#TecnometodologiasTcav: os 6 elementos cartográficos de composição audiovisual das vinhetas de abertura de telenovelas brasileiras

  • Os textos que compõem esta seção constituem uma investigação dos procedimentos técnico-metodológicos utilizados nas pesquisas de mestrado e de doutorado de integrantes e de egressos do Grupo TCAv.
Título do trabalho: Vinhetas de abertura de telenovelas brasileiras: uma cartografia do horário nobre
Nível: Doutorado
Autor: Paulo Negri Filho
Orientador: Dr. João Damasceno Martins Ladeira
Ano de defesa: 2017
Tags: vinhetas de abertura; telenovelas; televisão; Rede Globo; cartografia.
Link da tese: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/6642

Paulo Negri Filho é professor adjunto do curso Comunicação e Multimeios da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e coordenador do projeto de extensão ComunicaUem. Em sua tese de doutoramento, Vinhetas de abertura de telenovelas brasileiras: uma cartografia do horário nobre, defendida em 2017 no PPG em Ciências da Comunicação da Unisinos, sob orientação do professor Dr. João Ladeira, toma como objeto de pesquisa as vinhetas de abertura de telenovelas brasileiras, tendo como principal objetivo analisar de que forma as características próprias das vinhetas de abertura de telenovelas podem ter seu percurso histórico apresentado de maneira gráfica.

A pesquisa parte de duas perguntas norteadoras: Quais características constituintes das vinhetas de abertura de telenovelas podem ser destacadas? Como apresentar graficamente o percurso histórico das vinhetas de abertura de telenovelas, evidenciando o que é próprio dessas vinhetas? O primeiro elemento constituinte das vinhetas que Negri percebeu em seus movimentos é o hibridismo, em função da convergência de linguagem de outros meios.

Sobre os métodos e procedimentos metodológicos empregados em sua pesquisa, visando alcançar o seu objetivo, são de inspiração cartográfica (teórico-metodológico). Assim, realizou-se um estudo exploratório a partir da cartografia trabalhada por Deleuze e Guattari, fazendo com que se fosse exigido outros procedimentos para que o objeto escolhido fosse construído, como bibliográfico e documental. Desse modo, Negri se propõe a construir uma metodologia própria para análise gráfica das vinhetas de abertura de telenovelas.

Conforme Negri aponta em sua tese, “a vinheta de abertura não é um produto para seu próprio fim, mas com a função bem determinada de delimitar o espaço que distingue a telenovela do restante da programação” (2017, p.  22). Entretanto, o esforço da pesquisa não é o de recriar ou entender o contexto temporal de criação/inserção da vinheta – aqui, o observável é compreendido como sendo atemporal (cronologicamente). Para isso, a partir de Walter Benjamin, é adotada uma flânerie por conta deste movimento encontrar-se mais receptivo às eventuais nuances ao longo do percurso. Somado ao viés cartográfico, o flâneur passa a perceber de modo mais apurado o que antes não estava evidente no trajeto percorrido.

Para a pesquisa foi preciso realizar um recorte no objeto em função do grande número de vinhetas de abertura de telenovelas. Entretanto, das trinta e duas vinhetas resultantes deste recorte para a análise, cinco delas se perderam, não havendo registro audiovisual: Rosa Rebelde, Véu de Noiva, O Homem que Deve Morrer, O Semideus e Fogo Sobre a Terra. Sendo assim, a escolha pelas vinhetas para a análise se deu tomando como base todas as telenovelas da Rede Globo (da década de 1965 a 2015), na faixa do horário nobre (20h e 21h, conforme o período histórico) e que tivessem 200 ou mais capítulos – o que totaliza um corpus de análise com vinte e sete vinhetas.

