Os textos que compõem esta seção constituem uma investigação dos procedimentos técnico-metodológicos utilizados nas pesquisas de mestrado e de doutorado de integrantes e de egressos do Grupo TCAv.
Título do trabalho: Tendência espectral do audiovisual contemporâneo no YouTube
Nível: Doutorado
Autor: Michael Abrantes Kerr
Orientadora: Dra. Suzana Kilpp
Ano de defesa: 2015
Link da tese: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/3720
Sobra o autor: Graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Católica de Pelotas (1996), realizou mestrado (2008) e doutorado (2015) em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, fazendo parte do Grupo de Pesquisa Audiovisualidades e Tecnocultura: comunicação, memória e design. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, nos cursos de Cinema e Audiovisual e Cinema de Animação.
A tese lança um olhar sobre o YouTube e parte de uma indagação acerca da natureza do audiovisual que emerge da plataforma. A partir de seus movimentos empíricos, o autor propõe a natureza espectral, ora manifesta em imagens-fantasma (direta, negativa e indefinida), ora em imagens-de-arquivo. Observando o uso recorrente de imagens de arquivo na composição dos vídeos, o autor propõe as imagens-fantasma enquanto imagens cujas durações sobrepõem a imagem original, a reapropriação toma lugar da produção que lhe empresta as imagens, sendo que está subsiste como um fantasma que ronda e assombra o novo vídeo; já as imagens-arquivo se fundam nas imagens que lhe dão origem, referenciando-se a ela.
Para sua investigação, Michael utiliza o método intuitivo de Bergson, operando tecnometodologicamente com movimentos cartográficos (Benjamin), desconstrutivos (Derrida) e dissecatórios (Kilpp). Primeiro é feito um movimento exploratório sobre o YouTube e sua interface, observando a plataforma, seus vídeos, as disposições e arranjos. Nesse desenvolver cartográfico, seu olhar começa a indicar aquilo que busca: vídeos produzidos “por contágio e assombrados por fantasmas de outros vídeos”. Os vídeos que vai selecionando são categorizados em tipos, que descreve de acordo com sua lógica de construção – utilização de imagens de arquivo, adição de elementos gráficos, inserção de músicas por técnicas de mixagem, apropriação de elementos da linguagem audiovisual, etc.
Esses exemplos são alguns dos muitos que Michael explora e revista. Um movimento que merece destaque no desenvolvimento da tese é a forma como, após desenvolver algumas especulações e análises, o autor retorna a materialidades que pertenciam aos movimentos iniciais e as retoma com um olhar mais apurado, perseguindo o que lhe chamava atenção mas ainda não era consciente e nítido.
Depois de reforçar teórico-conceitualmente as ideias quanto aos fantasmas dos vídeos, Michael faz um segundo movimento interessante e não muito usual nas pesquisas de humanidades: ele “testa” suas conclusões acerca dos fantasmas junto a hipótese de que as “imagens são reflexos da sociedade de uma determinada época”. Para tanto faz uma pesquisa no próprio YouTube com o termo “audiovisual contemporâneo” e, analisando os vídeos em ordem de aparição no sistema de busca da plataforma, observa como imagens-fantasma e imagens-de-arquivo comparecem na produção audiovisual que circula na rede – na tentativa de descrever como os fantasmas se atualizam nesses vídeos.
A pesquisa do Michael nos mostra um interessante movimento cartográfico sobre uma materialidade vasta, bem como o importante e interessante movimento de revisitar e re-observar elementos que instigaram o pesquisador em diferentes momentos da pesquisa, bem como a potencialidade que há no re-olhar a partir do caminho teórico construído concomitantemente.
Texto: Lucas Mello Ness
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