#TecnometodologiasTCAv: De Escavações a Molduras, o Pinterest como Interface Cultural

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  • Os textos que compõem esta seção constituem uma investigação dos procedimentos técnico-metodológicos utilizados nas pesquisas de mestrado e de doutorado de integrantes e de egressos do Grupo TCAv.
Título do trabalho: Pinterest como interface cultural: De Escavações a Molduras
Nível: Mestrado
Autor: Bárbara Zilda Grebin
Ano de defesa: 2014
Orientador: Dr. Gustavo Daudt Fischer
Tags: pinterest; interface cultural; web 2.0; arqueologia da mídia; metodologia das molduras.
Link da tese: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/4305

Bárbara é formada em Administração de Empresas e Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Atualmente, trabalha no mercado como freelancer e possui uma vasta experiência com redes sociais, design e edição de vídeo.

Em sua dissertação de mestrado “Pinterest como interface cultural: De Escavações a Molduras”, defendida no ano de 2014, sob orientação do professor Dr. Gustavo Daudt Fischer, a autora buscou, a partir de um olhar comunicacional e tecnocultural, compreender de que forma o site Pinterest atualiza o conceito de interfaces culturais de Lev Manovich (2001).

Para auxiliar na criação do problema de pesquisa, Bárbara recorreu ao método indutivo do filósofo Henri Bergson através da leitura e da interpretação do também filósofo, Gilles Deleuze (2004). Percurso este, que ajuda a ratificar o trabalho desenvolvido como integrante do grupo de pesquisa Audiovisualidades e Tecnocultura: Comunicação, Memória e Design, chegando assim a seguinte questão: “Como as interfaces culturais se atualizam no Pinterest?”

O trabalho da autora se desenvolve na perspectiva de um agir arqueológico, como o elaborado por Gustavo Fischer (2008) a partir do conceito proposto pelo teórico alemão Siegfried Zielinski (2006) para arqueologia da mídia, ainda que em seu trabalho, a autora dê maior foco no acontecido do que na potencialidade. Após, é feito um apanhado de caracterizações em torno do termo interface gráfica por meio de algumas concepções através de metáforas visuais, até se chegar ao conceito-chave desta dissertação, interface cultural, desenvolvido por Lev Manovich (2001) no livro “The language of new media”.

Aqui separamos uma classificação, nas palavras de Manovich para explicar a interface cultural:

“Eu introduzi o termo ‘interfaces culturais’ para descrever interfaces usadas pela hipermídia autônoma (CD-ROM e DVD títulos), sites, jogos de computador e outros objetos culturais distribuídos através de um computador. Acho que precisamos de um termo, pois como o papel do computador está se deslocando de ser uma ferramenta para uma máquina de mídia universal, estamos cada vez mais ‘interfaceando’ com dados predominantemente culturais: textos, fotografias, filmes, músicas, documentos multimídia, ambientes virtuais. Portanto, a interface humano-computador está sendo complementada pela interface humano-computador-cultura, que eu abrevio como ‘interface cultural’. (MANOVICH, 2001, p. 79, tradução nossa).”

A pesquisa de Bárbara segue, ressaltando que o movimento de desnaturalização do flanar pela interface do site Pinterest se faz necessário para conseguir estender a visão da pesquisadora além da invisibilidade da plataforma. Assim, chegamos na escavação de imagens e a identificação de molduras, conforme a metodologia desenvolvida pela Professora Doutora Suzana Kilpp. (2010), além do processo de dissecação, ato de cartografar imagens para identificar molduras, também desenvolvido por Kilpp (2003).

Chegamos então no momento da análise do material empírico coletado a partir de capturas de tela das interfaces que compõem o site Pinterest. A autora aqui faz um ótimo trabalho em detalhar claramente quais ferramentas foram utilizadas, além de apresentar de forma visual seus percursos metodológicos e processos de cartografia.

As tomadas das imagens para o desenvolvimento do trabalho foram feitas por meio de dois softwares para captura de tela: o Captura, para registrar imagens dentro dos limites físicos da tela do computador, e o Paparazzi!, para capturar imagens através da rolagem da tela. Além destes, também foram utilizados os sites Google Images e Internet Archive WaybackMachine.

Vale menção também para a extensa e minuciosa análise das mais de 300 capturas obtidas, arquivadas no diretório do computador pessoal da autora, foram então selecionadas, agrupadas e editadas para aperfeiçoar a visualização das capturas coletadas utilizado o Software Adobe Photoshop.

