Seminário de Tese Linha de Pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais 2020/2

O mês de outubro foi marcado pela realização do encontro do TCAv com o objetivo de promover o segundo seminário de tese do ano, onde os doutorandos da linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais, Aline Corso e Lucas Ness, apresentaram suas  propostas em andamento. A ocasião faz parte do processo de formação dos doutorandos do PPGCC Unisinos, e antecipa a banca de qualificação, onde cada proposta é submetida à avaliação da estrutura da pesquisa, assim como das perspectivas teóricas e metodológicas que os alunos estão ensaiando utilizar.

Veja a seguir a síntese das propostas apresentadas, assim como os objetos a serem estudados e a sugestão metodológica das pesquisas dos alunos.

CONSTRUTOS DE ESPECTADOR NAS PLATAFORMAS DE VÍDEO STREAMING/ Luccas Ness

A pesquisa de Lucas se propõe a responder o seguinte questionamento: como o espectador se atualiza nas plataformas de vídeo streaming? Seu texto apresentado no seminário está organizado, de acordo com ele,  “em quatro grandes movimentos: introdução, em que apresento um breve desenvolvimento da afetação entre pesquisador e objeto – sobretudo a partir de Bergson e Deleuze; um olhar teórico sobre temas afetos a práticas de telas e ao (construto de) espectador – principalmente por meio de Parente, Flusser e Huhtamo; uma reflexão sobre as tecnometodologias que orientam e possibilitam a construção dessa pesquisa; e, por fim, algumas perspectivas de pré-análise sobre o objeto empírico, comentários sobre ideias que não vingaram e encaminhamentos”.

Lucas comenta que a construção de seu problema de pesquisa partiu da reflexão conjunta ao método da intuição de Bergson “(em muito pela análise de Deleuze), compreendendo que ao olhar para meu objeto empírico devo nele procurar aquilo que dura e, assim, identificar meu virtual (o espectador) e, em sabendo que o virtual é essencialmente inatingível, buscar o seu devir e suas manifestações (os construtos de espectador) que se atualizam nas plataformas de vídeo streaming.” 

Imagem do autor. Prime Video

Como corpus da pesquisa, o doutorando realiza um recorte de algumas plataformas de vídeo streaming. “Considerando as primeiras análises, bem como os contornos e a realidade das plataformas, optei por construir um critério em que pudesse estudar plataformas a que o eu, enquanto pesquisador, possa ter acesso – limitando, então, aquelas que podem ser assinadas no Brasil; dentro daquelas que tem relevância no cenário brasileiro – seja pelo número de assinantes ou por serem referência no meio – e que contemplem características “próprias”: Netflix, o Prime Video, da Amazon, o GLOBOPLAY, e o HBO GO.”

Imagem do autor. Dispositivos Netflix e GLOBOPLAY e seus elementos.

Para dar conta da pesquisa, propõe uma espécie de “arranjo” tecnometodológico para analisar o objeto empírico. O termo é utilizado no Grupo TCAv para designar a investigação dos procedimentos técnico-metodológicos utilizados nas pesquisas de mestrado e de doutorado de integrantes e de egressos do Grupo TCAv. Nesse sentido, a proposição tecnometodológica de Lucas para compreender as plataformas de vídeo streaming enquanto dispositivos, a partir da visão de André Parente (2007), é trabalhar com cartografia “bandonar-se nesse caminho” a partir de uma flanerie pelas plataformas, além de sugerir o matching (a partir da pesquisa do colega doutorando Augusto Bozzetti, 2019). Como objetivos específicos do trabalho, Lucas pretende traçar os elementos que compõem o dispositivo de cada uma das plataformas de vídeo streaming e traçar construtos de espectador em diferentes práticas de tela.

Além disso, propõe uma arqueologia (no mesmo sentido de arqueologia da mídia a partir de Huhtamo) dos construtos de espectador, escavando nas relações do espectador ao longo das experiências tecnoculturais nos dispositivos. O espectador, a partir de Lucas, não corresponde mais ao narrador ou leitor, agora ele é elemento interator desse sistema, ou seja possui de forma crescente um papel de destaque nas relações internas da plataforma “André Parente reconhece, em movimento semelhante àquele disposto pela perspectiva das audiovisualidades, que é a experiência cinematográfica que evidencia a virtualidade da relação entre imagens, e entre imagens e espectador”, finaliza Lucas.

