Entre os meses de agosto e setembro, professores, pesquisadores, artistas e estudantes que integram o Grupo de Pesquisa Semiótica e Culturas da Comunicação (GPESC), em parceria com o Campus Alvorada do Instituto Federal de Educação do RS e o Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (PPGCOM – UAM) promoveram cinco encontros gratuitos com discussões teóricas, artísticas e performáticas – o Ciclo de Palestras A(na)rqueologias Pandêmikas.
“Provocados pelas estéticas e problemáticas impostas pela pandemia do novo coronavírus (…) as palestras, ministradas pelos integrantes do grupo, abordaram um olhar crítico na elaboração de discussões teóricas, artísticas e performáticas sobre o estado da arte da produção de sentidos nos meios expressivo de comunicação em tempos de aquecimento global, ameaças à democracia, aceleracionismo e crise iminente do capitalismo financeiro”.
Os encontros foram divididos em 5 mesas temáticas, e os debates já estão disponíveis no YouTube:
20/08: Em busca de futuros perdidos
– João Flores da Cunha – Afetos políticos e futuros impossíveis no Brasil pandêmico
– Mario Arruda – Techno BR 2020: niilismo e auto intoxicação sônica
– Taís Severo – Memórias do isolamento: dissociação e despersonalização como vetores da disforia de gênero
27/08: Transversais cotidianas
– Jamer Guterres de Mello – Anarcogospel, correria e vagabundagem: notas sobre estéticas do cotidiano e cultura pop
– Cássio de Borba Lucas – A semiose vem em ondas como o mar
– Giovana Colling – “tudo bem mas sei lá”
03/09: Por uma ecologia das imagens-mundo
– Lennon Macedo – Olho pela janela e vejo
– Guilherme da Luz – Cinema indígena (?): prolegômenos a uma imagem-aliança
– Suzi Pedroni – Uma Bússola de índices sobre a ficção da realidade
10/09: Desnormatizações em movimentos anarqueológicos
– Demétrio Rocha Pereira – Uma tarde desvia
– Marcelo B. Conter e Juliana Kolmar – Band in a Girl: timbragem, afetos e feminismo no rock independente brasileiro
– Luiza Müller – Notas sobre feminismo, solidariedade e branquitude
17/09: Ficções do isolamento ou o isolamento como ficção
– André Araujo – O Bruxo de Morungava: arqueologia especulativa de uma assombração cinematográfica
– Camila Proto – Microerosões: processos de ruptura e afeto
– Luis Abreu – Pode ser que seja só o iFood lá fora
Aproximações e Reflexões
Os discentes do TCAv Aline Corso, Camila de Ávila e Leonardo Andrada de Mello participaram do evento como ouvintes e tecem alguns comentários e reflexões:
Aline Corso: “O que mais chamou a atenção no evento foi o seu caráter antiacadêmico, permeado, claramente, por influência de Flusser, McLuhan e Benjamin. As falas, com estruturas ora poéticas, ora técnicas, me levaram a divagar, celeremente, sobre os conteúdos abordados. Precisei de tempo para digerir a quantidade (e qualidade) de informações que foram trazidas. Ao fim, percebi que a proposta aflorava justamente os (muitos) significados dessa pandemia, provocando a refletir, principalmente, sobre o(s) indivíduo(s), o lugar, o tempo e, é claro, as imagens”.
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Camila de Ávila: “Mais do que nunca, as imagens nos invadem a todo momento – uma espécie de recepção acelerada dessas imagens. Um destaque que faço deste ciclo de palestras e que me fez refletir bastante, especialmente a fala do Lennon Macedo (“Olho pela janela e vejo”) e que dialoga, de certo modo, com o texto produzido pela Aline e por mim na série “Audiovisualidades na Pandemia”: podemos dizer que vemos o mundo através de janelas ou de montagens, em um estágio onde cada vez mais habitamos telas (ou janelas) e esquecemos de prestar atenção nos intervalos. Parece que somos invadidos por uma saturação de imagens, telas, janelas, uma espécie de pandemia imagética. Poderíamos especular a que janela nos referimos ou qual janela estamos olhando – qual paisagem emolduramos, podendo esta ser o próprio silêncio. Vivemos o mundo através de mediações. O cenário pandêmico suscita muitas reflexões na forma como consumimos o audiovisual, narrativas, imagens, espaços, do mesmo modo sobre como estes nos invadem (também somos imagens). São reflexões que me remete, de forma breve, a ideia de mediascape que Canevacci traz em seus escritos: ‘tudo aquilo que parecia emoldurável numa visão cultural homogênea e unitária se desemoldura. Nada é compreensível nem experimentável sem a comunicação midiática, particularmente da pós-mídia personalizada e não-homologatória. Um mediascape não tem mais contextos físicos, materiais, realistas, mas se dissemina – diaspórico – nos fluidos estéticos, metropolitanos, visuais.’”
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Leonardo Andrada de Mello: “A possibilidade de emergir e imergir em e de objetos e produtos comunicacionais, com múltiplos olhares e vieses me pareceu o aspecto mais interessante de todo o seminário. Pensando na própria proposição do nome, uma arqueologia anárquica, estes movimentos de entrada e saída, chegando a própria construção de artefatos comunicacionais, como que escavados das ruínas do momento pandêmico que passamos, ao mesmo tempo em que eram debatidas as articulações teóricas dessa construção, ajuda não só a adentrar na arqueologia das mídias, como também vivencia-la na prática.”
Autoras: Aline Corso e Camila de Ávila
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