Audiovisualidades na Pandemia – Fantaspoa At Home: Pandemia e o cinema em casa

Nossa relação com os meios digitais vem tomando proporções cada vez maiores nas últimas décadas. Hoje, em meio à pandemia causada pelo Coronavírus, essa relação nos toca conforme nossas possibilidades de acessos à esse mundo, não somente como usuários, mas como produtores de materiais visuais. Atento à esse contexto atual e à necessidade de incentivar a produção de materiais audiovisuais, o Festival Fantaspoa 2020 criou a edição Festival Fantaspoa At Home, incentivando a produção cinematográfica durante a quarentena assim como a visualização destes trabalhos e a escolha dos melhores curtas metragens por meio de votação online. Antologia da Pandemia (2020) – Horror, Fantasia, Ficção Científica – reúne os 13 curta metragens mais criativos produzidos para o concurso e estará disponível nos dias 31 de julho e 01, 02 de agosto no streaming da Darkflix.

Fonte: Youtube

Além disso, devido ao contexto atual, o XVI Festival Fantaspoa terá sua programação totalmente online e gratuita, viabilizada pela plataforma brasileira Darkflix, de 24 de julho a 02 de agosto. Além dos curtas e longa metragens disponibilizados na plataforma Darkflix, a programação terá lives com a participação de cineastas, palestras e masterclasses por meio do canal do Fantaspoa no Youtube.

Convém lembrar a importância da realização do festival e do incentivo às produções audiovisuais respeitando o distanciamento social. Mas, além de considerar que a mudança do Festival para o formato virtual seja próprio para o momento, ela dá a ver as mudanças que vem ocorrendo com as produções audiovisuais, estas há algum tempo sendo exibidas também nas plataformas streaming.

As imagens apreendidas através destas produções partem de uma apreensão de técnicas e de imaginários próprios do momento. Consideramos, nesse caso, não somente o material audiovisual e o acesso a ele, mas as possibilidades de produção de materiais audiovisuais experimentais e sua distribuição nos meios digitais. Neste ambiente que é tecnológico, segundo as pesquisadoras do TCAv Suzana Kilpp e Sonia Montaño (2015, p.13-14) “cria-se, faz-se circular, usa-se e apropria-se de construtos audiovisuais como modos singulares de expressão e significação da experiência do mundo”. Neste sentido, podemos refletir sobre o quanto somos acometidos por imagens técnicas que povoam as mídias digitais e o quanto delas somos responsáveis – o quanto elas alimentam e são alimentadas pelos contextos socioculturais da época. E, a partir disso, como estas narrativas fantásticas serão vistas através deste prisma e deste contexto pandêmico?

Fonte: Youtube

Isto reflete nosso contexto atual, mas também é um indício sobre como as tecnologias estão relacionadas à cultura, principalmente a partir da possibilidade de produzir audiovisuais em casa. Nesse caso, podemos esperar que outras produções sejam realizadas a partir das linguagens, experiências e formatos de distribuição que estão sendo repensados neste isolamento. Mas para além disso, podemos refletir sobre o uso de dispositivos técnicos na produção e distribuição – não somente como produto do e para o festival, mas que ofertem novos sentidos a partir de uma visada tecnocultural. Esta visada pode ser estabelecida “na relação de pensar culturalmente as tecnologias e entender as propriedades tecnológicas em ação na cultura” organizadas em uma “reflexão que permite perceber os contágios entre diferentes temporalidades” (FISCHER, 2013).

Como exemplo podemos citar outras produções cinematográficas, consideradas produções experimentais ou independentes do cinema fantástico ou de horror, que inovaram na linguagem. Tem-se audiovisuais de estilo Found Footage por exemplo – narrativas onde fragmentos de um acontecimento fantástico, gravados muitas vezes por uma câmera amadora, indicam a morte ou desaparecimento dos envolvidos. Este estilo é muito utilizado em narrativas de horror ou ficção científica e possibilita produções de baixo orçamento, pois o material aparenta ter sido produzido por amadores e suas câmeras amadoras. A câmera diegética no filme, para a pesquisadora Ana Maria Acker (2018), dá a ver a materialidade cinematográfica na tela. A partir dessa constatação, a autora problematiza o dispositivo do olhar segundo estes filmes, voltada a entender a relação deste fenômeno entre espectador e cinema e as tecnologias na contemporaneidade. Um dos filmes trazidos como exemplo pela pesquisadora e que popularizou o estilo Found Footage foi Bruxa de Blair de 1999.

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Da mesma forma que o filme Bruxa de Blair, conhecido também pela produção de baixo orçamento e pela equipe reduzida – mas que devido à inovação na linguagem, a tecnologia e as jogadas de marketing através da internet, conquistaram um grande público – outras produções independentes foram experimentadas. Hoje, cada vez mais filmes são produzidos, distribuídos e consumidos, e o interessante é justamente estas possibilidades de produções e distribuições, onde o cinema se atualiza de diferentes formas, e onde é possível perceber sua duração – técnicas e estéticas, em um ambiente também digital, como no caso do curta (abaixo), selecionado para fazer parte do longa metragem Antologia da Pandemia 2020.

Fonte: Youtube

Quais serão os imaginários tecnoculturais percebidos nestes materiais audiovisuais produzidos a partir das experiências proporcionadas pela pandemia? O que eles dizem sobre o audiovisual, quando a situação é enfrentada de forma diferente por cada realizador e espectador – confrontados por seus medos a partir do contexto, imagens técnicas e narrativas proporcionadas pela produção, distribuição e consumo de narrativas fantásticas a partir de novos (?) olhares?


Texto: Flóra Simon da Silva

REFERÊNCIAS

ACKER, Ana Maria. O dispositivo do olhar no cinema de horror Found Footage. Tese de Doutorado em Comunicação e Informação – Programa de Pós Graduação em Comunicação e Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.

FISCHER, Gustavo Daudt. Tecnocultura: aproximações conceituais e pistas para pensar as audiovisualidades. In: KILPP, Suzana; FISCHER, Gustavo Daudt (Orgs.). Para entender as imagens: como ver o que nos olha? Porto Alegre: Entremeios, 2013. p. 41-54.

KILPP, Suzana. MONTAÑO, Sonia. Tecnocultura audiovisual: temas, metodologias e questões de pesquisa. Porto Alegre: Sulina, 2015.

https://www.fantaspoaathome.com/online-festival

https://www.fantaspoa.com/2020/

https://darkflix.com.br

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