do ambiente digital. Pois a questão da construção audiovisual é própria do meio web e pode ser observada em evolução mais rápida em outras formas audiovisuais que não o jornalismo”.
Hoje, trabalhando com digital e com audiovisual, mas focada em marketing dentro de uma fintech, a Warren Brasil, percebe que “o mercado de startups é uma rotina de inovação constante e de muito espaço para experimentação. Há muito poucas limitações de atuação dentro deste ambiente digital, o que abre enormes pontes para novos formatos”. Raquel considera que sua pesquisa foi muito valiosa no sentido de abrir a mente para transformações e entender a construção das molduras em meio a tudo isso.
Ao escrever as respostas para esta entrevista, Raquel traz lembranças das conversas com a orientadora Sonia Montaño e diz “sei o quanto tinha espaço para avançar ainda dentro da minha pesquisa e estreitar as distâncias do audiovisual e do jornalismo, em busca de mais inovação e entendimento. Mas confesso que, ao esboçar um projeto de doutorado, alguns meses depois, tenho vontade de estar cada vez mais distante do jornalismo e mais e mais próxima das experimentações digitais. A ideia é ir para o lado dos games como ferramenta de comunicação e narrativa e com muita vontade de entender mais sobre experiência do usuário no digital”.
A visão da pesquisadora
“Confesso que ainda me impressiono por ter garantido uma vaga para fazer minha pesquisa em um PPG tão qualificado e conceituado quanto este. Ainda mais pelo meu perfil de não-exclusividade acadêmica. Além da pesquisa, eu trabalhava em uma redação de jornal, com um ritmo bastante acelerado. Eu trabalhava na Zero Hora já faziam quatro anos e havia passado por algumas áreas no jornal. Como assistente multimídia, passei por todas as etapas: fotos, vídeos, especiais digitais, montagem, edição e, de vez em quando, texto. Pouco antes de começarem as aulas, virei editora digital e comecei a atuar na edição de capas dos sites do grupo RBS. Poucos meses antes de apresentar minha dissertação, assumia toda a editoria de Imagem da redação integrada de Zero Hora, Diário Gaúcho e Rádio Gaúcha e passava a atuar, também, no ambiente com o jornal impresso. Minha vocação estava na imagem e no digital pois, mesmo quando lidava com uma mídia offline, como o jornal de papel, a construção dele é digital. E foi este contexto que me fez escolher a linha de pesquisa de Mídias e Processos Audiovisuais. Em meio a um cenário de convergência midiática e constante evolução as tecnologias, entendia que o mercado de comunicação e os veículos de imprensa vinham passando por claras transformações. O compartilhamento e a produção de imagens e vídeos já compunham a maior parte do tráfego de informação na web. E era essa construção audiovisual na internet, no ambiente do jornalismo, que me fez me abraçar em Kilpp, Montaño, Bergson e Manovich para buscar criar um pedacinho do grande quebra-cabeça que é a evolução das mídias digitais dentro da comunicação”.
O TCAv: de olhos bem fechados e mente bem aberta
Raquel menciona uma fato inusitado: “ao procurar fotos da época, achei apenas uma, da Semana da Imagem de 2011 e, justamente nesta, estou de olhos fechados. Mas lembrei de tantas leituras que fiz para as aulas e seminários e, em uma delas, acredito que para um seminário do professor João Ladeira, li um texto de Freud falando da experiência do cinema, que era pensada para ser como um sonho. E no qual você se priva de vários sentidos para ficar completamente focado naquele conteúdo.
“Esta foto me lembrou disso e é mais um indício do quanto este período me marcou. Foi um mergulho insano de conhecimento mas, mais do que isso, foi um período de muito reflexão quanto à maneira com que busco mais conhecimento e mais referências hoje em dia. A interdisciplinaridade que esta linha de pesquisa me proporcionou me fez enxergar muito mais possibilidades de atuação no mercado do trabalho e de aprendizado sobre o processo de evolução das mídias digitais (que continua ocorrendo em um ritmo cada vez mais acelerado)”.
Texto: Aline Corso
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