Memória da mídia na tecnocultura – preservação e apagamento

Uma das questões abordadas na Cátedra Intercom, realizada no dia 16 de junho desse ano foi a carência de uma política de memória das audiovisualidades. Quem debateu a questão foi o Prof.Dr. Bruno Leal, da UFMG, que durante a fala se disse em certa medida agradecido a plataformas como o Youtube, pois estas plataformas possibilitam o acesso a diversos materiais que trazem a memória de nossas audiovisualidades.

“É frustrante não termos um acervo memorial da televisão brasileira, de arquivos de televisualidades, de produtos audiovisuais no Brasil: a ausência de uma política de memória. Acabamos ficando reféns de acervos pessoais, do YouTube etc.”

Prof. Dr. Bruno Leal – UFMG

Apesar do agradecimento do professor, diversas questões, ligadas as materialidades dos acervos destas plataformas, nos escapam. Da mesma forma como é possível preservar e acessar a memória a partir destes espaços técnicos, os mesmos são voláteis e passíveis de apagamento, ainda mais quando determinadas questões tem atravessamentos legais, envolvendo figuras públicas, como no caso noticiado pelo site G1 sobre sites que apagaram centenas de vídeos, ação que, segundo o Prof.Dr. Pablo Ortellado da USP, “comprometem o próprio regime democrático”.

“A gente tem percebido que entre maio e junho acelerou um processo de vídeos deletados, ou que sumiram das contas de 81 canais que estão alinhados com o bolsonarismo no YouTube Brasil. Coincidência ou não, nesse período de aceleração dos vídeos desaparecidos, você tem um inquérito de fake news instaurado pelo STF”

Guilherme Felitti da Novelo Data

O apagamento destes vídeos podem ser reflexo de uma cultura visual efêmera e instantânea que possui implicações estéticas, como os stories do Instagram, mas também implicações políticas, como na produção e compartilhamento de fake news. Essa cultura de distintas temporalidades pode ser apropriada das mais diversas formas na tecnocultura.

O problema apontado então pelo Prof. Bruno Leal pode, pelo menos em parte, ser minimizado de algumas formas, desde sites dedicados a preservação da memória da internet, como Internet Archive, ou por experimentos como os realizados pelo Labmen, coordenado pelo Prof.Dr. Gustavo Fisher, aqui da Unisinos. Para pensar estratégias de preservação da memória da mídia algumas questões são fundamentais: como pensar este contágio entre tecnologia e cultura? Quais as suas dimensões técnicas? Como o agir arqueológico pode ajudar a compreender os rastros deixados por estes construtos audiovisuais?


Texto: Leonardo Andrada de Mello

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