Discentes discutem a pandemia imagética em evento organizado pelo curso de Comunicação Digital

No dia 19/08/20 ocorreu o evento “Além das lives: a incorporação do digital nas relações”, organizado pelo curso de Comunicação Digital da Unisinos, que levou para discussão as mudanças ocorridas devido a pandemia do novo coronavírus, desafiando as mais diversas relações.

“Do trabalho remoto e os desafios para manter uma rotina funcional ao distanciamento social e a necessidade por opções de entretenimento 100% digitais, vivências pessoais e profissionais se alteraram profundamente. Muito além das lives, que ganharam notoriedade e sumiram na mesma velocidade, a atual situação trouxe questionamentos e cenários a serem debatido” (UNISINOS, 2020, online).

Além das lives

Em “Balbúrdia Organizada e o Design colaborando nas relações sociais”, Samuel Gomes relatou o projeto desenvolvido na universidade, que aborda conteúdos informativos e questionamentos sobre as práticas de comunicação no meio digital. O objetivo é que as pessoas tenham uma maior independência e autonomia em sua vivência dos meios digitais. O projeto conta também com um podcast.

Fabricio Barili, em “Privacidade e pandemia: os meios de vigilância e controle do estado sobre o cidadão”, discutiu a relação entre Estado, dados e privacidade em um contexto mais amplo, agravado pela pandemia do Covid-19. Em sua fala, lançou um olhar acerca da coleta massiva e acurada de dados no Brasil, como Apps de prevenção do coronavírus e auxílio emergencial.

Já Camila de Ávila e Aline Corso, integrantes do TCAv, foram convidadas a falar sobre “A intimidade doméstica e a pandemia imagética”, após os organizadores do evento lerem a matéria de mesmo título produzida para o site do grupo de pesquisa. As pesquisadoras introduziram sua fala acerca do cenário pandêmico, reforçando que vivemos em um tempo onde a realidade nunca gerou tantas imagens como temos hoje – uma das primeiras limitações que essa condição nos impõe é a restrição do contato físico, nos tornando cada vez mais mediados pela tecnologia.

As videochamadas e lives são indiscutivelmente um dos fenômenos da quarentena e tornam-se “palco” para contato com os outros – estamos vivendo um tempo em que a realidade nunca gerou tantas imagens. E, nessas imagens, compartilhamos o nosso espaço, a nossa intimidade – uma espécie de mergulho “forçado” que exige reinvenção na nossa maneira de lidar com os dispositivos que nos cercam bem como uma adaptação do nosso espaço doméstico.

Além de consumirmos muitas imagens, nós também somos transformados em imagens que estão se comunicando através das telas. Conforme aponta Giselle Beiguelman, no artigo “Minha Casa, Meu Cenário”, seria possível uma breve etnografia da imagem da intimidade brasileira da atualidade observando o que se passa nas telas, nessas bordas do que ela vai chamar de “coronavida” – são ambientes domésticos que até então nos eram inacessíveis, como o de jornalistas, médicos, economistas, entre inúmeros outros profissionais – nos chamando atenção também para o cenário composto atrás da pessoa que está ali nos comunicando algo. É interessante observar as diferentes montagens imagéticas, de cenário, geralmente uma representação do self, pautada pelos nossos gostos nessas transmissões domésticas.

Nessa experiência temos o acesso à intimidade do outro meio da imagem. Ou seja, estamos também em uma condição de voyeur, de estarmos espiando, observando o outro, o qual se constitui através do nosso olhar (um outro que sabe que também está sendo observado). É como se essa janela, essa tela que está na nossa frente, nos dá permissão de ver o que está sendo mostrado – e que, de algum modo, passa a sensação de que podemos controlar tudo o que está acontecendo ali (como o que o outro fala ou faz), através dessas imagens que estamos interagindo.

Não nos tornamos apenas observadores vigilantes (o voyeur), mas também somos, ao mesmo tempo, observados. Carregamos um olhar curioso, então temos uma especularidade já esperada e aceita pelos dois lados, tendo assim uma “permissão” para entrar na intimidade daquele universo que está posto na nossa frente – mesmo que seja uma imagem.

Por estarmos atravessando uma espécie de saturação tanto de telas quanto de imagens, dos seus mais diferentes formatos e tipos de mídias que nos acompanham em nossa rotina, de algum modo nós também a somos e não apenas aquilo que vemos.

As pesquisadoras finalizam sua fala lançando algumas provocações: o que essa imagem representa nos dias de hoje? é possível problematizamos a imagem em função do seu dispositivo? de que imagem estamos falando? qual imagem desejamos exibir aos outros?

Autoras: Aline Corso e Camila de Ávila

Fontes:

http://www.unisinos.br/lab/EX920254-00001/1172/alem-das-lives-a-incorporacao-do-digital-nas-relacoes

www.instagram.com/balburdiaorganizada

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