Em desenvolvimento pela mestranda Analu Favretto, a pesquisa intitulada “CORPOS RURAIS: Paisagens, sexo e transcendência em filmes de garagem” teve sua qualificação realizada em modalidade online ontem, dia 26 de agosto, às 15h. A banca foi composta pelos professores Dr. Tiago Ricciardi Lopes (Orientador), Dr. Roberto Miranda Cotta (UFPEL) e Dra. Sonia Montaño (UNISINOS).
Sobre a pesquisa
Estimulada pelas lembranças da casa dos avós no campo e pelos filmes de Mazzaropi, que os pais assistiam em VHS durante a sua infância, a pesquisadora encontrou no rural um potente objeto de estudo. Conforme relato durante apresentação da pesquisa, Analu expõe como essas imagens audiovisuais têm afetado suas percepções a respeito do rural ao longo de toda a vida, intensificando-se quando ingressou no âmbito acadêmico.
Os materiais empíricos da pesquisa de Favretto tratam-se de dois curtas-metragens brasileiros contemporâneos: A vez de matar, a vez de morrer (2016, Giovani Barros) e A Retirada para um coração bruto (2017, Marco Antônio Pereira). No primeiro, Analu destaca três eixos principais que lhe chamaram a atenção: a masculinidade, o fantasma e um remix eletrônico da música “É por você que canto”, da dupla sertaneja Leandro e Leonardo. Já no segundo, a pesquisadora dá ênfase à nave espacial, ao estilo musical heavy metal e ao desejo do personagem principal Ozório de tocar esse gênero em uma guitarra.
O problema de pesquisa consiste em responder como as Ruralidades se atualizam em filmes de garagem? A partir desse questionamento, o objetivo principal busca entender como os curtas-metragens que integram o corpus de pesquisa atualizam construtos de Ruralidades. Dentre os objetivos específicos, Analu pretende compreender: em perspectiva memorial, as principais tendências (estéticas e narrativas) que caracterizam a produção de filmes com temática rural no Brasil; em perspectiva tecnocultural, os impactos e os efeitos decorrentes do emprego de determinadas técnicas/tecnologias cinematográficas na produção de filmes com temática rural e como os “filmes de garagem” participam do contexto da filmografia brasileira de temática rural contemporânea.
Perspectiva teórica
O quadro teórico da pesquisa em execução subdivide-se em duas categorias: do rural às ruralidades e precariedade audiovisual. Para melhor compreensão a respeito do rural referido, a autora esmiúça teorias como Dicotomia (Sorokin, Zimmerman e Galpin, 1920), Novos Rurais (Lefebvre, 1970; Kayser, 1970) e a Tríade Deus-Homem-Natureza (Woortmann, 1990; Rogers, 2008). De outra forma, as ruralidades contém como base as discussões acerca das audiovisualidades (Kilpp, 2013) e da imagem-lembrança (Bergson, 1999), dos eixos de representação (Vreeswijk, 2008) – espaço geográfico, etnia e ocupação – e do cinema brasileiro utilizando Mazzaropi, Nordestern e Revolta. Ademais, referente à precariedade audiovisual foram convocados os textos de Marcelo Ikeda e Dellani Lima (2011) como suporte para pensar o “cinema de garagemâ€. Na esfera da tecnocultura e do Homem Realizador, as proposições de Vilém Flusser (2007) referentes às três fases da relação entre homem e tecnologia também compõem o trabalho de Analu.
Arranjo metodológico
Os procedimentos metodológicos buscam proporcionar encontros entre o corpo-pesquisadora e os corpos audiovisuais, visto que as imagens acionam lembranças e agem no corpo. A estrutura da metodologia abrange três movimentos complementares: a flânerie audiovisual (Benjamin, 2009), as cartografias (Rolnik, 1989; Benjamin, 2009) e as constelações (Benjamin, 1986) a partir das imagens dialéticas. Inicialmente há flânerie entre os filmes selecionados, em seguida, coleções e montagens são elaboradas para que a partir delas perceba-se os eixos analíticos que orientam o trabalho: paisagens, sexo e transcendência. Para análise da flânerie audiovisual e das coleções de frames, a pesquisadora também criou o perfil corpos.rurais na rede social Instagram contendo montagens de filmes assistidos e guiadas por tags como #paisagem, #dança, #sexo, entre outros; a partir desse movimento, algumas coleções de imagens foram originadas.
Movimentos de pré-análise
No estágio de qualificação da pesquisa, Analu Favretto realizou um ensaio analítico a partir da primeira constelação, as paisagens, que surge como parte de uma relação entre rurais e natureza. Durante a apresentação da pré-análise, ela relatou os cinco estratos que integram essa constelação: o vazio, a natureza, o Sol, O cavalo e o violão. Observada através de imagens do acervo pessoal da pesquisadora, frames dos empíricos e frames de filmes brasileiros, a paisagem como constelação foi utilizada em função de duas atualizações: como plano de fundo e primeiro plano.
Texto: Amerian Aurich
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