- Os textos que compõem esta seção constituem uma investigação dos procedimentos técnico-metodológicos utilizados nas pesquisas de mestrado e de doutorado de integrantes e de egressos do Grupo TCAv.
Título do trabalho: Sobre a luz e as potências do escuro na fotografia: imagens técnicas de alcova no cinema.
Nível: Mestrado
Autor: Bruno Bortoluz Polidoro
Orienadora: Dra. Suzana Kilpp
Ano de defesa: 2009
Tags: fotografia; cinema; imagens técnicas; conceitos fílmicos de sexo; audiovisualidades.
Link da dissertação: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/2640
Bruno Bortoluz Polidoro é formado em Realização Audiovisual e mestre em Comunicação pela Unisinos. Atua há 15 anos como diretor de fotografia em filmes, séries, entre outros produtos audiovisuais. Em sua pesquisa, Bruno realiza um estudo sobre o uso da luz e do escuro nos construtos de imagens técnicas de sexo. Seu texto ainda se desdobra em conceitos como alcova, luz líquida e entre-corpos, todos tensionando os corpos em relação à luz, sombras e o espaço onde ocorre o ato, denominado pelo pesquisador como alcova.
Como movimentos metodológicos, o autor usa rizomaticamente o método de desconstrução (Derrida), de cartografia (Deleuze; Guattari) e de dissecação (Kilpp). Para dar a ver os procedimentos, Bruno utiliza o software Adobe Photoshop para simular sombras em frames dos oito filmes que compõem o corpus da pesquisa, sendo eles: Amarelo manga (Cláudio Assis, 2002), A dupla vida de Véronique (Krzystof Kieslowski, 1991), Eros. Episódio: A Mão (Wong Kar Wai, 2004), Eu te amo (Arnaldo Jabor, 1981), La luna (Bernardo Bertolucci, 1979), Noite vazia (Walter Hugo Khouri, 1964), Nove canções (Michael Winterbottom, 2004) e O pornógrafo (Bertrand Bornello, 2001).
Antes de entrar nas discussões mais aprofundadas sobre conceitos fortes de seu trabalho como escuro-moldura e alcova, Bruno manipula um frame do filme O pornógrafo, para enfatizar a potência do escuro nos construtos de sentido do ato sexual. Nesse momento, é dado a ver o procedimento de desconstrução, uma vez que para o autor, no início da trajetória na pós-graduação via na luz o sentido dos quadros. Para o autor, “a luz era o tronco da pesquisa e eu via o escuro apenas como sua ramificação. Para mudar isso, tive de esquecer o estudo como uma árvore e abandonar seu tronco. Isso significou retirar a luz do centro, esquecê-la como base que leva ao escuro.” (POLIDORO, 2009, p. 11). A partir desse “abandono” da ideia de luz como central, Bruno desconstruiu seu pensamento em relação ao trabalho. Para ele, a desconstrução “de acordo com Derrida (1998), é um ato não oposto a construção; pelo contrário, age-se com o intuito de produzir algo novo, buscando invenção. (Ibidem). Vemos esse movimento de desconstrução na manipulação do autor no frame de O pornógrafo, onde há uma criação de escuro em um quadro totalmente iluminado.” Veja:
Ao dissecar as imagens através do Adobe Photoshop, o pesquisador dá a ver as diferenças de sentido entre o frame original e os manipulados. Sendo que o frame 05 poderia adquirir um sentido de tristeza, a mulher poderia estar olhando para uma fotografia, por exemplo. Enquanto que no frame 06, é possível imaginar que o homem está se masturbando em frente a um espelho ou vendo um homem no corredor.
Posterior a essa primeira aplicação do método de simular o escuro em fotografias, Bruno apresenta as imagens-médias do corpus de sua pesquisa. O conceito de imagem-média é definido como “as imagens mais expressivas da sequência, que sintetizam, no nosso caso, a proposta fotográfica da cena.” (POLIDORO, 2009, p. 16). É dessa forma que a dissecação aparece como método, uma vez que o autor relata que disseca seus filmes a procura de conceitos fílmicos de sexo: primeiramente aplica a cartografia para encontrar uma sequência significativa para o estudo, para então retirá-las do fluxo, indicando-as como imagens-médias. Abaixo algumas imagens-médias:
No frame 15, a imagem-média do filme Noite Vazia descreve uma fotografia dramática, pois tem muitos pontos escuros e o rosto dos personagens sempre estão bem iluminados. Já os frames 20 e 21 pertencem ao filme Amarelo Manga e nos mostram dois conceitos presentes na fotografia do filme: o primeiro (frame 20) ambientam os personagens em ambientes abertos e durante o dia, enquanto que as cenas internas e noturnas (frame 21) possuem uma luz amarela e vêm de um ponto de luz apenas, fazendo com que algumas partes dos corpos dos personagens sempre estejam na escuridão.
Da dissecação e manipulação das imagens surgem os conceitos de moldurações dos conceitos fílmicos de sexo, sendo esses:o escuro-moldura, a alcova e o entre-corpos. Além dos já citados, um último conceito é o de luz líquida, inspirado no conceito de Bauman de sociedade líquida.
Abaixo, uma sequência dos conceitos:
O escuro-moldura é descrito pelo autor nos frames 30 e 31 como “a evidência do ato sexual se dá primeiro pelo som, composto por gemidos e ruídos, indicando que a cama de ferro se move, e, depois, visualmente, pela sombra que muda de forma de maneira abrupta.(…) Neste caso a moldura construída pelo quadro pela sombra nos mostra o atosexual.” (POLIDORO, 2009, p. 69).
A alcova é o local socialmente construído para o ato sexual. Para Bruno, a alcova moldura tanto quanto o escuro, pois é nela que são enquadrados os movimentos e corpos em relação ao ato sexual. Sobre a alcova, o autor ainda diz que “enquanto o escuro é a moldura potente, a alcova é a moldura atualizante, pois é dela que emana luz”. (Ibidem, p. 71).
A moldura entre-corpos e é descrito como uma área de potência, “pois representa a resistência dos corpos em relação à luz que emana da alcova.” (Ibidem, 76). Esse acontecimento descrito como entre-corpos sempre está presente na imagem e se deriva das movimentações dos corpos na luz da alcova.
O último conceito, de nome luz líquida, apresenta os corpos como atualizando da luz que emana da alcova. O autor nos diz que é “a partir da construção da iluminação na alcova que o jogo é preparado. Os corpos adentram-na e ele começa.” (Ibidem, p. 81). Nos frames 45 ao 18, o autor descreve esse jogo em que a luz escorre pelos corpos através do movimento do casal. Começando com ambos em uma relação igualitária e conforme o movimento do ato sexual vai ocorrendo, a mulher se joga para trás e seu corpo é revelado pela luz líquida.
A partir de uma cartografia através de sequências fílmicas de atos sexuais, Bruno disseca os nove longas em busca de imagens-médias. Através dos frames retirados do fluxo dos filmes, o autor manipula a imagem com o software Adobe Photoshop criando áreas de sombra. Desconstrói, então, a ideia inicial do autor de que a luz seria central em sua pesquisa. Com a evolução da escrita, o pesquisador descreve os conceitos de escuro-moldura, alcova, entre-corpos e luz líquida. Revelando, assim, a potência do escuro na fotografia.
Texto: Analu Favretto
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