O Seminário de Dissertação tem como objetivo a preparação dos discentes para a banca de qualificação e onde cada qual tem sua proposta de pesquisa submetidas à uma rodada de perguntas referentes à estrutura da pesquisa, teorias, metodologias, assim como sugestões de leituras e novos caminhos que podem ser trilhados.
Nos textos submetidos ao Seminário os discentes Analu Favretto, Juliana Koetz e Jader Moraes apontaram a construção da pesquisa feita a partir das observações do seus empíricos ao se pensar na Tecnocultura e nas Audiovisualidades.
Ruralidades em filmes de garagem (Analu Favretto)
No texto Ruralidades em filmes de garagem, submetido à análise dos professores e colegas, Analu Favretto propôs sua investigação a partir das ruralidades que se materializam em filmes de garagem. Para ela, a pesquisa investe na importância de um olhar sobre a construção da ruralidade que sai do senso comum sobre o que é o rural e contribui nas atuais formas de leitura sobre o assunto. No texto a autora expõe seu lugar de fala, investindo nas imagens rurais que marcaram sua infância e mais tarde nos contatos com filmes onde notava características dessa ruralidade e que, da mesma forma, acentuavam a sua curiosidade sobre si mesma, suas origens e seus afetos e constituíam um caso a ser investigado. Propõe que sua investigação seja direcionada pelas marcas da ruralidade com base na diferenciação entre o que é rural e urbano, trazendo as principais teorias sociológicas que constroem a definição do que é rural, que segundo autora, é importante para observar o devir sobre o rural atualizado em diversas formas de representação. A partir do contexto histórico do cinema brasileiro, entre o independente e o industrial, encontra definições sobre o cinema de garagem que serão mobilizadas para compreensão de produções curta metragens de menor duração para internet e celular, definidas como um novo tipo de cinema.
Como proposta metodológica Analu apresenta o método cartográfico, pois é um processo sob o qual ela poderá se manter em duração de acordo com o próprio objeto. Em 2019 criou um perfil no Instagram denominado corpos.rurais, onde deposita montagens de frame de materiais audiovisuais originais de filmes considerados rurais. Os parâmetros para as suas escolhas se organizavam em tags para as montagens.
As montagens serviram para perceber as afinidades entre as imagens e, a partir delas, Analu pode estruturar as ruralidades através das cartografias sensíveis, dos filmes que a afetam e a partir também de suas imagens lembranças.
Exemplifica com pinturas e filmes brasileiros referenciais as marcas rurais do senso comum, para depois propor a análise no curta metragem A Retirada para um Coração Bruto (2017) onde ela percebe que o cenário (antes cenários apresentando a miséria, ignorância) abrigam outros imaginários.
Deixa espaço para que as proposições dos colegas e professores possam ser consideradas a partir do Seminário de Dissertação, ajudando a construir novos caminhos à pesquisa, apontando outras literaturas e sugerindo a metodologia também como duração da pesquisa.
Imagéités na Série “Ela quer Tudo” (Juliana Koetz)
Juliana Koetz, em seu texto intitulado Imagéités na Série “Ela quer Tudo”, apropria-se do conceito de imagéités de Ranciére para perceber como as audiovisualidades se atualizam nas imagéités na série Ela quer tudo (2017-2019), obra do cineasta Spike Lee. Objetiva compreender os regimes de relações entre as imagens (imagéités) na série, além de buscar resposta à uma questão que a move como pesquisadora audiovisual: qual é o trabalho da arte e do artista, visto que para Juliana, a intenção de artistas visuais, cineastas, show runners, videomakers, designers de jogos e publicitários, ao escolherem a natureza das imagens e de marcas tecnográficas (CAESAR, 2015) em suas produções, é carregada pelas memórias que desejam evocar.
Juliana observa em seu objeto empírico, a série, que ela exibe imagens de diferentes natureza que podem ter sido produzidas por diferentes máquinas, dentre elas as selfies, vídeos pixelados, fotografias digitais, analógicas, coloridas, preto e branco, pôsteres de filmes, capas de álbum de discos, audiovisuais produzidos em película preto e branco, vídeo digital em alta definição, texto gerado por computador e outras que ainda serão mapeadas. Também, por conta de que na série a personagem é artista visual, outras imagens são diegéticas, e ao aparecerem, interrompem o fluxo do audiovisual fazendo perceber essa diversidade técnica e estética na obra. Essas imagens podem dar a ver questões da tecnocultura no contemporâneo (AGAMBEN, 2009).