Depois de coletar e organizar as imagens, a autora assume os papéis de desconstrutora e dissecadora do material recolhido, construindo e autenticando molduras, procurando, na maioria das vezes, privilegiar, assim como orienta Fischer (2012), inspirado em Huhtamo (2011), elementos cíclicos das interfaces, em vez de somente cronológicos.

As capturas então foram agrupadas em três principais constelações, de acordo com o trabalho da Professora Dra. Sonia Montaño (2012):

– Constelação HCI (Human-Computer Interface)

– Constelação plasticidade

– Constelação atravessamento entre Produtos Culturais On-line

As molduras então foram caracterizadas de acordo com a tese de Daniel de Andrade Bittencourt (2007).

A constelação HCI, aborda molduras sólidas, que estão condicionadas a atender e respeitar limitações do sistema e da máquina;

A constelação plástica, distingue-se por molduras líquidas, que, diante de determinadas variáveis, se modificam. Molduras nessa constelação são maleáveis, provocam reações estéticas devido às suas formas e se destacam pelo aspecto da visualidade e se alteram com o tempo.

A constelação de atravessamento entre produtos culturais on-line, caracteriza-se, principalmente, por molduras porosas que contagiam o Pinterest com elementos de outros artefatos culturais on-line e que também afetam outros produtos web por meio de componentes do Pinterest, abrangendo molduras externas ao site, requisitando que o nosso ato de flanar como pesquisadores ultrapassasse as fronteiras do nosso objeto de pesquisa e percorresse a web.

Com a obtenção do empírico e a formulação das constelações, foi possível desenvolver um gráfico de círculo concêntrico a fim de sintetizar os apontamentos realizados ao longo da análise.

A pesquisa da autora é finalizada com dois principais movimentos, o primeiro respondendo à pergunta inicial de pesquisa, em que se percebe um deslocamento do conceito inicial de interface cultural devido a conjunturas advindas da web 2.0, e o segundo trazendo, por meio de um quadro, uma proposta de estrutura de análise de artefatos culturais on-line.

O trabalho de Bárbara se adequa tecnometodologicamente aos processos da linha de pesquisa 1 ao proporcionar uma visada que combina abordagens em seu projeto metodológico de inspiração arqueológica com procedimentos de dissecações e de molduras.

Ajudando, assim, a criar uma estrutura para analisar artefatos culturais on-line, neste caso a partir do Pinterest, que pode ser visualizado no quadro desenvolvido pela autora.


Referências no texto:

BITTENCOURT, D. A. Quando a interface é a mensagem: procedimentos técnico-estéticos como estratégias de diferenciação em portais de informação: uma análise dos portais uol e globo.com. 2007. 268 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, 2007.

DELEUZE, G. Bergsonismo. São Paulo: Editora 34, 2004.

FISCHER, G. D. As trajetórias e características do YouTube e Globo Media Center/ Globo vídeos: Um olhar comunicacional sobre as lógicas operativas de websites de vídeos para compreender a constituição do caráter midiático da web. 2008. 242 f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação), Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2008.

FISCHER, G. D. Desencavando interfaces: reflexões sobre a arqueologia da mídia e procedimentos de “resgate” de páginas web. In STEFEN, C.; BENVENUTO, Á. (Orgs.). Tecnologia pra quê? As reconfigurações no campo da Comunicação Social. Porto Alegre: Armazém Digital, 2012.

HUHTAMO, E.; PARIKKA, J. Media Archaeology: approaches, applications, and implications. Londres: University of California Press, 2011.

KILPP, S. A traição das imagens: espelhos, câmeras e imagens espetaculares em reality shows. Porto Alegre: Entremeios, 2010.

KILPP, S. Ethicidades televisivas. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2003.

MANOVICH, L. The language of new media. Londres: The MIT press, 2001.

MONTAÑO, S. Plataformas de vídeo: Apontamentos para uma ecologia do audiovisual da web na contemporaneidade. 2012. 220 f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação), Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2012.

ZIELINSKI, S. “Ser offline e existir online“. [3 out. 2011]. Entrevistadores: Márcia Junges e Thamiris Magalhães. Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?id=4105&option=com_content&secao=375&view=article. Acesso em: 15 jun. 2013. Entrevista concedida ao IHU On-line.

Texto: Gabriel Rocha Palma

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