Dando continuidade à série de matérias sobre os egressos do TCAv, o convidado dessa semana é Ricardo Machado, que foi mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, na linha Mídias e Processos Audiovisuais entre 2013 e 2014, defendendo a dissertação em março de 2015. Atualmente, Ricardo é doutorando em Cultura e Significação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e dedica-se aos estudos de semiótica e antropofagia.
Sobre a dissertação
Com menos de 15 anos Ricardo já havia entrado em contato com a programação de sites e os construía (ainda que de maneira rudimentar) através da linguagem de marcação HTML. Posteriormente, ao entrar no mestrado, o pesquisador questionou-se a respeito dessa linguagem seguir como prioritária ainda nos dias atuais. No trabalho intitulado Técnica e Audiovisualidades: arquitetura de informação e a emergência do homem na tecnocultura ele procura responder ao problema de pesquisa “Como a técnica (como conceito) se atualiza na estética da Arquitetura de Informação da home page de ZH?” e, a partir disso, estabelece relações entre as dimensões da técnica e das audiovisualidades buscando compreender então as condições de emergência de um tipo de Arquitetura de Informação hegemônico como técnica de organização de dispersões no espaço digital.
Partindo do pressuposto de que a técnica é uma dimensão das audiovisualidades que não é visível, mas fundamental para sua existência, o pesquisador utilizou-se do autor Henri Bergson, dos conceitos de infoestética de Lev Manovich, além das ideias de Marshall McLuhan, Michel Foucault e Suzana Kilpp. Ricardo Machado destaca em sua dissertação um alto grau de rastreabilidade e um primoroso processo de controle dos internautas por meio de um conjunto de regras que organiza o espaço a partir do texto HTML. Na época de sua produção, o debate a respeito do potencial dos algoritmos e as consequências sociais dessas técnicas não estavam tão evidentes no campo da comunicação como nos dias de hoje.
A visão do pesquisador
“Ter feito mestrado e ter participado do grupo TCAV é motivo de muito orgulho da minha parte. Eu já convivia com os professores do grupo quando ainda era bolsista de iniciação científica e pra mim foi uma alegria enorme poder reencontrá-los no mestrado. Foi muito desafiador e sempre foi motivo de muito aprendizado e muita atenção porque o aprendizado também vem do desconforto e as tensões das aulas e as reuniões do grupo sempre me motivaram muito, sempre discussões muito sérias e profundas que me fizeram amadurecer. Sou muito grato por esse convívio com os professores e os colegas. Ter feito a minha dissertação de mestrado dentro desse ambiente foi algo muito inspirador e que até hoje me motiva.”
Assista ao vídeo completo enviado pelo pesquisador comentando a respeito da dissertação defendida em 2015 no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos e de sua experiência no TCAv:
O impacto social da pesquisa
“É sempre muito difícil mensurar o impacto da pesquisa, porque os resultados dos algoritmos de busca mostram apenas uma parte do resultado. Também é um pouco difícil de falar dos resultados da pesquisa do ponto de vista subjetivo sem escorregar em um hedonismo meio bobo. Dito isto, gosto de pensar que quando fiz a pesquisa não tinha nenhuma preocupação com a utilidade imediata ou tardia de sua aplicação e penso que a pesquisa científica não pode ficar restrita a alguma serventia linear, porque isso tende a atrapalhar o processo científico (basta observar o caso das vacinas contra a covid, cujos interesses políticos se sobrepõem à ciência). Isso não significa que a pesquisa científica deva ser completamente desconectada da realidade onde está inserida. Vejamos o Brasil, um país profundamente desigual, com desafios imensos, onde vivemos com alta tecnologia, com fábricas de semicondutores com alto padrão de higiene (sem pó) e a menos de quatro quilômetros dali pessoas vivem como no século XIX, sem água tratada, sem esgoto, com fome. Esses paradoxos são importantes de serem levados em conta para compreendermos as complexidades do que significa fazer pesquisa no Brasil. Finalmente, sobre a minha dissertação, gosto de pensar que ela trazia uma discussão se colocando no lado das pessoas, não das corporações, de tal modo que a crítica central da investigação se volta para o controle biopolítico sobre os internautas que rende os milhares, talvez bilhares, de dólares que são parte do patrimônio das grandes corporações de tecnologia e comunicação. Hoje, esse debate está bastante concentrado nas pesquisas sobre as plataformas e aplicativos digitais. Enfim, alegra-me pensar que lá atrás esses debates estavam dados na minha pesquisa, apesar dos meus limites. É tudo uma questão de pensar em perspectiva e nesse sentido é importante perceber que aquelas discussões da dissertação permanecem latentes, ainda que sob outros registros. Se a minha pesquisa contribuiu ou não é difícil dizer, mas faz parte desta constelação de investigações.”
Texto: Amerian Aurich e Ricardo Machado
Links: Site Antropofagias de Ricardo Machado
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