Percebe que as obras de Spike Lee, muitas vezes ligadas às pesquisas relacionadas às pautas sociais e políticas a partir do enredo de suas produções, também são potenciais às questões vinculadas às pesquisas das audiovisualidades, ou à diversidade de elementos que compõem o audiovisual. Como metodologia, Juliana propõe utilizar o método das cartografias a fim de mapear as ocorrências das naturezas múltiplas, a metodologia das molduras para compreender os sentidos dos elementos mapeados, e os inventários para exibir as imagéités.
Assim, Juliana promove a pré análise onde apresenta as primeiras imagens a partir das quais identificou transformações em sua percepção sobre a série.
A partir das capas de disco, conseguiu perceber como elas movimentaram ações fora da série segundo o reconhecimento da instituição pelo interesse dos fãs sobre a trilha sonora, quando a procura pela trilha foi facilitada no Google:
Isso possibilitou Juliana reconhecer como a música ganhou protagonismo na pausa interrompendo a narrativa e fluxo de imagens, concedendo uma visão sobre as imagens vinculadas à tecnocultura com outras significações e outros sistemas de visão e suporte. Também irá considerar as questões formuladas pelos professores e colegas para dar continuidade à pesquisa, assim como outras relações que a cartografia permitir.
Sistemas de recomendação e a liberdade programada na interface gráfica da Netflix (Jader Moraes)
Em seu texto intitulado Sistemas de recomendação e a liberdade programadana interface gráfica da Netflix, Jader problematiza a liberdade de escolha do usário na interface da Netflix, baseado em Flusser e Manovitch principalmente. Constrói caminhos em sua pesquisa percebendo como na sociedade informatizada regida pela inteligência artificial, algoritimos e sistemas de recomendação, a liberdade de escolha é determinada por um totalitarismo programador que fornece uma gama de escolhas, mas que não podemos tomar decisões fora dessas opções. A partir dessa observação, tomada como ponto de partida, aborda a cultura orientada a partir desses algoritimos e sistemas de recomendação que nesse caso, transforma o usuário em um gerador previsível de probabilidades em um sistema que prioriza as identidades pré determinadas. Jader percebe a potencial aproximação dessa problemática na escolha de seu objeto empírico, a Netflix.
Como movimento inicial de observação, Jader pratica a observação da interface da Netflix para compreender como essa interface é planejada pela instituição, como o conteúdo é dividido em categorias e com quais objetivos ela é definida dessa forma.
Considera que a AI por trás do sistema de recomendação da Netflix monitora as interações do usuário, assim como as escolhas por gêneros de filmes dentro das categorias disponíveis. Buscará em sua pesquisa as significações das diversas interfaces a partir de capturas de tela apoiando-se na metodologia das constelações, assim como o método das escavações para explorar a interfáce gráfica da Netflix, tendo como objetivo compreender o relacionamento da inteligência artificial com a necessidade humana.
Em sua pré-análise, Jader relata suas reflexões no primeiro momento em que participou como usuário da plataforma, deixando suas impressões sobre o processo de escolha das categorias, principais destaques que são percebidos na interface enquanto percorre as categorias em busca das pré-definições realizadas pelo algoritmo a partir das breves informações que deu à ele. Conta que realizou capturas de telas dos filmes e séries que apresentavam opções dadas pelo algoritmo, reunindo aproximadamente duzentas e setenta captura de telas, organiza os dados coletados em uma tabela dividindo as informações em Programa e Microtags.
Esse primeiro movimento na pesquisa fez com que Jader percebesse que alguns conceitos de outras áreas como as ciências de dados, serão importantes para compreender melhor os algoritmos e sistemas de recomendação. Nesse caso, deixa previsto que irá aprofundar a investigação a partir dos dados coletados, trilhado por caminhos teórico – técnico – metodológicos para que possa seguir com sua pesquisa.
O Seminário de Dissertação ocorreu no dia 23 de março de 2020 no formato online com as considerações dos professores Dr. Gustavo Daudt Fisher, Dra. Sonia Estela Montaño La Cruz e Dr. Tiago Ricciardi Correa Lopes e comentários dos discentes integrantes do TCAv (Audiovisualidades e Tecnocultura: comunicação, memória e design).
Texto: Flóra Simon da Silva
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