Dando continuidade à série de matérias sobre os egressos do TCAv, cujo objetivo é criar uma memória dos membros e respectivas pesquisas que fazem parte da trajetória do nosso grupo, o convidado dessa semana é Ricardo Weschenfelder. Doutor em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, na linha Mídias e Processos Audiovisuais entre 2012 e 2016, Ricardo segue a carreira acadêmica, lecionando na Unifebe (Centro Universitário de Brusque) nos cursos de Design Gráfico, Publicidade e Jogos Digitais, onde coordena o curso de pós-graduação em Cinema e Audiovisual.
A pesquisa
Em seu doutoramento, Ricardo foi orientado pela Profa Dra. Suzana Kilpp. Em sua proposta inicial de ingresso pensava em estudar o extra-campo, elementos que estão fora do quadro na composição de imagens fílmicas, com um projeto de caráter histórico. Esse projeto, conforme comenta Ricardo, “foi acertadamente desconstruído pela orientadora, chegando a tese de título ‘Rastros do Invisível no Plano Cinematográfico””. O processo de pesquisa então se voltou para questões mais filosóficas acerca do invisível, assim como o tempo e a memória no cinema.
Para Ricardo, “a memória é como um conjunto de imagens ausentes que se manifestam em diferentes formas de presença para o espectador de cinema”.
A tese então propõe, partindo da metodologia das molduras desenvolvida por sua orientadora, uma metodologia para análise do invisível no cinema, trabalhando conceitos como a memória, em sua concepção bergsoniana, rastros, a partir de Walter Benjamin e quadros por Jacques Aumont. Ricardo comenta que desenvolveu quatro conceitos sobre o invisível no cinema:
– Olhos ausentes, isto é, o deslocamento de olhares na cena de cinema, entre personagens, espectadores e o olhar da câmera (diretor).
– Pontos Cegos que envolve determinados espaços do plano ou da cena do qual o espectador não consegue ver.
– Re-quadros são re-enquadramentos na imagem, que multiplicam os quadros da cena, realizados por elementos do cenário como janelas, portas, paredes e espelhos.
– Rotação trata do trânsito entre personagens e lugares na narrativa do filme, que aparecem e se escondem no mundo do filme.
Deslocamentos e encontros
A distância é sempre um fator que muda a forma como cada um vivência suas experiências na pós graduação. Ricardo mora em Santa Catarina, então, a ida para a Unisinos sempre envolvia um deslocamento até São Leopoldo, além de toda uma organização referente a estadia, alimentação e demais percalços decorrentes deste estar entre dois lugares. Entretanto, existem diversos pontos positivos, em especial as relações construídas durante esse processo:
“Foi um convívio muito legal. Tenho amigos do doutorado até hoje, de diferentes lugares. O processo do doutorado é longo e imersivo. Muito aprendizado, descobertas e transformações nas disciplinas. O projeto vai sendo construído em etapas com a orientação, com avanços e recuos, reflexão e achados.”
Outro ponto que Ricardo destaca é a importância da experiência de ter feito o estágio de docência na Unisinos, experiência que leva para sua atividade docente de hoje. Também a importância de fazer parte de um grupo de pesquisas.
“O TCAV é um espaço muito importante para complementar conceitos, autores e metodologias das disciplinas da linha de pesquisa. Um espaço mais livre, em relação às disciplinas, de discussão e colaboração entre os alunos. As contribuições dos colegas do grupo reforçam e dão consistência aos projetos desenvolvidos no PPG.”
Educação e Sociedade
Ricardo acredita que toda a formação, conhecimento e experiência são sempre enriquecedoras. Também aponta que fazer uma pesquisa de doutorado é olhar para um recorte, onde é possível desenvolver o fazer científico do fazer científico, mas também a escrita. Este recorte propícia fazer a analise de um determinado universo, de um campo, que estão inseridos no corpus da pesquisa. Esse olhar possibilita desenvolver competências que podem ser aplicadas nas mais diferentes áreas e nas práticas, seja na realização audiovisual, como também em relação a docência e a própria pesquisa. Essa aplicação prática leva a realizações, como por exemplo a publicação de um livro sobre sua tese, intitulado “A Imagem Invisível no Cinema” pela Editora da Unifebe.
“A visão de mundo e de responsabilidade social com o coletivo e o ensino acho que são os reflexos e legados mais nítidos e duradouros do doutorado.”
Audiovisualidades em todos os lugares
O egresso TCAviano segue a vida acadêmica como professor de audiovisual em cursos de graduação da Unifebe (Centro Universitário de Brusque) nos cursos de Design Gráfico, Publicidade e Jogos Digitais, além de coordenar o curso de pós-graduação em Cinema e Audiovisual na mesma instituição. Além da carreira acadêmica, segue trabalhando com sinema e audiovisual, atuando como roteirista, diretor e assistente de direção.
A produção audiovisual não se separa de Ricardo nem em seus momentos domésticos. Quando perguntado sobre quais caminhos a vida tomou depois da pós graduação, fez um breve relato com tons de preocupação assim como de esperança.
“Estou em quarentena desde março com minha filha de seis anos, a Lorena. No meio de uma pandemia e do desespero com a política de descaso com vida no Brasil, minha filha está aprendendo a ler e escrever. E fazemos muitos vídeos no Tik Tok!”
Texto: Leonardo Andrada de Mello
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