#TecnometodologiasTcav: Escavações e curadoria de imagens digitais, memórias e afetos no Google Fotos

  • Os textos que compõem esta seção constituem uma investigação dos procedimentos técnico-metodológicos utilizados nas pesquisas de mestrado e de doutorado de integrantes e de egressos do Grupo TCAv.
Título do trabalho: As lembranças propostas pelo software: o agir e aprender do Google Fotos na manutenção e curadoria de imagens pessoais 
Autor: Daniel Bassan Petry
Nível: Doutorado
Ano da defesa: 2017
Orientador: Dr. Gustavo Fischer 
Link da tese: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/6472

Daniel Bassan Petry é professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul desde agosto de 2015. Intitulada “As lembranças propostas pelo software: o agir e aprender do Google Fotos na manutenção e curadoria de imagens pessoais”, a tese foi defendida em 2017 sob a orientação do professor Dr. Gustavo Fischer e está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos. A tese de Petry buscou compreender as conexões da memória e lembranças no ambiente digital acionadas e organizadas por softwares de armazenamento.

A pesquisa desenvolvida por Petry situa o excesso e a dispersão de imagens digitais pessoais como um problema concreto passível de ser analisado a partir das perspectivas da Tecnocultura e das investidas metodológicas da Arqueologia das Mídias. Em sua exploração inicial, Petry mapeou diferentes ofertas de serviços e sites voltados para a organização e a manutenção desses arquivos (imagens e vídeos) pessoais. Como uma espécie de curadoria profissional, esses serviços viabilizam a produção, o armazenamento e compartilhamento das imagens. Então, para dar conta da multiplicidade e heterogeneidade do material empírico da pesquisa, Petry transitou entre diferentes espaços de curadoria e selecionou o Google Fotos a partir de dois critérios: armazenamento ilimitado e organização das informações dos usuários.

Métodos e procedimentos da tese

O arranjo (tecno)metodológicos da pesquisa inicia com uma articulação entre os fundamentos da Arqueologia das Mídias e da Genealogia baseada em Michel Foucault desdobrando-se em uma “arquegenealogia”. Da Arqueologia das Mídias para a apropriação “arquegenealógica”, Petry descreve a “Escavação” como um procedimento metodológico que se diferencia em quatro modos tendo em vista a centralidade da mídia. Quando a ação escavatória é realizada no interior da própria mídia com o intuito de verificar as condições de produção de todo o conteúdo, chama-se de “escavação intramidiática”. Quando a exploração parte de uma mídia para os arredores do ambiente midiático ou mesmo para as mídias vizinhas, ocorre a “escavação intermidiática”.

A partir desses dois modos, a escavação pode se dar em profundidade ou em superfície.  O primeiro caso corresponde a uma imersão na mídia, na materialidade do objeto empírico, isto é, “na camada mais invisível” do Google Fotos como a programação, o código-fonte do site, as trocas de informações e demais funções ocultadas. A escavação em superfície se dá, portanto, com um olhar mais imediato e sem a necessidade de adentrar na mídia, de modo que é possível coletar e identificar dados do objeto a partir da interface gráfica do Google Fotos. Em suma, as incursões escavatórias realizadas na pesquisa buscam dar conta do contexto dentro e fora do Google Fotos atentando ao funcionamento e as ferramentas operacionalizadas pelo software.

Da escavação intermidiática superficial, por exemplo, o pesquisador observou outros softwares como Facebook, Flickr e Everpix. Pela escavação profunda, Petry vasculhou o Google Fotos testando-o e induzindo-o ao “erro” por meio da troca de dados de diferentes tipos de arquivos ou de informações fornecidas, inicialmente, ao software. Para operacionalizar essas incursões escavatórias, Petry realizou cadastros para ter acesso a conta Google a partir de três diferentes perfis com localizações distintas, sendo um deles com a versão paga e outros dois gratuitos. Isso implica dizer, portanto, que Petry também incluiu os seus próprios dados pessoais na pesquisa.

As figuras abaixo indicam, respectivamente, a interface com os dados e o resultado da tentativa de “induzir o programa ao erro”

Com o intuito de entender as nuances operacionais que incidem nos materiais armazenados no Google Fotos, Petry acionou arquivos das suas próprias contas vinculadas ao serviço. Na ocasião, o pesquisador testou outras imagens, editou via o software Photoshop e devolveu ao banco de dados.

As impressões geradas a partir desse teste aponta uma sensível diferença na resolução, na qualidade das fotografias. Para Petry, isso é resultado dos processos de compressão de dados do arquivo realizado automaticamente pelo serviço.  

Dadas as primeiras incursões e experimentações escavatórias, Petry capturou imagens de diferentes interfaces e sessões que compõem o Google Fotos tanto na versão para computador quanto para os dispositivos móveis (smartphone e tablet). Para dar sentidos aos arquivos identificados ao longo da pesquisa, Petry reuniu as imagens e os dados do Google Fotos em espécies de coleções como “Álbuns”, “Pessoas”, “Lugares”, “Coisas”, “Vídeos, colagens, animações e filmes” conforme indicam as figuras abaixo:

Desempenhando o papel “curador” e “usuário” do Google Fotos, Petry defende que os arquivos que compõem o perfil vinculado a este tipo de serviço atuam como espécies de novas mídias. E isso se dá pelas operações e potencialidades de criação, edição e compartilhamento.

Link para consulta:

Site do Google Fotos: https://www.google.com/intl/pt-BR/photos/about/

Texto: Julieth Corrêa Paula

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