No dia 18/11/2020, na XVIII Semana da Imagem, o cineasta e pesquisador Lucas Bambozzi esteve presente com a apresentação “Do invisível ao redor: arte e espaço informacional”, que
analisou as transformações recentes da noção de “lugar” diante da emergência dos espaços informacionais, em sociedades permeadas por conectividade, fluxos distintos de comunicação e redes tecnológicas. A pesquisa parte da observação das novas especificidades de um espaço arquitetônico que inclui cada vez mais aspectos imateriais em sua constituição, como campos de radiofrequência (RF) e ondas eletromagnéticas (EMF) gerados por celulares, redes wi-fi, transmissões de TV, satélites e telefones sem fio. Tal contexto é tema ou objeto de discussão de uma arte em constante atrito com elementos da comunicação, em relações que se intensificaram notavelmente nos últimos 30 anos. Trata-se de apontar formas e recursos que permitam fazer ver os componentes intrínsecos de espaços que passam a ser considerados pelo que não é visível em sua constituição, a partir de novas camadas e especificidades, fazendo emergir também os aspectos discursivos e políticos envolvidos.
A apresentação é um recorte de sua pesquisa desenvolvida na FAUUSP “Do Invisível ao Redor: Arte e Espaço Informacional (O Lugar Instável)”, que aborda fluxos de informações e campos eletromagnéticos em espaço públicos. As questões principais que permeiam sua fala são: uma evolução dos sistemas técnicos de produção de imagens permitiria fazer com que esses sistemas potencializassem as imagens produzidas pelo nosso aparelho sensório? Ou, de forma ainda mais arriscada: as imagens podem se consolidar no que imaginamos? Através de exemplos (como obras de Moholy-Nagy, Nam June Paik, Robert Morris, Stan Vanderbeek, entre outros), Bambozzi busca discernir o que é tido como material e o que é atribuído como imaterial, como forma de entender o que está em jogo – e sim, muito importante: não naturalizado.
Em um segundo momento, aborda a questão da arte locativa, que modifica o espaço público e pode estruturá-lo de forma tão potente como a arquitetura construída fisicamente – aqui se exploram as possibilidades que surgem entre redes móveis e espaço urbano. Enxergar esse invisível (que é também o locus da política), é entender do que é de fato constituído um lugar ou espaço.
Assim, o lugar, do “locativo” que nos interessa, não é um slogan do tipo anytime, anywhere, everywhere. Mas sim uma ideia que resulta de uma aproximação com práticas muito potentes no campo da arte, com questões que envolvem os espaços físicos e suas especificidades, tensões e conflitos. Pode ser uma aproximação arriscada equacionar trabalhos amplamente celebrados no circuito da arte com estes que surgem e que sequer são considerados arte pelos circuitos mais estabelecidos. Somente o tempo nos permitirá descobrir como colocar lado a lado, num mesmo campo de práticas, a fisicalidade de algumas obras com a total imaterialidade de outras. Caberia a essa arte locativa, desgarrada e de lastros frouxos, a busca e o risco de alguma afiliação a partir do que se produziu sob a ideia de site specific, de site funcional. Nos resta indagar que tipo de obras ainda surgirão nesse novo e movediço “lugar” que toma forma no mundo.
(BAMBOZZI, 2010, p. 120).
Após a apresentação, Bambozzi respondeu a questões relativas a preservação de obras de artemídia devido a questão de obsolescência tecnológica, sobre as experiências coletivas como uma preocupação consciente e presente na arte locativa nos dias atuais, na ideia de embodiment na constituição dessas imagens, entre outras.
Sobre Lucas Bambozzi
Artista e pesquisador, é Doutor pela FAUUSP na área de Arquitetura e Urbanismo (2019) e mestre em Filosofia pela School of Computing, University of Plymouth, Reino Unido, (2006). Trabalha com vídeo, instalação, performances audiovisuais e projetos interativos que exploram questões do universo dos dispositivos de registro e manipulação de imagem. Foi um dos criadores do arte.mov, Festival de Arte em Mídias Móveis e do projeto Labmovel (menção honrosa no Ars Electronica 2013). Por meio de contínua experimentação com diversas linguagens, em suas obras são retratados os paradoxos e antagonismos do cotidiano da vida particular no contexto urbano, muitas vezes propiciando um tipo de poesia audiovisual do ordinário.
A gravação da palestra está disponível no YouTube e Facebook.
Leia também a entrevista que fizemos com o artista: https://tecnoculturaaudiovisual.com.br/do-invisivel-ao-redor-arte-e-espaco-informacional-entrevista-com-lucas-bambozzi/
A 18a Semana da Imagem na Comunicação segue até o dia 19 de novembro de 2020 e contará ainda com a presença da Ma. Ines Aisengart Menezes. Acompanhe as palestras via página do Facebook ou YouTube do TCAv, das 17h às 19h.
Fonte:
BAMBOZZI, Lucas. Aproximações arriscadas entre Site-Specific e artes locativas. In: Comunicação e Mobilidade. Bahia. Ed.Ufba, 2010.
Autora: Aline Corso
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.