Por conta da tese apresentar uma reflexão de cunho cartográfico de modo que se diferencia do formato habitual dos textos acadêmicos, Negri optou pela alternância entre os elementos históricos, teóricos e empíricos que se encontravam no entorno do objeto empírico. Isso se dá pela compreensão de que as teorias podem remeter a reflexões empíricas, podendo assim estarem atreladas à história das mídias. Deste modo, a proposta de Negri é uma tentativa de estabelecer relações entre estes elementos (história-teoria-empiria) para, assim, vir à tona as características das vinhetas de abertura de telenovelas. Isso permite que a construção da pesquisa contemple tanto as experiências pessoais do pesquisador, quanto a intuição, sendo estas consideradas ao longo do percurso cartográfico proposto.

Inspirado nas reflexões de Rosário e Aguiar (2012), Negri aponta que a proposta metodológica desenhada ao longo da pesquisa compreende que cada objeto possui suas particularidades e que, por conta disso, necessitam ter um percurso próprio, sem enquadrá-lo e limitá-lo a partir de um “molde” pronto. A cartografia, portanto, é um trajeto que precisa ser experimentado. Ou seja: as teorias operam como tendências e não leis; o método é o caminho que vai sendo construído na medida que nos deslocamos; a processualidade não deve ser ignorada, levando em conta o contexto histórico e social.

Com uma pesquisa de cunho quanti-qualitativa, a cartografia tornou possível identificar o que é próprio das vinhetas de abertura de telenovelas, em uma relação que se complexifica entre a técnica e a cultura, onde Negri irá propor os seis elementos cartográficos das vinhetas. São elementos que evidenciam as características formativas de seu objeto de análise e, ao mesmo tempo, podem dar a ver o percurso histórico das vinhetas de abertura de telenovelas – na representação gráfica.

É importante destacar, conforme Negri registra em sua tese, o movimento inicial ainda no seu texto de qualificação: utilizando vinhetas de cada década, como Irmãos Coragem (1970), Roque Santeiro (1985), A Indomada (1997), O Clone (2001), Passione (2010), a aplicação de sua proposta metodológica (que ele chama de pesquisa-piloto) apresentou falhas em seu processo, proporcionando ajustes que foram considerados para a aplicação final na tese.

Para a construção dos seis elementos cartográficos de análise das vinhetas, teve-se como base dois procedimentos metodológicos: as categorias tonais de Duarte (2004), onde os tons são utilizados em um discurso que irá determinar os efeitos de seu sentido (disposição, textura, atitude, composição, espessura, posição, intensidade, densidade, matiz, tratamento, volume, ritmo, rigidez, andamento); e a taxonomia de créditos de Tietzmann (2007), onde o cinematográfico e o gráfico são apresentados no cruzamento de quatro quadrantes em que ambos vão do forte ao fraco.

Portanto, tendo como base esses dois modelos de análise audiovisual, Negri avança na construção de um modelo mais coerente à análise das vinhetas de abertura de telenovelas, chegando em seus seis elementos cartográficos de composição audiovisual. Aqui, são consideradas as cinco fases de desenvolvimento das vinhetas descritas por Neira (2012), além das inferências a partir da observação das vinhetas realizadas pelo pesquisador. Os seis elementos de composição de Negri são dispostos da seguinte forma:

Trilha da sonora: instrumental, nacional ou internacional;

Formato da vinheta: bidimensional, mista ou tridimensional;

Cortes ao longo da vinheta: curtos (até 2″), longos (mais de 2″) ou plano sequência;

Técnica de produção: live-action, mista ou CGI;

Elenco: protagonistas/antagonistas (live-action ou CGI), outros atores (live-action

ou CGI) ou sem atores; e- Saturação: monocromática, mista ou colorida.

Tais elementos de composição, buscam traduzir uma tentativa de organizar as vinhetas de modo que estas possam dar a ver as características que as fazem vinhetas de abertura de telenovelas. Além dos dois procedimentos já citados (categorias tonais e taxonomia de créditos), Negri também recorreu ao desenvolvimento teórico e seu levantamento de dados realizados ao longo da pesquisa.