CONSTRUTOS DE REGENERAÇÃO DA ARTEMÍDIA: UMA CARTOGRAFIA POR AMBIENTES ON-LINE/Aline Corso

A doutoranda Aline Corso apresentou sua pesquisa que tem como objetivo compreender os sentidos dados pelos ambientes on-line à regeneração da artemídia em uma tecnocultura contemporânea. Os objetivos específicos sugerem compreender a relação arte-mídia, em especial as suas particularidades relativas à presença em ambientes online, inferir acerca dos conceitos de obsolescência (degeneração) e atualização/resgate (regeneração) enquanto qualidades de uma tecnocultura audiovisual, cartografar e constelar ambientes on-line que atualizam a memória da artemídia e fazer apontamentos sobre como esses ambientes comunicam a memória da artemídia na perspectiva da tecnocultura audiovisual.

Interessante ressaltar que a estrutura do trabalho apresentado traz primeiramente uma espécie de memorial, “que denota a minha trajetória até o desenvolvimento da atual pesquisa para, na sequência, refletir quanto a construção do conhecimento comunicacional , que engloba o relato do processo de formulação do problema, o mapeamento do estado da arte, a definição dos objetivos e a justificativa da investigação.”

Imagem da autora. Esquema sinóptico da tese de Aline Corso

Aline defende que a pesquisa “se inscreve em uma zona de interrogação sobre a potência enunciadora de uma memória de artemídia regenerada na internet, bem como a relação que esses construtos engendram entre si.” Enquanto alicerce teórico, a aluna busca proposições a partir de autores como McLuhan, Benjamin e Flusser “que analisam os meios enquanto articuladores da cultura – em linhas gerais, a cultura sempre será tecnocultural, pois implica em relações do cotidiano com a tecnologia” (LISTER et al., 2009), além de Debra Shaw, Gustavo Fischer, Suzana Kilpp e Lev Manovich.

Sobre seu objeto de pesquisa, Aline comenta “se pensarmos, de forma literal, na expressão “arte da mídia”, ela acaba se tornando redundante (afinal, toda arte é arte da mídia, já que necessita de um “meio” para que seja comunicada ao público – exemplo: papel, barro, CD, etc.), porém, se esse tipo de arte é criada, distribuída, armazenada e arquivada via computadores, ela é uma obra de arte que está relacionada ao conceito de “tempo”, já que “move”, “flui” e “muda” – em contraste com obras do passado, que são “estáticas” (como desenho, pintura, escultura, gravura, fotografia, etc.).” Enquanto proposições metodológicas, pretende “articular um desenho tecnometodológico artesão.” No primeiro momento, cita a cartografia como passo tentativo, “entendo esse vagar como um movimento para também me habituar ao objeto, além de coletar informações e suposições que, ao serem agrupadas, geram um mapa (ou um guia de orientação), onde posso construir constelações”, de forma complementar cita a proposta do agir arqueológico inspirado em Fischer (2010) aliado à escavação e dissecação (KILPP, 2010).

Chamado no texto por “corpus tentativo”, a aluna traz algumas iniciativas selecionadas “que apresentam construtos regenerativos da artemídia em ambientes on-line”, sendo elas Media Art Histories Archive, Archive of Digital Art, Variable Media Questionnaire, Conservation OnLine e Media Art Preservation Links, no qual realiza o exercício de pré-análise para o seminário de tese:

Imagem da autora. Categorias apresentadas no site Media Art Preservation Links

Por fim, Aline demonstra a partir de um esquema visual uma proposta de mapa mental da tese, ilustrando os caminhos metodológicos a partir de movimentações por conceitos-chave da linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais: tecnocultura audiovisual, imagem, memória e interfaces.

O Seminário de Tese ocorreu no formato online com as considerações dos professores Dr. Tiago Ricciardi Correa Lopes e Dra. Sonia Montaño sobre as pesquisas dos discentes orientandos do Prof. Dr. Gustavo Daudt Fischer, seguido por demais doutorandos integrantes do TCAv (Audiovisualidades e Tecnocultura: comunicação, memória e design).

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Texto: Roberta Krause.

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