É a partir das informações coletadas nos quadros das vinhetas de telenovela (individualmente) e do cruzamento dessas informações que se torna possível a construção de um gráfico que sintetiza as características das inúmeras vinhetas que Negri analisa. Isso possibilita ilustrar de modo visual as relações construídas entre os seis elementos de composição audiovisual propostos para que, assim, seja possível analisa-las. Com esse tipo de apresentação gráfica dos dados coletados e observados, é possível separar as informações por categorias, sendo considerado (para o preenchimento dos quadros) as características predominantes.

Para ilustrar o presente texto, trouxemos 1 ou 2 quadros de aplicação dos dados de cada vinheta. Na tese, com essa coleta de dados nos quadros de 7 a 33, Negri conseguiu gerar um desenho gráfico referente a cada um dos seis elementos cartográficos de composição audiovisual das vinhetas de abertura das telenovelas pesquisadas. Para ser possível identificar as vinhetas nos gráficos, utilizaram-se números (de 1 a 27) em ordem cronológica de exibição das telenovelas.

São produzidos seis gráficos para cada um dos elementos cartográficos propostos por Negri, os quais ilustram a aplicação da metodologia, evidenciando, assim, o desenho do percurso de transformações nas vinhetas de cinco décadas. Tomando como exemplo e sintetizando o seu uso, escolhemos o gráfico 8, o qual permite uma visualização gráfica do percurso das vinhetas contendo os seis elementos de composição:

Este gráfico nos permite ter a chance de evidenciar que não existem tendências muito claras na construção das vinhetas ao longo das cinco décadas analisadas, quando sobrepostas. Ainda que o gráfico não aponte para uma tendência geral, é possível perceber que o hibridismo é uma característica fundamental das vinhetas, fazendo com que não sejam permitidos padrões gerais estabelecidos por épocas. Com o decorrer do tempo, tais características podem ser retomadas nos seus mais diferentes tipos de relações, composições e hibridismos.

As características presentes nas vinhetas de abertura de telenovelas que Negri destaca em sua pesquisa são: a trilha da sonora (instrumental, nacional ou internacional), formato da vinheta (bidimensional, mista ou tridimensional), os cortes ao longo da vinheta (curtos, longos ou plano-sequência), a técnica de produção (live-action, mista ou CGI), o elenco (protagonistas/antagonistas, outros atores ou sem atores) e a saturação (monocromática, mista ou colorida), aqui denominados de elementos de composição audiovisuais. Conforme o pesquisador aponta em sua tese, a construção desses elementos de composição das vinhetas foram fundamentais para que as vinhetas fossem transcritas e apresentadas de maneira gráfica.


Referências no texto:

DUARTE, Elizabeth Bastos. Televisão: ensaios metodológicos. Porto Alegre: Sulina, 2004.

NEIRA, Luz García. Abertura de telenovela: evolução histórica e relação com a trama. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/75935462/Abertura-de-Novela-Luz-Garcia-Neira.

ROSÁRIO, Nísia Martins; AGUIAR, Lisiane Machado. Pluralidade metodológica: a cartografia aplicada às pesquisas de audiovisual. Revista Comunicación, n. 10, Vol. 1, año 2012, pp. 1262-1275. Disponível em: www.revistacomunicacion.org/pdf/n10/mesa8/098.Pluralidade_metodologica-a_cartografia_aplicada_as_pesquisas_de_audiovisual.pdf.

TIETZMANN, Roberto. Uma proposta de taxonomia de créditos de abertura cinematográficos. InfoDesign. Revista Brasileira de Design da Informação 4 – 1, 2007 (a), pp. 29-35. Disponível em: http://infodesign.emnuvens.com.br/public/journals/1/No.1Vol.4-2007/ID_v4_n1_2007_29_35_Tietzmann.pdf?download=1.

_____. Uma proposta de classificação para créditos de abertura cinematográficos. Trabalho apresentado ao GT Comunicação Audiovisual do Intercom 2007 (b), XXX Congresso brasileiro de ciências da comunicação. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R0710-1.pdf.

Texto: Camila de Ávila

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